Tese de reflação nos EUA ganha força com pacote fiscal de US$ 1,9 trilhão: confira os impactos para o mercado

Cenário de migração de papéis de techs para ações de valor ganha força novamente com pacote trilionário para a economia americana

Ricardo Bomfim

Bandeira dos Estados Unidos

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SÃO PAULO – O noticiário conturbado da política nacional tem abalado o Ibovespa nas últimas semanas, mas o mercado brasileiro também é impactado com as notícias no exterior. O destaque fica para os Estados Unidos, principalmente em meio à expectativa de aumento da inflação por lá.

Nos Estados Unidos o movimento ganhou força com o avanço no Congresso da maior economia do mundo do pacote fiscal de US$ 1,9 trilhão. As perspectivas de mais despesas do governo e de crescimento econômico mais rápido têm gerado uma elevação dos yields (rendimento) dos treasuries (títulos do Tesouro dos EUA) de dez anos a máximas em um ano nesta semana.

Isso por conta das perspectivas de um aumento da inflação no país. No caso específico, de um fenômeno caracterizado por reflação, que é uma inflação característica de um período de reativação econômica, pós-recessão, no qual ocorre um aumento da demanda.

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Como efeito desse movimento, juros de longo prazo mais altos podem fazer com que investidores migrem do mercado de ações para o de títulos do Tesouro, considerados um investimento seguro por ser garantido pelo governo, que tem poder de criar impostos para cobrir gastos, se necessário.

Além disso, tendem a afetar especificamente o setor de tecnologia, que possuem fluxos de caixa mais longos e são mais impactadas pelo aumento nas taxas de juros de longo prazo, para ações de empresas em setores mais tradicionais, que são mais expostas ao ciclo econômico e, portanto, ganham mais com o reaquecimento da economia. Isso pode ser percebido pelo desempenho dos índices americanos desde a semana passada até o início dessa.

Na última semana, o Nasdaq fechou com queda de 2,06%, enquanto o Dow Jones em alta de 1,82%. Já na última segunda-feira (8), o Dow Jones teve alta de 0,97%, para 31.802,44 pontos, enquanto o Nasdaq caiu 2,41%, para 12.609,16 pontos, recuperando-se posteriormente na sessão seguinte.

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“Isso é ruim para as ações de tecnologia e bom para as de ‘valor’. Tecnologia tem duration longa e acaba medindo o quanto um ativo é sensível à taxa de juros. Essas empresas são vistas como de muito crescimento independente do cenário econômico, então grande parte do fluxo de caixa delas está na perpetuidade, de modo que acabam sofrendo mais com uma alta da taxa de juros longa”, destacou Roberto Attuch, CEO da plataforma de análises independentes Ohmresearch em áudio no grupo de notícias em tempo real do Telegram do InfoMoney.

Attuch define o juro subindo como a ‘criptonita’ para as ações de tecnologia, enquanto as ações de “valor” têm mais correlação com o ciclo econômico, indo bem quando a economia vai bem e mal quando a economia vai mal.

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Mas quais são os efeitos imediatos para o Brasil? Para o especialista, o maior efeito é a valorização do dólar na cesta de moedas internacionais, potencializando ainda o movimento que já era acentuado em meio ao cenário fiscal complexo no país.

Isso além do noticiário político conturbado das últimas semanas com a intervenção estatal na Petrobras e, mais recentemente, com a anulação das condenações do ex-presidente Lula pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, na Operação Lava-Jato. Na sessão desta terça-feira, o dólar comercial chegou a uma máxima de R$ 5,87; já nesta quarta, o dólar opera a R$ 5,74.

Neste cenário, as ações brasileiras que se beneficiariam seriam as exportadoras, que ganham com o dólar se apreciando e as commodities em alta, avalia.

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Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.