Mesmo quem não acompanha a economia ou o mercado financeiro sabe que o dólar é a moeda mais conhecida e uma das mais importantes do mundo. E não é para menos, afinal quase tudo o que consumimos é diretamente impactado por suas variações.

O que algumas pessoas desconhecem é que existem diferentes tipos de dólar, cada um adequado a um contexto comercial ou financeiro próprio.

Por exemplo, se você já planejou uma viagem para o exterior e viu a cotação do dólar na televisão pode ter estranhado o preço da moeda quando chegou na agência de viagem para fechar o seu pacote. Isso aconteceu porque o valor que lhe informaram era maior do que o do noticiário de economia de poucas horas atrás. Ou a alta do dólar elevou o preço dos combustíveis ou de produtos eletrônicos comprados na internet.

Veja, portanto, como o dólar pode influenciar tanto as nossas vidas!

Mas, de onde vem toda essa relevância? Por que existem tipos de dólares diferentes? O que acontece quando o dólar sobe ou desce?

Se você também tem dúvidas como essas, continue a leitura a seguir e saiba mais sobre a moeda norte-americana!

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Por que o dólar se tornou a moeda mais importante do mundo?

Até o início do século XX, a Inglaterra era a principal potência econômica mundial. Dessa forma, a libra esterlina foi, por muito tempo, a moeda mais forte, utilizada como reserva monetária na maioria das transações financeiras e comerciais entre os países.

Naquela época, os bancos centrais europeus tinham grandes reservas de ouro que serviam para garantir a paridade de suas moedas com o metal. Ou seja, quem tivesse uma libra esterlina, um franco ou outra moeda da região poderia convertê-la em alguns gramas de ouro, e isso mantinha a estabilidade e segurança do sistema monetário mundial, que ficou conhecido como padrão ouro.

No entanto, isso começou a mudar a partir das duas grandes guerras mundiais, pois, em períodos de conflitos, os gastos militares dos países se tornam muito grandes. Com a necessidade de investir em aparatos de guerra, a necessidade de emissão de moeda passa a ser bem maior do que o lastro em ouro disponível.

Por ter enfrentado dois grandes conflitos em um espaço relativamente curto de tempo, a Europa teve sua economia totalmente arrasada. Para agravar a situação, a pesada emissão de moeda sem lastro provocou um surto inflacionário sem precedentes no continente europeu, o que retardou ainda mais a sua recuperação econômica.

Enquanto isso, os EUA despontavam como nova potência mundial, inclusive fornecendo armamento e itens essenciais para o Velho Mundo, que já não tinha mais atividade industrial. Com o término da Segunda Guerra Mundial, finalmente os Estados Unidos consolidaram a liderança econômica mundial.

Assim, a partir do Plano Marshall, que visava recuperar a Europa e afastar a influência soviética do continente, os bancos norte-americanos se tornaram os grandes credores da região.

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Ao contrário das moedas europeias, o dólar era a única que ainda se mantinha fixada ao ouro, o que, teoricamente, a tornava mais estável e segura. Além disso, as transações comerciais que se desenvolveram ao longo dos anos com os países europeus fizeram com que os EUA aumentassem expressivamente as suas reservas do metal.

Assim, o dólar foi se fortalecendo cada vez mais, até desbancar a libra esterlina e se tornar a moeda de referência mundial.

Em 1944, as maiores economias do mundo reuniram-se para firmar o acordo de Bretton Woods, no qual o valor de todas as moedas seriam fixadas no dólar. Por sua vez, a moeda norte-americana seria a única que adotaria o padrão ouro, devido à grande quantidade de reservas do metal e da relevância mundial que o dólar havia alcançado.

Isso durou até 1971, quando o então presidente Richard Nixon acabou com o lastro do metal em virtude de uma forte crise econômica que assolou o país durante a sua gestão.

No entanto, mesmo desvinculado do ouro, o dólar permanece até hoje a principal moeda das transações financeiras e comerciais do mundo todo.

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Quais os principais tipos de dólar?

Para cada situação, seja ela uma transação comercial entre empresas, uma negociação de commodities na bolsa, ou mesmo uma viagem internacional, existe um dólar específico. No mercado de câmbio, costuma-se utilizar seis denominações distintas para a moeda, conforme você verá a seguir.

Dólar à vista

Basicamente, quando falamos em dólar à vista, estamos nos referindo à moeda utilizada por empresas que estão fechando uma negociação entre si. Normalmente, o negócio é fechado por algum canal como internet ou mesmo telefone, e a transação é registrada na bolsa de valores pelo valor da moeda corrente no momento.

Dólar comercial

Já o dólar comercial é o utilizado por empresas exportadoras e importadoras, pelo governo quando manda ou recebe dinheiro do exterior, e por brasileiro que moram no exterior e precisam realizar algum empréstimo em uma instituição financeira brasileira. Pela sua abrangência e volume de movimentação, esse tipo de dólar tem grande relevância para a economia.

Normalmente, a cotação do dólar comercial é definida pelo próprio mercado. No entanto, dependendo da situação e para conter altas ou quedas bruscas da moeda, o Banco Central pode utilizar alguns mecanismos para manter equilibrada a cotação da moeda, como o leilão de dólares ou o swap cambial.

Dólar turismo

Já o dólar turismo é o mais conhecido pelo público em geral, pois é ele que encontramos nas casas de câmbio e que serve como referência para o preço das passagens e pacotes turísticos no exterior.

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Por exemplo, se você estiver nos EUA e pagar seus gastos com cartão de crédito, esses valores serão convertidos em reais no vencimento de sua fatura de acordo com a cotação do dólar turismo.

Por que dólar comercial e dólar turismo são diferentes?

Quem já comprou dólares para viajar, sabe que o dólar turismo é mais caro do que o dólar comercial. Uma das razões para isso é o fato de que esse último movimenta volumes maiores, pois ele é utilizado por governos, empresas e instituições financeiras.

Por outro lado, quem utiliza o dólar turismo são pessoas físicas e, por isso, essas transações atingem volumes bem menores. Dessa forma, os custos administrativos se diluem menos, e isso encarece o dólar turismo frente ao dólar comercial.

Além disso, há custos com logística, transporte e segurança da moeda física, o que também é reconhecido na formação do preço do dólar turismo.

Lembrando que o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) que incide sobre transações internacionais também impacta na cotação da moeda. Nesse sentido, a alíquota do tributo dependerá do tipo de operação, conforme segue:

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  • Moeda em espécie: IOF de 1,1% sobre o total negociado;
  • cartão de crédito: IOF de 6,38% sobre o valor de cada gasto;
  • cartão pré-pago: IOF de 6,38% sobre cada carga realizada;
  • transferências internacionais: IOF de 1,1% para transferência de mesma titularidade e de 0,38% no caso de titularidades diferentes.

Por fim, as instituições financeiras cobram para realizar os serviços de câmbio, e isso também deve ser computado no custo da moeda.

Dólar futuro

Quando olhamos para o mercado financeiro, surge um novo dólar: o futuro. Na verdade, o dólar futuro não é propriamente uma moeda, e sim um contrato de compra ou venda de dólar para um prazo futuro.

Nesse tipo de operação, a taxa futura do dólar é definida com antecedência, e pode ser feita tanto para a proteção de determinada negociação comercial quanto para fins de especulação por parte de investidores.

Por exemplo, digamos que uma empresa brasileira fechou contrato com um fabricante estrangeiro para a compra de uma máquina. Parte do valor do bem foi pago na assinatura do contrato de compra, e o restante será liquidado daqui a alguns meses, quando o fabricante entregar a máquina.

Para se proteger contra uma eventual disparada do dólar (o que poderia prejudicar o seu caixa no futuro) a compradora pode fechar um contrato de dólar futuro, garantindo o valor que pagará pelo bem.

Dólar PTAX

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Outro dólar, o PTAX, também não é uma moeda, e sim uma taxa de dólar calculada todos os dias pelo Banco Central. Trata-se de uma média das taxas de câmbio praticadas pelas instituições financeiras, que também é utilizada como referência para contratos em reais negociados em bolsas no exterior.

Dólar paralelo

Como o nome sugere, o dólar paralelo é a moeda não oficial negociada no mercado de câmbio. Por isso, não existe uma regulamentação por parte das autoridades monetárias brasileiras em relação a esse tipo de dólar, o que acaba trazendo riscos para a sua negociação.

O dólar paralelo começou a circular mais fortemente no Brasil no início dos anos 90, quando a economia nacional era instável e bastante fragilizada pela alta inflação.

Na ocasião, a moeda paralela era utilizada para proteger o poder de compra do dinheiro, mas, com o tempo, passou a fazer parte também de ilícitos como sonegação fiscal e lavagem de dinheiro, justamente pela ausência de fiscalização.

No Brasil, as operações com dólar paralelo são consideradas ilegais.

Por que as oscilações dos tipos de dólar impactam todo o mercado?

Como vimos, o dólar é a maior referência para transações financeiras e comerciais entre os países desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Por isso, as suas oscilações não impactam somente a economia norte-americana, mas se estende a praticamente tudo o que consumimos no dia a dia.

Mesmo quem não costuma viajar para o exterior ou não consome produtos importados, sente no bolso os efeitos do sobe e desce da moeda.

Por exemplo, os itens básicos de alimentação que compramos no supermercado (commodities como trigo, carne, arroz ou feijão) têm os seus preços dolarizados no mercado internacional.

O mesmo ocorre com os combustíveis, como já citamos, que influenciam tanto o preço da gasolina na bomba quanto o preço de determinados produtos por causa do frete.

Essas variações se refletem diretamente na inflação, ou seja, atingem em cheio o poder de compra da população.

E quais são as causas dessas oscilações no Brasil?

Independentemente do tipo de dólar, existem alguns fatores que mexem significativamente com a moeda, tanto no Brasil quanto em outros países.

Entre eles, destacamos o movimento dos juros e da balança comercial. A seguir, entenda cada um desses aspectos com mais detalhes.

Movimento dos juros

Muitas vezes, quando o governo aumenta os juros, isso acaba sendo um grande atrativo para o capital estrangeiro no país. E o motivo é simples: com taxas mais altas, a renda fixa se torna mais interessante, o que motiva muitos investidores a trazerem as suas reservas.

Logicamente, existem outros fatores que são considerados para se investir em um país, como indicadores econômicos, risco-país, governança, e assim por diante. Mas não há dúvidas de que juros em patamares altos sempre saltam aos olhos do mercado internacional.

É importante entender que essa mesma análise deve ser feita no sentido contrário. Ou seja, quando países mais desenvolvidos aumentam os juros, isso provoca a saída de capital estrangeiro de economias emergentes, em especial quando há instabilidades políticas ou econômicas nesses locais.

Afinal, acaba não fazendo muito sentido correr mais risco quando países de melhor rating remuneram bem o dinheiro e de forma mais segura.

Situação da balança comercial

A balança comercial é basicamente o saldo entre o que um país exporta e importa. Se, em determinado período, as exportações são maiores do que as exportações, o volume de dólares que circula na economia é maior, e isso tende a provocar a queda no preço da moeda.

Por outro lado, quando o oposto acontece, saem mais dólares do que entram, o que torna a moeda mais escassa e, consequentemente, mais cara.

Como investir nos diferentes tipos de dólar?

Existem diferentes formas de investir em dólar, e isso pode ser feito diretamente na moeda ou em ativos que acompanham o seu desempenho. A seguir, confira algumas das mais conhecidas.

Dólar em espécie

Você pode ir a uma casa de câmbio, comprar dólares e vendê-los quando a cotação da moeda estiver mais alta do que quando comprou. Porém, essa é a opção menos interessante para quem deseja investir em dólares, por causa da falta de segurança e dos custos envolvidos na operação.

Em relação aos custos, há dois aspectos que precisam ser observados. O primeiro deles é o fato de que o preço de compra do dólar é sempre mais alto do que o de venda.

Ou seja, você já arranca com uma desvantagem nesse sentido. Além disso, há incidência do IOF na compra do dólar em espécie, o que reduz mais ainda as chances de um possível ganho com a venda da moeda.

Ações de empresas exportadoras

Nesse caso, você não estará investindo diretamente em dólar, mas em empresas que atuam no mercado internacional. Muitas delas têm boa parte da receita (ou até mesmo a totalidade) em dólares, mas normalmente os seus custos são em reais. Dessa forma, quando o dólar sobe, isso se reflete positivamente no valor dessas ações.

Ações de companhias estrangeiras

Para adquirir diretamente ações de empresas estrangeiras, é preciso ter conta em alguma corretora fora do país, e isso envolve burocracia e alguns custos.

Porém, é possível investir nessas empresas diretamente na bolsa de valores brasileira, por meio dos Brazilian Depositary Receipts (BDRs), que são recibos de ações de companhias estrangeiras negociados em reais.

Com os BDRs, dá para ter acesso a gigantes como Apple (AAPL34), Netflix (NFLX34), Microsoft (MSFT34) e várias outras listadas na NYSE e Nasdaq, as duas maiores bolsas de valores do mundo.

Fundos cambiais

Outra forma de dolarizar os investimentos é com os fundos cambiais, que investem, no mínimo, 80% de seu patrimônio em ativos relacionados à moeda.

De tempos para cá, esse tipo de investimento se popularizou, e hoje já existem opções bastante acessíveis – com aportes mínimos na faixa de R$ 500 – e que oferecem as mesmas vantagens de carteiras mais sofisticadas.

Mercado futuro

Como vimos, o mercado futuro de dólar representa o compromisso de negociar a moeda em um prazo futuro com um preço pré-estabelecido.

Ao fazer isso, o investidor consegue tirar proveito das oscilações da moeda – seja para cima ou para baixo – para se proteger dessas variações, ou simplesmente para lucrar com elas.

Para operar contratos futuros, a B3 exige do investidor uma margem de garantia, que funciona como uma espécie de caução.

O valor dessa margem corresponde a um percentual da operação, e serve para que a operadora da bolsa tenha recursos à disposição caso necessite pagar alguma operação, se o investidor ficar inadimplente.

Operar no mercado futuro é algo complexo e, dependendo do caso, envolve riscos elevados. Por isso, é aconselhado para investidores mais experientes e com perfil mais arrojado.