Com a inflação alta dos últimos anos, os juros dos Estados Unidos alcançaram a faixa dos 5,25% aos 5,50% ao ano em julho de 2023, um patamar que não era registrado desde 2001. Nesse contexto, a renda fixa americana se torna uma boa oportunidade para investidores brasileiros que buscam diversificação internacional.

Com juros altos na maior economia do mundo, bonds, treasuries e ETFs (fundos de índices) ligados ao mercado dos EUA podem ser interessantes, tanto para quem ficar com os títulos até o vencimento quanto para quem decidir vendê-los assim que os juros começarem a cair, aproveitando dessa forma os ganhos da marcação a mercado

Considerando a “queda” do brasileiro pela renda fixa, um CD (título bancário semelhante ao CDB) ou uma T-bill (título do governo americano) atualmente juntam tanto a moeda forte em que são denominados, o dólar, quanto uma rentabilidade não vista há mais de 20 anos.

Este guia mostra como funciona a renda fixa americana, quais são as opções disponíveis no mercado e como investir nesses ativos. Portanto, se você também está atento a novas alternativas para diversificar a sua carteira, continue a leitura.

Como funciona a renda fixa nos Estados Unidos?

Seja nos EUA ou em qualquer outro país, a principal característica da renda fixa é a previsibilidade de rendimentos do investimento. Isso significa que quem adquire um título de renda fixa já sabe o tipo de remuneração que terá desde o início da aplicação – se prefixada, pós-fixada ou mista (taxas pré e pós juntas).

Em relação ao grau de risco, a renda fixa americana também se comporta como a brasileira. Por aqui, os títulos mais seguros são os emitidos pelo governo federal e por instituições financeiras com a proteção do FGC (Fundo Garantidor de Crédito)

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Já os papéis emitidos por empresas (como debêntures, CRIs e CRAs, por exemplo), que fazem parte da categoria de crédito privado, possuem mais risco, pois não contam com a garantia do governo ou de um fundo comum que possa ressarcir o investidor caso o emissor venha a ter problemas. Por isso, esses títulos costumam oferecer taxas mais altas, justamente para compensar o maior risco.

A renda fixa americana também segue esse funcionamento. Nos EUA, existem títulos emitidos pelo governo, por instituições financeiras e por empresas privadas que necessitam captar recursos para o financiamento de suas atividades. Mais adiante, você saberá em detalhes como funciona cada um desses investimentos.

O prazo dos títulos também tem relação direta com o risco do investimento. Dessa forma, quanto mais longo for o vencimento, mais risco o título carrega e, por isso, maior tende a ser a taxa oferecida.

O que muda em comparação à renda fixa brasileira?

Uma das diferenças entre a renda fixa americana e a brasileira está na forma de remuneração. Nos Estados Unidos, a maioria dos títulos de renda fixa são prefixados, ou seja, independentemente das oscilações dos juros, se o investidor mantiver o título até o vencimento, receberá a taxa que contratou no início da aplicação.

Já o mercado brasileiro oferece uma grande variedade de títulos pós-fixados, que podem ser atrelados à Selic, ao CDI ou a índices inflacionários, como o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), por exemplo. 

Outra peculiaridade da renda fixa americana é a liquidez do mercado secundário, bem maior do que a do mercado brasileiro. Imagine que você tenha adquirido um CDB prefixado com prazo de cinco anos e possibilidade de resgate somente no vencimento.

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Se você tiver algum imprevisto que o faça precisar antes do dinheiro, terá de recorrer ao mercado secundário para tentar negociá-lo diretamente com outro investidor. Nessa situação, quanto mais liquidez tiver esse mercado, mais fácil será encontrar investidores interessados no negócio. Consequentemente, maiores serão as suas chances de obter melhor remuneração por ele.

Quanto à diversificação, o mercado financeiro dos EUA conta com um número bem maior de emissores do que o brasileiro. Lá, você pode encontrar mais opções de títulos de dívida de empresas – o equivalente às debêntures – com diferentes graus de risco e potencial de rentabilidade.

Por fim, a tributação da renda fixa americana é feita de acordo com a tabela GCAP da Receita Federal, e não segundo a tabela regressiva da renda fixa brasileira, que considera o prazo do investimento. Para cada faixa de rendimento, a tabela GCAP prevê as seguintes alíquotas:

Ganho de capitalAlíquota IR
Até R$ 5 milhões15%
De R$ 5 milhões a R$ 10 milhões17,5%
De R$ 10 milhões a R$ 30 milhões20%
Acima de R$ 30 milhões22,5%

Lembrando que, no exterior, o resultado da venda de ativos financeiros de mesma natureza só será tributado se a negociação ultrapassar o valor de R$ 35 mil mensais. Abaixo disso, o IR não será cobrado.

Como investir na renda fixa americana?

Este guia detalhará cinco formas de ter acesso ao mercado de renda fixa dos EUA: via treasury bonds, corporate bonds, CDs, ETFs e BDRs de ETFs.

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Treasury bonds

Os treasury bonds (ou T-bonds) são classificados como um investimento “livre de risco”, pois são emitidos pelo governo federal dos EUA, teoricamente o emissor mais seguro do mundo. 

Esses títulos são o equivalente aos do Tesouro Direto brasileiro, pois os recursos captados por eles compõem a dívida pública americana. Ou seja, ao adquirir um treasury bond, o investidor está emprestando dinheiro para o governo americano em troca de uma rentabilidade futura.

A exemplo dos títulos públicos brasileiros, os T-bonds também oferecem diferentes prazos de vencimento e formas de remuneração. Eles podem ser classificados em quatro tipos: 

  • T-Bills: são os títulos com prazo de até 1 ano e sem pagamento de juros semestrais.
  • T-Notes: possuem vencimento entre 2 e 10 anos e pagam cupons intermediários semestrais.
  • T-Bonds: são títulos com vencimento entre 10 e 30 anos que pagam juros semestrais
  • TIPS (Treasury Inflation Protected Security): os TIPS se assemelham às NTN-Bs brasileiras (chamadas de Tesouro IPCA+ no Tesouro Direto), pois são atrelados à inflação. Ou seja, eles pagam uma taxa prefixada acrescida da variação do CPI (Consumer Price Index), o índice que mede a inflação dos EUA. O prazo de vencimento varia de 5 a 30 anos.

Corporate bonds

Já os corporate bonds são os títulos de crédito privado, ou seja, emitidos por empresas para captação de recursos.

Essa categoria de bond funciona de forma semelhante às debêntures brasileiras. Costumam apresentar prazos mais longos (podendo chegar a 10 anos ou mais) e levam uma classificação de risco, de acordo com a qualidade de crédito da empresa emissora. 

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Os títulos com classificação de risco mais baixa são chamados de high yield, justamente por oferecerem maior potencial de rentabilidade. Já os que receberam notas mais altas (ou high grade) são teoricamente mais seguros para o investidor e, por isso, suas taxas são menores.

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Independentemente do rating de crédito, os corporate bonds sempre terão mais risco do que os treasury bonds, pois não são garantidos pelo governo ou por algum fundo de proteção ao investidor. Por isso, suas taxas também são mais altas do que as dos títulos do Tesouro americano.

Há também outras classificações que permitem identificar mais características dos corporate bonds. Por exemplo, o convertible corporate bond oferece a possibilidade de converter o título em ações do emissor. Já o coupon corporate bond é aquele que paga juros periódicos (mensal ou anualmente) durante o prazo do investimento. E, com o zero-coupon corporate bond, o investidor receberá os rendimentos somente no vencimento, junto do principal.

Certificate of Deposit (CD)

Os CDs lembram muito os CDBs existentes no mercado brasileiro, pois são certificados de depósitos emitidos por instituições financeiras americanas. 

Ao adquirir esse título, o investidor se compromete a depositar determinado valor por um prazo específico. No vencimento do título, recebe de volta o montante investido acrescido dos juros relativos a todo o período da aplicação.

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Assim como nos CDBs, os prazos dos CDs variam muito, podendo ser de curtíssimo prazo (até 30 dias) até alguns anos. Outra semelhança com o título brasileiro é a garantia do FDIC (Federal Deposit Insurance Corporate), uma espécie de FGC dos Estados Unidos, que protege o investidor contra problemas de insolvência dos bancos. Caso uma instituição no país venha a falir, o FDIC ressarce o investidor em até US$ 250 mil por conta bancária.

No entanto, é importante saber que os CDs não possuem liquidez antes do vencimento, nem no mercado secundário. Essa acaba sendo a sua principal desvantagem em relação a outros títulos de renda fixa americana.

Se o investidor precisar resgatar os recursos antes do prazo, poderá incorrer em penalidades que variam de uma taxa fixa até um percentual dos juros do período. Por isso, antes de adquirir esse título, é preciso ter certeza de que realmente não será preciso mexer nos recursos antes do resgate previsto.

Devido à baixa liquidez, os CDs costumam pagar taxas mais altas do que os bonds emitidos pelo governo e pelas empresas americanas.

ETFs de renda fixa americana

Os ETFs (Exchange Traded Fund) são uma das formas mais simples de investir em ativos internacionais, e isso vale também para a renda fixa americana. 

Trata-se de um fundo de investimento que tem o objetivo de replicar determinado ativo ou índice financeiro, e cujas cotas são negociadas na bolsa de valores. Ao adquirir cotas de um ETF, o investidor consegue capturar na sua carteira o desempenho de todos os ativos que formam a carteira do fundo.

No caso dos ETFs de renda fixa americana, o gestor aloca o patrimônio do fundo em ativos como bonds. Dependendo da estratégia do fundo, haverá mais ênfase em um ou outro título.

Para o investidor, a maior vantagem de um ETF é a diversificação que o ativo proporciona de forma acessível, pois há fundos que exigem baixos aportes mínimos.

BDRs de ETFs

Logo que foram lançados e, posteriormente, liberados para investidores de varejo, os BDRs (Brazilian Depositary Receipts) disponíveis na B3 eram lastreados somente em ações de companhias estrangeiras. Atualmente, além dos BDRs de ações, há também os BDRs de ETFs, que replicam fundos de índices internacionais. Entre eles, existem alternativas que investem em treasury e corporate bonds, sendo que alguns desses fundos também estão disponíveis para o pequeno investidor

É possível investir na renda fixa dos EUA aqui do Brasil?

Sim, é possível ter acesso aos produtos de renda fixa americana mesmo morando no Brasil. Se preferir adquirir diretamente esses títulos, o investidor deverá procurar uma corretora que ofereça conta internacional e checar as opções disponibilizadas pela instituição.

Além de investimentos, a conta internacional é bastante útil para quem viaja com certa frequência ao exterior ou costuma receber algum tipo de pagamento em moeda estrangeira ou enviar recursos para fora. Os custos e demais condições de funcionamento desse serviço dependerão de cada instituição financeira.

No entanto, se a ideia for investir em reais na renda fixa dos EUA, os ETFs de renda fixa e os BDRs de ETFs são uma opção. Em comparação a outros ativos, no entanto, ainda há poucos deles listados na B3.

Confira alguns exemplos:

USDB11: o ETF acompanha o Vanguard Total Bond Market ETF (BND), formado por mais de 10 mil ativos de renda fixa de médio e curto prazo do mercado americano. Os treasury bonds correspondem a cerca de 67% do patrimônio desse fundo.

BNDX11: o ETF segue o Vanguard Total International Bond ETF (BNDX), que acessa cerca de 6 mil ativos de renda fixa com foco principalmente na Europa (56% do patrimônio do fundo), seguida do Pacífico (22,7%) e depois dos Estados Unidos (9,7%). Nesse caso, a participação da renda fixa americana no patrimônio do fundo fica em torno de 10%.

BGOV39: esse BDR de ETF tem como benchmark o ICE US Treasury Core Index, que acompanha a performance dos títulos públicos americanos de curto (1 a 3 anos), médio (3 a 7 anos) e longo prazo (7 a 30 anos).

BHYG39: já esse BDR de ETF é formado por títulos de dívida corporativa chamados high yield bonds. Como vimos anteriormente, esses títulos são os que possuem avaliações de crédito mais baixas e, por isso, pagam taxas mais altas.

BIYT39: o índice que esse BDR de ETF acompanha é o IDC US Treasury 7-10 Year Index. Por sua vez, esse índice acompanha treasury bonds com vencimentos entre 7 a 10 anos.

BSHV39: O Short Treasuty Bond é outro BDR de ETF que acompanha a performance do Tesouro americano. Nesse caso, o índice que o representa é o ICE Short US Treasury Securities Index, ligado aos títulos públicos de curtíssimo prazo – com vencimento em um ano ou menos.

BSHY39: mais um BDR de ETF vinculado ao Tesouro americano. Nesse caso, o BSHY39 replica o ETF ligado ao ICE US Treasury 1-3 Year Index, que abrange títulos públicos federais com vencimentos entre 1 a 3 anos.

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