Prisão de Queiroz é ingrediente poderoso para a desestabilização de Bolsonaro

Tanto investigadores quanto pessoas próximas à família Bolsonaro reconhecem nos acontecimentos o problema com maior potencial lesivo no front jurídico
Por  XP Política
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Há pouco mais de duas semanas, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tuitou o cardápio de problemas que tinha pela frente no Judiciário: o inquérito da interferência da PF, o das fakenews e as ações na Justiça Eleitoral. Recentemente entrou na coleção o inquérito que apura o financiamento das manifestações antidemocráticas e hoje voltam a fazer parte do grupo – e de maneira gritante – as investigações sobre a rachadinha no gabinete do filho Flávio Bolsonaro, quando deputado estadual na Alerj.

No enfrentamento que vinha travando com o Judiciário, a prisão de Fabrício Queiroz e o novo foco que o caso ganhará acabam por ampliar as frentes em que o presidente precisará fazer algum enfrentamento. Tanto investigadores quanto pessoas próximas à família Bolsonaro ouvidas nesta manhã reconhecem nos acontecimentos de hoje o problema com maior potencial lesivo a ser enfrentado no front jurídico.

A prisão preventiva de Queiroz, ter esposa e filha como alvos são sinais de que há interesse dos investigadores em um acordo de delação premiada. É possível verificar a importância de Queiroz quando vimos um elogio público recente do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) a ele e o fato de ser abrigado pelo advogado da família, depois de, no final de 2019, ter reclamado de estar sentindo “abandonado”.

Como fez no passado, o STF parece não ter mais interesse em reduzir o ritmo desse caso. Além do funcionamento da “rachadinha” e das implicações todas ao Flávio Bolsonaro (lavagem, organização e peculato) ele pode ter informações que compliquem o presidente sobre obstrução de justiça (interferência da PF, ajuda para tirar Queiroz de circulação, pagamentos para ficar calado).

Em um primeiro momento, a operação de hoje pode capturar atenções, mas não fará com que todos os problemas anteriores deixem de existir. E, por óbvio, é mais difícil cuidar ao mesmo tempo de quatro ou cinco problemas do que de três.

Ainda que possa silenciar (como fez ao passar pelo cercadinho do Alvorada hoje pela manhã) ou adotar um discurso de distanciamento do caso, o fato de saber que Queiroz está preso – por tempo indeterminado – é um ingrediente poderoso para a desestabilização do presidente. Fica mais difícil tomar qualquer decisão desse jeito. Os fatos do caso Queiroz se assemelham a crimes da “velha política” e dificultam o discurso dele de que Bolsonaro de “não vão encontrar nada contra nós”.

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A se repetir o procedimento nas últimas crises, o centrão tende a seguir na linha pública do “deixa disso” – até para cobrar a fatura por ter esfriado a temperatura. Na parte não visível, no entanto, a fragilidade expõe ainda mais o presidente e o deixa em posição menos confortável para as negociações.

Os próximos passos devem ser o cumprimento dos mandados que ainda estão pendentes e o processamento do material dessa operação, o que pode levar alguns dias. É preciso analisar antes as provas para ter certeza de novos rumos na investigação. Nos próximos dias, devem começar também acenos do Ministério Público sobre um possível acordo de delação. Essas são etapas que demando tempo e novas medidas mais drástica não devem ser tomadas antes dessa conclusão.

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