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Eleições 2018: Hora de embaralhar cartas, não de distribuir

Para nós, analistas políticos, sem dúvida nossa final da copa do mundo não será em julho, mas sim em outubro. E será jogada em dois turnos
Por  Richard Back
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

A ansiedade com as eleições de 2018 e o que sairá das urnas é explicada facilmente pela necessidade absoluta que o país tem de de encerrar o infindável ano de 2014. A disputa deste ano dirá o que será do futuro político do PSDB e do PT, partidos que disputam o poder há 24 anos ininterruptos. Também dirá o que será de Jair Bolsonaro, se ele se tornará o símbolo de algo ou só mais um dos muitos políticos caricatos que temos no Brasil, dessa vez um pouco mais anabolizado pela fragilidade do establishment partidário e a indignação da população com a corrupção, violência, e todos os demais temas do difícil cotidiano do brasileiro.

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Para nós, analistas políticos, sem dúvida nossa final da copa do mundo não será em julho, mas sim em outubro. E será jogada em dois turnos. 

Teremos um primeiro ponto de corte, uma espécie de funil, no próximo 7 de abril. Até lá deve ser intensificada o embaralhamento das cartas. Vejamos como se comportam os principais atores:

– Michel Temer – Reagiu ao cerco e esvaziamento político que sofreria quando a reforma da previdência caísse por falta de votos com uma intervenção na segurança pública do Rio de Janeiro. Se mantêm no centro do jogo, sendo ventilado como candidato à reeleição ou inventando uma criatura. Tem o tempo e estrutura a seu favor, além de experiência e audácia política. Sobre o sucesso da intervenção não há o que se discutir, já que, salvo em caso de tragédia, os cidadão do Rio de Janeiro – especialmente os da zona sul, onde se forma opinião – se sentirão, e possivelmente estarão, algo mais seguros. 

Virasse o Rio uma Genebra, ou fosse Temer um grande comunicador e a sua candidatura poderia se tornar algo a ser encarado com seriedade, já que além de segurança, ele teria a vitrine da economia como algo importante a apresentar. 

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Bem, não vai nevar no Rio de Janeiro, Temer não virará um Churchill em 30 dias, mas convém jamais subestimar a audácia de Jucá, Temer, Padilha e cia. Eles farão o que estiver ao seu alcance para que a aliança de centro a ser formada passe pelo Planalto, mesmo que os outros partidos não queiram. 

– Jair Bolsonaro: Se posicionou publicamente contra a intervenção porque na prática não foi dado aos militares “licença para matar”. Na sessão que avaliou o decreto na Camara dos Deputados votou a favor do decreto mas disse ao Poder 360 que “Temer não roubaria seu discurso.” Segundo Bolsonaro, ele torce a favor da intervenção, mas acredita que em 30 dias pode “tudo ter voltado ao normal”. 

Erro politico que não saiu de graça, Bolsonaro foi um tanto errático e defensivo em momento importante, e falhou quando se exigiu dele velocidade e sagacidade para se reposicionar. A saída pela tangente foi encontrada por seu economista, o professor Paulo Guedes, ao conceder entrevista falando sobre suas convicções econômicas.

Ao dizer que “Temer já roubou muita coisa, mas que não roubara seu discurso” Bolsonaro pode até não perceber, mas ele já divide o tempo que se fala em segurança no país com Temer e o governo. 

– Geraldo Alckmin: Fiel seu estilo, este campeão mundial de resta-um não fez grandes manifestações, apenas elogiou as forças de segurança de São Paulo no dia do anúncio da intervenção. 

Nas redes sociais se viu a mensagem “O Rio de Janeiro é igual São Paulo, só que sem os governos do PSDB”, mas o governador mesmo segue esperando ser escolhido o candidato oficial do partido. Alckmin realmente respeita esses prazos e não se contagia pela conjuntura, lendo-a de forma fria, traçando uma estratégia e definindo sua tática. 

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São palavras do governador de São Paulo as que dizem que “a disciplina vence até a inteligência”. 

Dito isso, um “prussiano” Geraldo Alckmin seguirá conversando com os partidos e trabalhando para atrair DEM, PP, PSD, PTB, PRB,PPS, SD, e tentando não perder o controle sobre o complicado jogo da própria sucessão em São Paulo, estado-chave no quebra-cabeças nacional. 

– Lula: O PT naturalmente se posicionou contrariamente à intervenção. Lula não disse palavra. O ex-presidente que teve de mandar forças de segurança para o Rio de Janeiro seguramente faz leitura menos apaixonada e não-parlamentar do que acontece no Rio de Janeiro. 

Para Lula, que vinha sendo pauta nacional de forma negativa, o descanso que o noticiário lhe deu recentemente veio em boa hora. Logo mais ele deve retornar ao centro das atenções de uma forma nada positiva: O TRF4 irá terminar o julgamento de seu processo e a prisão do ex-presidente será um tema importante.

O líder nas pesquisas com 37% (DataFolha) é uma evidência do paradoxo que vive o Brasil: ao invés de pensar em como venceria as eleições, Lula se preocupa em formas de escapar de mais condenações e de não ter cumprida a prisão já decretada quando do fim do seu processo no TRF4. 

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Marina Silva outra vez mais foi ambígua e disse pouco sobre a intervenção e a conjuntura geral. Para completar o pesadelo dos “sonháticos”, a REDE perde aceleradamente deputados que mudam para outros partidos. Reservadamente as críticas a Marina Silva são muito relevantes para a decisão de parlamentares que abandonam o barco.

Ciro Gomes defendeu a intervenção, mas segue perdendo para o Lula no Ceará, estado que recebe ajuda militar federal na parte de inteligência. Se Ciro se manifestasse contrariamente perderia a iniciativa política para Eunício Oliveira (MDB e Presidente do Senado). Para completar a trinca de problemas que tem Ciro – ser viável pela esquerda, ter apoio do PT e enfrentar problemas estruturais do pequeno PDT – a entrevista de Lula dizendo que um candidato de esquerda no Brasil só é viável com o apoio do PT e o lançamento da candidatura de Guilherme Boulos (PSOL) atrapalham ainda mais o caminho de Gomes. Sua personalidade não ajuda muito, já que há também no meio político certa preocupação com o comportamento mercurial de Ciro Gomes, o que gera cautela na declaração de apoios a ele.

Conversar com dirigentes partidários neste momento é algo muito interessante para se observar o jogo de declarações, cálculos eleitorais, ações ambíguas e preservação de poder. Nos próximos meses veremos a preparação dos exércitos, já que esta é uma fase de montagem das forças brutas que se enfrentarão em outubro nas urnas. Esta montagem de forças não é completamente formada sob a luz do dia, por isso então é muito necessária a fumaça e o fog produzidos em Brasília e nos partidos.

A partir de abril, este será cada vez mais um jogo para profissionais.

Richard Back É coordenador de macro sales e análise política da XP Investimentos. Acompanha o cenário brasileiro há uma década e especializou-se também em política internacional.

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