Uma breve análise do Brexit e dos mercados emergentes

Mark Mobius apresenta seu ponto de vista sobre os mercados emergentes e saída do Reino Unido da União Europeia.
Por  Mark Mobius
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Na sexta-feira, dia 24 de junho, os mercados financeiros ao redor do mundo acordaram de ressaca pós-Brexit. O Reino Unido havia votado a favor de sair da União Europeia (UE), deixando muitos investidores surpresos, inclusive eu. Eu acreditava que os pontos negativos da saída do Reino Unido da União Europeia superavam os pontos positivos, e achei que os britânicos também viriam a situação dessa forma.

A incerteza da situação, e do que virá a seguir, atingiu em cheio a todos os mercados após o voto, e os mercados emergentes não foram exceção, com o MSCI Emerging Markets Index apresentando forte queda. No entanto acredito que, após o choque inicial, os impactos de mais longo prazo devem ser mais limitados, uma vez que as transações comerciais e os investimentos dos mercados emergentes são bastante diversificados. A quantidade de negócios com o Reino Unido é relativamente pequena na maioria dos mercados emergentes.

Porém, alguns mercados emergentes específicos têm laços mais estreitos com o Reino Unido, e o impacto poderá ser maior nesses países. Algumas nações do sudeste asiático, com ligações históricas com o Reino Unido, poderão ser impactadas negativamente. Empresas específicas com operações no Reino Unido poderão ser impactadas, por exemplo, bancos que possuem investimentos imobiliários no Reino Unido (ou agências no país) que ajudam a financiar seus projetos.

Se as relações comerciais se enfraquecerem, os fabricantes localizados no Reino Unido poderão considerar outros locais, caso achem que há mais benefícios em permanecer dentro da União Europeia. Poderá haver um lado positivo para alguns países dos mercados emergentes. Alguns serviços e fabricantes poderão migrar do Reino Unido para países emergentes do Leste Europeu, uma vez que esses países estão na União Europeia e os custos nessa região são mais baixos.

Esse evento não impacta a minha visão dos mercados emergentes como um todo, ou o potencial de investimento que vejo no longo prazo. Acredito que o voto do Brexit mostra ao mundo que instabilidade política não está limitada aos mercados emergentes. Ela pode ser vista também em mercados desenvolvidos. Embora a volatilidade possa permanecer por algum tempo, na minha opinião os mercados se reajustarão. Parte da volatilidade de curto prazo está relacionada ao fator surpresa do voto. Os mercados simplesmente não haviam precificado adequadamente um cenário de saída.

Na minha opinião, o voto do Brexit não deverá ter um grande impacto na política monetária dos mercados emergentes ou na dos EUA. Quando a volatilidade do Brexit terminar, o Fed dos EUA provavelmente continuará sua análise da política monetária, baseada nos futuros dados do mercado de trabalho, de crescimento e de inflação dos EUA. A grande questão para os observadores do mercado é, obviamente, o efeito colateral sobre a União Europeia. Se houver a percepção de que outros membros poderão decidir sair da União Europeia, então a incerteza continuará e isso pode ser negativo para os mercados europeus e dos EUA. No entanto, na minha opinião, os mercados emergentes devem ser capazes de se diferenciar, e os países devem conseguir voltar à normalidade baseados em seus próprios fundamentos.

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Mark Mobius Possui mais de 40 anos de atuação em mercados emergentes em todo o mundo e atualmente é o presidente-executivo da Templeton Emerging Markets Group. Ao longo de sua carreira recebeu diversas premiações, com destaque para uma das 50 pessoas mais influentes do mundo pela revista Bloomberg Markets, em 2011; e uma das 100 pessoas mais poderosas e influentes, pela Asiamoney, em 2006. Formado pela Boston University, é Ph.D. em economia e ciências políticas pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT).

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