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Estudo de caso sobre o banco central do Japão

Em estudo, Mobius analisa a influência do Banco Central do Japão nos mercados de renda fixa e ações.
Por  Mark Mobius
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Um dos mais fascinantes aspectos dos atuais mercados ao redor do mundo é o grau em que os bancos centrais parecem estar influenciando o movimento, não apenas dos mercados de renda fixa, mas também dos mercados de ações. A crença errônea de que taxas de juros mais altas sempre levam os mercados de ações a cair, e que taxas de juros baixas sempre os levam a subir, é bastante difundida, por isso os pronunciamentos sobre as taxas de juros por parte dos bancos centrais têm acrescentado volatilidade ao mercado. Portanto, embora possamos esperar volatilidade de curto prazo, não achamos que uma leve alta das taxas de juros dos EUA teria um impacto significativo nos mercados financeiros, especialmente quando vários outros bancos centrais ao redor do mundo continuam em modo de flexibilização.  No entanto, fazer previsões sobre o movimento do mercado de curto prazo acarreta grande possibilidade de erros, então é importante focar na avaliação dos acontecimentos de longo prazo.

Japão: um estudo de caso

O Japão oferece um interessante estudo de como a flexibilização monetária tem afetado seu mercado de ações e sua economia. O objetivo de aumentar as expectativas de inflação com taxas de juros mais baixas não funcionou para o Japão, então ele está agora tentando uma tática diferente, a de aumentar os preços das ações (desta forma, colocando dinheiro diretamente nas mãos dos consumidores), por meio da valorização do mercado de ações, na esperança de estimular os gastos. O banco central do Japão (BOJ) tem comprado ativos, incluindo fundos de índices (ETF), ou seja, indiretamente, ações de empresas.

Embora o BOJ tenha optado por não cortar as taxas de juros ou aumentar ainda mais seu atual programa de estímulo, na sua reunião de política monetária de novembro, o presidente do BOJ, Haruhiko Kuroda, disse que o banco central está pronto para implementar  “todas as medidas disponíveis” para atingir a meta de inflação de 2%, o que significa que maiores medidas para estimular a economia podem estar a caminho. De uma perspectiva de política econômica, os esforços para enfraquecer a moeda do Japão, baixando as taxas de juros a níveis negativos, não têm funcionando e têm atraído críticas, especialmente das instituições financeiras. Parece que agora a ênfase estará em enfraquecer o iene, assim como em aumentar os preços das ações. Na linguagem da comunidade de jogos de azar, o BOJ se tornou a grande “baleia” no mercado, sendo o detentor de uma grande fatia das ações listadas no mercado de ações de Tóquio. Como consequência, muitos investidores estão cada vez mais focados não nos fundamentos das empresas, mas nas aquisições diárias do BOJ. O banco central está adquirindo ETFs de acordo com os pesos de mercado do Nikkei 225, do Topix e dos índices menores como o JPX 400, do Japão. A queda do iene frente ao dólar norte americano tem historicamente levado as ações japonesas a subirem fortemente (e uma alta do iene tem normalmente resultado em uma queda das ações), mas essa relação tem se enfraquecido com as compras de ativos pelo BOJ.

O programa de aquisição do BOJ foi criado para favorecer empresas com boa governança corporativa, como aquelas que estão em conformidade com o código de governança corporativa da bolsa de valores de Tóquio, tendo reduzido ou eliminado as “cross holdings” (quando duas empresas compartilham ações entre si”) por meio da venda de suas posições em outras empresas operacionais. De qualquer forma, estima-se que o BOJ atualmente detenha 60% dos ETFs domésticos do Japão e imagina-se que o BOJ possa continuar adquirindo mais ETFs no decorrer de 20171. O fundo de pensão do governo anunciou que aumentará sua alocação em ações domésticas, para que as aquisições do fundo de pensão potencialmente se equiparem àquelas do banco central.

O BOJ se tornou um dos maiores acionistas em um dos maiores mercados de ações do mundo e já é um dos cinco maiores acionistas de 81 empresas listadas no índice Nikkei 225 do Japão.2 O banco central está também a caminho de se tornar o maior acionista de mais de 50 dessas empresas, de acordo com várias estimativas. Os otimistas estão felizes com as aquisições do BOJ, mas os oponentes dizem que o banco está artificialmente inflando as avaliações e desincentivando, ironicamente, as empresas a se tornarem mais eficientes. Curiosamente, o Nikkei 225 Stock Average do Japão está, na realidade, em queda de mais de 8% no acumulado do ano, embora se possa argumentar que o resultado poderia ter sido pior sem as aquisições do banco central3.

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O programa do BOJ não é exclusivo. O Bank of England tem um programa de aquisição de dívida privada que vale em torno de US$ 13 bilhões, e o Banco Central Europeu tem um programa similar. Com certeza existem outros exemplos no decorrer da história do mercado, inclusive durante a crise financeira asiática, no final dos anos 90.

Uma preocupação é que, como resultado do programa de aquisição do BOJ, a quantidade de ações disponíveis para negociação diminuirá, fazendo com que seja mais difícil para os investidores negociarem ações. A diminuição da liquidez poderá então resultar em mais volatilidade. Outra preocupação é que outros bancos centrais podem seguir o exemplo do BOJ, transformando os mercados acionários ao redor do mundo. Claro que para alguns acionistas isso poderia ser favorável, mas o risco é o potencial para um colapso que pode vir a seguir.

Impacto nos mercados emergentes

Como muitos investidores ao redor do mundo estão buscando rendimento em um ambiente de taxas de juros baixas ou negativas, as ações e os títulos de dívida dos mercados emergentes estão atraindo investimentos. Os recursos que os bancos centrais estão fornecendo estão circulando nos mercados globalmente, e os mercados emergentes, em geral, continuam a oferecer um histórico de crescimento mais interessante do que os mercados desenvolvidos. Por exemplo, os investidores (muitos deles japoneses) colocaram o valor recorde de US$ 1,45 bilhões em títulos uridashi indianos, denominados em rúpia, este ano, e o mercado de ações da Índia subiu mais de 5% no acumulado do ano.4 A Índia tem uma das economias com crescimento mais rápido no mundo, com um crescimento do produto interno bruto previsto em 7,6% para este ano.5 O crescimento dos mercados emergentes tem sido, em geral, mais acelerado do que o dos mercados desenvolvidos este ano, assim como a performance do mercado acionário.

Para encerrar, uma última reflexão sobre a recente eleição norte-americana, que também poderá ter algum impacto sobre a política monetária mais adiante, inclusive para os mercados emergentes: Se implementadas com sucesso, as políticas expansionistas propostas pelo novo presidente eleito, Donald Trump, poderão resultar em crescimento mais acelerado para os EUA. Uma vez que os EUA são a maior economia mundial, isso, por sua vez, poderá ter um impacto positivo para o crescimento global. Trump comprometeu-se a baixar os impostos das empresas e a aumentar os gastos do governo com infraestrutura, o que provavelmente resultará em maiores lucros para as empresas norte-americanas. O capital adicional estaria disponível então para as empresas norte-americanas potencialmente investirem globalmente. Acredito que isso provavelmente incluiria investimentos nos mercados emergentes.

Embora exista a possibilidade de choques inesperados, continuamos otimistas sobre a perspectiva para os mercados emergentes no próximo ano.

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Os comentários, as opiniões e as análises do Mark Mobius são apenas para fins informativos e não devem ser considerados como uma consultoria de investimento, uma recomendação para investir em qualquer ativo ou para adotar qualquer estratégia de investimento. Uma vez que as condições econômicas e de mercado estão sujeitas a mudanças rápidas, as opiniões, as análises e os comentários são oferecidos com base na data da publicação e podem ser alterados sem aviso prévio. Este material não tem como objetivo ser uma análise completa de todos os fatos importantes em relação a qualquer país, região, mercado, setor, investimento ou estratégia.

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1. Fonte: Bloomberg, 14 de agosto de 2016, “Bank of Japan’s Unstoppable Rise to Shareholder No. 1.” Não há garantia de que qualquer estimativa ou previsão se realizará.

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2. Ibid.

3. Fonte: Bloomberg, até terça-feira, 1 de novembro de 2016. Índices não são gerenciados e não se pode investir diretamente em um índice. Eles não incluem taxas, despesas ou encargos de venda.

4. Fonte: Bloomberg, 25 de outubro de 2016, “Japanese Fleeing Negative Rates Take Refuge in Indian Yields.” O S&P BSE SENSEX é o índice mais utilizado da Índia. O índice foi projetado para medir a performance das 30 maiores, mais líquidas e financeiramente solidas, empresas dos principais setores da economia indiana, que estão listadas na BSE Ltd. Índices não são gerenciados e não se pode investir diretamente em um índice. Eles não incluem taxas, despesas ou encargos de venda. Performance passada não é indicação nem garantia de performance futura.

5. Fonte: IMF World Economic Outlook Database, outubro de 2016. Não há garantia de que qualquer projeção, estimativa ou previsão se realizará.

Mark Mobius Possui mais de 40 anos de atuação em mercados emergentes em todo o mundo e atualmente é o presidente-executivo da Templeton Emerging Markets Group. Ao longo de sua carreira recebeu diversas premiações, com destaque para uma das 50 pessoas mais influentes do mundo pela revista Bloomberg Markets, em 2011; e uma das 100 pessoas mais poderosas e influentes, pela Asiamoney, em 2006. Formado pela Boston University, é Ph.D. em economia e ciências políticas pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT).

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