Fechar Ads

A transformação do Vietnã

Conheça o Vietnã sob o olhar de Mark Mobius.
Por  Mark Mobius
info_outline

Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Em apenas algumas décadas, o Vietnã passou por uma transformação dramática, partindo de uma sociedade agrária para uma que adotou a era moderna. Sua jovem população e crescente classe média têm ajudado a gerar um sólido crescimento – e oportunidades para muitos investidores globais. Esse mercado em ascensão, mesmo que não tenha adotado totalmente o capitalismo e permanecido como um estado comunista, conseguiu encontrar um equilíbrio interessante. O país tem chamado a atenção dos investidores nos últimos anos, mas dada a eleição de Donald Trump como o próximo presidente dos EUA, a Parceria Transpacífica (TPP em inglês), da qual o Vietnã teria sido um beneficiário, parece menos provável que aconteça. Por outro lado, novos acordos comerciais estão em desenvolvimento, incluindo a Parceria Econômica Regional Abrangente (RCEP em inglês), da qual o Vietnã faz parte juntamente com outros nove membros da Associação de Nações do Sudeste Asiático, como a Austrália, a China, a Índia, o Japão, a República da Coreia e a Nova Zelândia, com possibilidade que surjam novas negociações comerciais bilaterais no futuro.

Todavia, eu creio que o Vietnã continua sendo um destino atraente para investidores e turistas, e acreditamos que seu futuro parece promissor. Recentemente, tive a oportunidade de visitar o Vietnã e ver as suas últimas novidades.

O Vietnã teve um forte crescimento econômico, com o seu produto interno bruto (PIB) apresentando uma elevação média de quase 7% entre 2000 e 2015, elevando o poder de compra no país1. Em 1990, a renda nacional bruta (GNI em inglês) per capita era de US$ 910, e em 2015 já havia subido para US$ 5.6902. Durante a minha recente viagem ao país, descobri grandes oportunidades no setor de consumo como consequência do aumento dos níveis de renda.

Por exemplo, visitamos uma empresa de laticínios e descobrimos que o consumo per capita de leite nos EUA é de mais de 100 litros por pessoa por ano, e na China o consumo é de 30 litros, mas no Vietnã o consumo é de apenas 16 litros. Porém, esse número está crescendo rapidamente, e por isso não é nenhuma surpresa que a empresa de leite que visitamos no Vietnã tenha apresentado crescimento nos lucros durante os últimos cinco anos. A empresa produz leite fresco de vacas locais, bem como leite reconstituído a partir do pó, leite condensado, fórmula infantil e iogurte. A empresa exporta seus produtos não apenas para seus vizinhos na Ásia, mas também para alguns mercados no Oriente Médio.

Atualmente, muitas empresas no Vietnã são públicas. Porém, a privatização está aumentando, com planos para abrir o capital de várias empresas no futuro, com algumas sendo inicialmente registradas na bolsa de valores secundária de Ho Chi Minh, a UPCoM, que possui requisitos menos rígidos. Acreditamos que, eventualmente, muitas empresas serão obrigadas a se registrar na bolsa principal e realizar divulgações mais abrangentes. Adicionalmente, cremos que a venda de algumas empresas públicas ajudará a desacelerar a crescente dívida nacional do Vietnã, mas os investimentos estrangeiros diretos estão fortes, e as indústrias e as exportações estão boas. Como os serviços (incluindo o turismo) representam mais de 40% do PIB do Vietnã, esse é o segmento que mais nos interessa3.

A ilha Phu Quoc

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Para estudar o setor de turismo do Vietnã, viajei com os meus colegas até a ilha Phu Quoc, localizada na costa sudeste do Vietnã. Pousamos em um novo e moderno aeroporto, com capacidade para absorver um grande fluxo de turistas locais e estrangeiros. Os turistas locais podem voar da cidade de Ho Chi Minh pelo valor de US$ 30 a US$ 50 por trecho pela linha aérea econômica vietnamita. Atualmente, apesar das regulamentações de viagem serem complicadas e mudarem com frequência, os turistas estrangeiros podem ficar de 15 a 30 dias sem visto em Phu Quoc, o que é uma rara concessão, não disponível para visitantes em outras partes do Vietnã.

Durante a nossa estadia, dirigimos e andamos de bicicleta de uma extremidade da ilha à outra e vimos uma grande quantidade de novas construções como hotéis, apartamentos, condomínios e um maravilhoso teleférico, conectando a ilha de Phu Quoc a outras menores. Phu Quoc é uma ilha grande (574 quilômetros quadrados, comparados com os 719 de Cingapura), e o governo do Vietnã a designou para desenvolvimento turístico.

Dirigimos até o nosso hotel em uma autoestrada nova de quatro pistas e, à medida que passeávamos pela ilha, vimos uma outra autoestrada de quatro pistas sendo construída, no sentido norte-sul. O governo já gastou mais de US$ 1 bilhão até o momento em infraestrutura na ilha, incluindo mais de US$ 700 milhões no aeroporto, por onde chegamos. De acordo com publicações de notícias regionais, durante o verão de 2016, o governo aprovou e licenciou mais de 160 projetos, envolvendo um total de mais de US$ 6 bilhões em investimentos.

Como um microcosmo do país como um todo, Phu Quoc já passou por uma grande transformação quando consideramos a sua história como um lugar de refúgio. A ilha também já foi um campo prisional usado durante vários regimes, desde o período colonial francês até a guerra do Vietnã. Uma das atrações turísticas é um campo prisional/museu, com arame farpado, torres para os guardas e modelos de guardas e prisioneiros. A ilha também é famosa pelo seu molho de peixe e sua pimenta preta, que vimos crescendo em vinhas ao redor da ilha. 

O turismo está transformando a economia da ilha, que anteriormente subsistia da pesca e, conforme mencionado acima, da pimenta e do molho de peixe. O principal incorporador do Vietnã construiu um enorme complexo na extremidade norte da ilha, incluindo 1.000 quartos de hotel, 1.000 vilas, um parque de safari (aparentemente um dos maiores do mundo), um parque aquático e um parque de diversões, com várias montanhas-russas e outros brinquedos emocionantes. Também há um campo de golfe, com 27 buracos, um hospital internacional e instalações para o que poderá ser um grande casino.

Outra construtora está fazendo um complexo na extremidade sul da ilha, que inclui um teleférico espetacular que atravessa o mar e vai até as ilhas vizinhas. Também vimos outros hotéis novos sendo construídos ao longo da praia.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Existe também uma fazenda de pérolas, de forma que vimos várias lojas vendendo pérolas locais. Passeando por pequenas comunidades da ilha, notamos que ainda existe uma grande necessidade por melhores estradas e infraestrutura. O grande fluxo de turistas e as construções de alto nível para atender a esses viajantes, trouxeram empregos fixos, com bons salários para os moradores locais que antes tinham um baixo padrão de vida.

Por exemplo, um dos cozinheiros vietnamita do nosso hotel falou que antes trabalhava como pescador, mas que agora está muito melhor financeiramente. Ele disse que a vida de pescador era perigosa e incerta, porque nunca se sabia se conseguiria pescar o suficiente para se sustentar. Atualmente, com sua esposa também trabalhando, eles vivem uma vida mais tranquila.

Embora algumas pessoas critiquem o desenvolvimento em lugares com beleza natural como Phu Quoc, é importante observar a questão sob vários ângulos. Para os 100 mil nativos da ilha, as perspectivas agora são melhores. Esperamos que o desenvolvimento do Vietnã e de outros lugares aconteça com as intenções corretas e o equilíbrio adequado de interesses. Com sua natureza amável e hospitaleira e disposição alegre, os residentes de Phu Quoc, em minha opinião, tornarão sua ilha um sucesso para o turismo. Estamos animados com o potencial de crescimento e transformações no Vietnã.

Os comentários, as opiniões e as análises do Mark Mobius são apenas para fins informativos e não devem ser considerados como uma consultoria de investimento, uma recomendação para investir em qualquer ativo ou para adotar qualquer estratégia de investimento. Uma vez que as condições econômicas e de mercado estão sujeitas a mudanças rápidas, as opiniões, as análises e os comentários são oferecidos com base na data da publicação e podem ser alterados sem aviso prévio. Este material não tem como objetivo ser uma análise completa de todos os fatos importantes em relação a qualquer país, região, mercado, setor, investimento ou estratégia.

Informações legais importantes

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Todos os investimentos envolvem riscos, inclusive uma possível perda de principal. Os ativos estrangeiros acarretam riscos especiais, incluindo flutuações cambiais, instabilidades econômicas e acontecimentos políticos. Os investimentos em mercados em desenvolvimento, dos quais os mercados de fronteira são um subconjunto, acarretam riscos mais elevados em relação aos mesmos fatores, além dos riscos relacionados ao menor tamanho desses mercados, à menor liquidez e à menor estrutura jurídica, política, comercial e social estabelecida para fornecer suporte aos mercados de valores mobiliários. Como essas estruturas são normalmente até menos desenvolvidas em mercados de fronteira, assim como vários fatores incluindo o maior potencial para alta volatilidade de preços, falta de liquidez, obstáculos ao comércio e controles cambiais, os riscos associados a mercados emergentes são mais altos em mercados de fronteira. Os preços das ações oscilam, às vezes de forma rápida e drástica, devido a fatores que afetam certas empresas, determinadas indústrias ou setores, ou devido a condições gerais de mercado.

______________________________________

1. Fonte: IMF World Economic Outlook Database, outubro de 2016.

2. Fontes: World Bank, dados até 2015. A renda nacional bruta (GNI em inglês) per capita é expressa em dólares de paridade do poder de compra, para ajustar as diferenças do nível de preços entre os vários países.

3. Fontes: CIA World Factbook, dados até 2015.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Mark Mobius Possui mais de 40 anos de atuação em mercados emergentes em todo o mundo e atualmente é o presidente-executivo da Templeton Emerging Markets Group. Ao longo de sua carreira recebeu diversas premiações, com destaque para uma das 50 pessoas mais influentes do mundo pela revista Bloomberg Markets, em 2011; e uma das 100 pessoas mais poderosas e influentes, pela Asiamoney, em 2006. Formado pela Boston University, é Ph.D. em economia e ciências políticas pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT).

Compartilhe
Mais sobre

Mais de Investimentos mercados emergentes