Resiliência dos mercados emergentes

Com perspectivas delicadas no início de 2016, os mercados emergentes precisaram manter a resiliência para alcançar um patamar estável. Mark Mobius explica o que está por trás da melhora das ações desses mercados.
Por  Mark Mobius
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Embora as perspectivas no início de 2016 parecessem complicadas para os mercados emergentes, resiliência tem marcado a história da classe de ativos nesse primeiro semestre do ano. O que está por trás da melhora das ações dos mercados emergentes? Apresentamentos aqui alguns dos principais temas:

  • O crescimento dos mercados emergentes continua mais acelerado do que o dos mercados desenvolvidos.
  • A melhora da confiança do investidor e as atraentes métricas de valor ajudaram a contribuir para os fluxos de ativos.
  • O mercado e a economia da China não implodiram, como muitos temiam no início do ano.
  • Mudanças políticas, econômicas e estruturais vêm ocorrendo em muitos mercados.

No acumulado do ano, a performance das ações dos mercados emergentes tem superado a dos mercados desenvolvidos, em dólar norte-americano, com o MSCI Emerging Markets Index apresentando alta de 14,5%, enquanto o MSCI World Index apresentou alta de 2,7%1. As taxas de crescimento dos mercados emergentes também continuam a superar as dos mercados desenvolvidos. O Fundo Monetário Internacional estima um crescimento do produto interno bruto de 1,8% em 2016 e 2017 para as economias avançadas, e um crescimento de 4,1% e 4,6%, respectivamente, para as economias emergentes/em desenvolvimento2. Em agosto, a agência de classificação Moody’s revisou previsão para as maiores economias dos mercados emergentes do mundo, para 2016 e 2017, na expectativa de que essas economias já tenham se estabilizado3.

Embora esse ano ainda não tenha acabado, vemos perspectivas melhores para os investidores nos mercados emergentes em comparação ao ano passado, e a performance de longo prazo das ações dos mercados emergentes, em comparação com os mercados desenvolvidos, está favorável.

A classe de ativos recebeu fortes entradas na metade desse ano, à medida que os investidores continuaram a busca por rendimentos mais altos, ajudando a impulsionar a performance4. Uma recuperação nos preços das commodities este ano, liderada pelo petróleo, alterou positivamente a confiança do investidor a favor das ações dos mercados emergentes. Ao mesmo tempo, muitos países dos mercados emergentes tomaram medidas para diminuírem sua dependência das commodities como catalisador do crescimento e diversificaram suas economias em outras áreas, incluindo a tecnologia da informação e outros setores baseados em serviços.

O dólar norte-americano se estabilizou, e isso, em grande parte, beneficiou os mercados emergentes, uma vez que reduz a ameaça de uma dívida denominada em dólar norte-americano. Muitas empresas dos mercados emergentes emitiram dívida em dólar norte-americano, o que dificulta o reembolso quando suas economias estão fracas ao mesmo tempo em que o dólar está muito forte. Além disso, dados os desafios da economia global, incluindo o voto do referendo do Reino Unido a favor de sair da União Europeia, vários bancos centrais importantes tomaram um posicionamento acomodatício com relação às taxas de juros, o que achamos positivo para o crescimento e os ativos dos mercados emergentes. Ao mesmo tempo, o Fed (banco central dos EUA) tem sido bastante cauteloso em termos de medidas restritivas este ano. Acreditamos que os mercados emergentes devem ser capazes de resistir a pequenos e graduais aumentos nas taxas de juros dos EUA, o que parece ser o caminho indicado pelas autoridades do Fed.

Além disso, muitos países dos mercados emergentes estão progredindo significativamente com reformas estruturais para estimular o crescimento e seus respectivos mercados. Por exemplo, a Índia recentemente decretou uma lei nacional em relação a inadimplências, um projeto de lei para impostos sobre bens e serviços, e flexibilizou as regras para o investimento estrangeiro direto para estimular ainda mais o crescimento econômico.

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Talvez o maior catalisador da confiança do investidor tenha sido a China. Em 2015, os eventos na China foram responsáveis pelo forte movimento de venda que afetou todos os mercados emergentes. A desvalorização da moeda da China deixou os investidores globais em alerta, com medo de que a moeda mais fraca pudesse iniciar uma volatilidade cambial intensa e possivelmente desestabilizar as economias vizinhas. Os fracos dados econômicos da China acrescentaram incerteza ao humor do mercado, levando o Shanghai Composite Index a cair aproximadamente 40% de seu pico em meados de junho de 2015. Embora o mercado da China tenha se recuperado um pouco desde então, sem dúvida a economia do país ainda tem vários problemas, incluindo o excesso de oferta de imóveis, o excesso de capacidade em muitos setores, a desaceleração do setor de manufatura e grandes problemas com dívida. Porém, existem também muitos pontos fortes estimulados pelo rebalanceamento da economia chinesa, incluindo o consumo mais robusto gerado pelo aumento dos salários, a expansão do setor de serviços e novas iniciativas em infraestrutura anunciadas pelo governo central.

Os sinais de estabilidade na economia da China têm sido um fator importante no aumento geral da confiança nos mercados emergentes este ano. Recentemente, as autoridades chinesas têm avançado com a proposta de abertura dos mercados de ações domésticas, com a muito esperada aprovação do Shenzhen-Hong Kong Connect, que permite a negociação entre as ações domésticas do continente (cotas classe A) e o mercado em Hong Kong (cotas classe H). Fluxos maiores indo para o sul são esperados, sendo provável que investidores chineses tentem obter os benefícios da maior liquidez e das métricas de valor mais baratas das cotas H, em relação às cotas A do mercado doméstico. Em nossa opinião, os fundamentos da China ainda estão bons. O país continua sendo uma das economias que mais cresce no mundo, apesar de uma taxa de crescimento lenta em comparação a décadas passadas, e permanecemos confiantes nos esforços do governo para implementar um rebalanceamento econômico abrangente, distanciando-se de um modelo movido a exportações e aproximando-se de um mais focado domesticamente.

Do outro lado do mundo, as ações da América Latina apresentaram, em geral, resultados positivos este ano. A confiança melhorou diante das mudanças políticas e esforços de reformas no Brasil, levando ao impeachment oficial da ex-presidente Dilma Rousseff em agosto. O mercado do Peru também se beneficiou com a vitória do candidato com posicionamento favorável às empresas, Pedro Pablo Kuczynski, na recente eleição presidencial. Na Argentina, o novo governo eliminou a maioria dos controles de capital e chegou a um acordo com os credores.

Esses são apenas alguns fatores responsáveis pela resiliência que temos visto nos mercados emergentes este ano. Também vemos a continuação de várias tendências positivas de longo prazo, como a demografia favorável e um aumento no poder de compra e no consumo em muitas economias emergentes, e a história está longe de terminar. Assim, acreditamos que o argumento justificando ao investimento de longo prazo nos mercados emergentes permanece positivo. Em nossa opinião, é provável que as taxas de crescimento econômico dos países emergentes continuem a exceder as de muitas economias desenvolvidas, devido às razões mencionadas acima. Embora os mercados emergentes permaneçam sensíveis aos indicadores macroeconômicos e à política monetária global — o que significa que é provável que a volatilidade persista por algum tempo — os mercados de ações parecem ter começado a se reajustar. Vemos sinais de que a confiança está voltando aos mercados emergentes e acreditamos que seja provável que ela continue.

Os comentários, as opiniões e as análises aqui expressas refletem opiniões pessoais e são somente para fins informativos e de interesse geral, não devendo ser considerados como uma consultoria em investimentos, uma recomendação ou uma solicitação de compra, venda ou manutenção de qualquer ativo ou para adotar qualquer estratégia de investimento. Ele não constitui uma assessoria jurídica ou fiscal. As informações fornecidas neste material são apresentadas como sendo válidas na data da publicação, podendo ser alteradas sem aviso prévio, e não têm como objetivo ser uma análise completa de todos os fatos importantes em relação a qualquer país, região, mercado ou investimento. 

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1. Fonte: MSCI, acumulado no ano até 9 de setembro de 2016. O MSCI Emerging Markets Index representa as empresas de alta e média capitalização em 23 países dos mercados emergentes (ME). O MSCI World Index representa as empresas de alta e média capitalização em 23 países dos mercados desenvolvidos (MD). Índices não são gerenciados e não se pode investir diretamente em um índice. Eles não levam em conta taxas, despesas e encargos de venda. Performance passada não é indicação nem garantia de performance futura. Visite www.franklintempletondatasources.com para obter informações adicionais sobre fornecedores de dados.

2. Fonte: atualização do IMF World Economic Outlook, julho de 2016. Não há garantia de que qualquer projeção, estimativa ou previsão se realizará.

3. Fonte: Moody’s Investors Service, 17 de agosto de 2016.

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Performance passada não é indicação nem garantia de performance futura.

Mark Mobius Possui mais de 40 anos de atuação em mercados emergentes em todo o mundo e atualmente é o presidente-executivo da Templeton Emerging Markets Group. Ao longo de sua carreira recebeu diversas premiações, com destaque para uma das 50 pessoas mais influentes do mundo pela revista Bloomberg Markets, em 2011; e uma das 100 pessoas mais poderosas e influentes, pela Asiamoney, em 2006. Formado pela Boston University, é Ph.D. em economia e ciências políticas pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT).

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