Garimpando oportunidades no Peru e no Chile

Em visita ao Peru e Chile, Mark Mobius comenta sua busca por oportunidades de investimento no mercado local.
Por  Mark Mobius
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

No início deste ano, eu e os meus colegas visitamos os países latino-americanos, Peru e Chile, em busca de oportunidades de investimento. A mineração é um setor importante nos dois países, com o ouro, a prata, o cobre e o zinco estando entre os principais metais e minérios extraídos.

Marcar uma visita a uma mina nas altas montanhas do Peru foi um dos agendamentos mais complicados que a nossa equipe já fez! As negociações com a empresa foram longas e chegamos perto de desistir. Depois disso resolvido, alguns dias antes da visita a empresa nos pediu comprovantes de seguro de vida e um exame médico, que para as pessoas de mais idade como eu, incluía um eletrocardiograma. Agora sim, estávamos prestes a desistir, mas com determinação, acabei sendo atendido por uma médica no meu quarto de hotel em Lima, que colocou sensores no meu corpo para cumprir a exigência do eletrocardiograma. Foi uma experiência que eu certamente não esquecerei, especialmente quando a médica descobriu que o seu equipamento não estava funcionando corretamente. Porém, ela me deu o atestado de qualquer forma, imaginando que eu seria capaz de suportar a elevada altitude!

Eu posso imaginar a preocupação da empresa em ter visitantes, em um local de mineração perigoso. De qualquer forma, estávamos a caminho, após eu ter passado no exame.

O terreno em torno do aeroporto na cidade costeira onde pousamos, e por todo o percurso até a mina, poderia ter sido usado como um local de filmagem para um filme sobre a lua ou da série Star Wars. Nenhuma vegetação, apenas um terreno marrom claro, rochoso e acidentado. A autoestrada de duas pistas era excelente e serpenteava as montanhas à medida que subíamos. No caminho, ocasionalmente víamos pequenas casas de bloco de concreto com telhas de metal corrugado. Levou uma hora e meia para dirigir da costa do Pacífico até a mina, uns 3.400 metros acima do nível do mar.

Uma vez que chegamos ao topo, descobrimos o que pode ser descrito como um pequeno vilarejo no meio do nada, com 20 mil residentes, incluindo 1.500 mineradores, 500 prestadores de serviço, seus funcionários de suporte e suas famílias. A estrutura incluía uma igreja, um campo de golfe escavado na terra seca, mas com algumas áreas verdes, um campo de futebol, um hospital, agências bancárias, escolas etc.

A visita foi uma experiência bem excitante e interessante para todos nós. Ficamos bem impressionados com o alto nível das pessoas que trabalham na mina.  Todos pareciam bastante motivados e orgulhoso de seus trabalhos, falando constantemente de importantes KPIs (principais indicadores de performance), como o aumento da produção e o custo por unidade. Achamos bastante interessante que a empresa seja capaz de reter e desenvolver talentos em um lugar tão inóspito e isolado. Também foi interessante ver o nível de detalhe dos processos operacionais e de segurança.

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Os enormes caminhões de US$ 4,5 milhões que eles estavam usando na mina são capazes de carregar 400 toneladas de material em uma corrida. Fiquei sabendo que cada pneu daqueles caminhões custa US$ 50 mil! Devido ao seu tamanho, os caminhões não podem ser dirigidos até o topo da montanha. Eles, então, são desmontados e embarcados até a mina, onde são novamente montados. Leva uns dois ou três meses para montar um caminhão. Embora possuam um enorme motor a diesel, eles são tecnicamente veículos elétricos porque o motor a diesel gera eletricidade, e é a eletricidade que aciona as rodas.

Usando capacetes e coletes de segurança, visitamos a cava aberta da mina, a parte mais impressionante da visita. A área da cava possuía quase três quilômetros de diâmetro e um quilômetro de profundidade. O projeto da mina é, na realidade, bastante técnico, levando em conta as estradas para o carregamento, os ângulos e as alturas dos taludes, e as valas. Eles tinham estações de monitoramento eletrônico dos ângulos por toda a cava para garantir que não houvesse movimentos indesejados que pudessem comprometer a estabilidade de seus taludes. Tivemos muita sorte, porque quando chegamos ao mirante mais alto tivemos a oportunidade de ver uma seção sendo dinamitada. Em outra parte do local havia muitos equipamentos, incluindo um concentrador de minério e um processo de extração eletrolítica à base de solvente, para purificar o minério para a fundição final.

Os analistas de cobre expressaram uma preocupação com a demanda, em função da desaceleração da economia chinesa, o que impactou o preço da commodity. Atualmente, a China é o maior consumidor de cobre, sendo responsável por 45% da demanda global1. Ele é um componente principal para o setor imobiliário e, apesar da desaceleração do crescimento econômico, o consumo geral do cobre tem aumentado na China, assim como nos EUA, no Japão e na Europa, uma tendência que deverá continuar2. Embora tenha havido uma redução de produção em minas de alto custo, minas mais novas e mais eficientes estão entrando no mercado, o que está limitando os preços não apenas do cobre, mas de outros recursos naturais, incluindo o molibdênio, a prata, o zinco e o ouro. Apesar dessas quedas, as empresas de mineração continuaram expandindo a produção, seja porque já haviam iniciado a criação de uma nova mina e gasto tanto dinheiro que não fazia mais sentido não concluir as instalações, ou porque previam que os preços eventualmente se recuperariam e, portanto, justificariam o investimento. Os valores de investimento são altos e o tempo necessário para começar uma nova mina é normalmente de cinco anos ou mais. Portanto, é importante que as empresas nesse setor pensem no longo prazo. Claro, ainda existe uma preocupação no curto prazo com os fracos preços.

O maior uso do cobre é na construção, e é também usado nos produtos de consumo, como automóveis, eletrodomésticos e eletrônicos, e também exerce um papel importante nas tecnologias de informação e de comunicação. Alguns executivos da mina que visitamos estavam otimistas de que haveria uma forte recuperação econômica nos EUA e na Europa, e estimaram um aumento da demanda na China de cerca de 3% em 20163. Eles estimam que o cobre usado na manufatura de automóveis e em redes elétricas aumentará a demanda por cabos de cobre, compensando a fraca demanda no mercado imobiliário. A falta de sucata de cobre é outro fator que eles vêem como um limitador da oferta, potencialmente impulsionando os preços. Além disso, com os preços do cobre baixos, o incentivo para as empresas de mineração ao redor do mundo começarem novas minas diminuiu, o que eventualmente impactará a oferta. Mesmo assim, os lucros da empresa de cobre estavam pressionados, em função dos baixos preços do mineral.

O impacto ambiental da mina foi um assunto de intensa discussão no país e entre os executivos da mina. Uma expansão estaria sujeita a estudos de avaliação do impacto ambiental e teria que ser aprovada pelo Ministério de Energia e Mineração do Peru, e consultores foram contratados para estudar os recursos hídricos subterrâneos e de superfície. Descobrimos que a Agência de Avaliação e Controle Ambiental do Peru parece bastante diligente em inspecionar as minas, notificando infrações e aplicando multas para transgressões ambientais. Houve casos em outros países onde derramamentos de ácidos fizeram as empresas pagarem milhões de dólares em indenizações às vítimas, além de outras medidas corretivas.  Acidentes, e o subsequente litígio, são claramente um risco no setor de mineração.

O Peru, de modo geral, é uma boa jurisdição para a mineração, mas a política tem criado algumas incertezas, com os conflitos e protestos sociais pondo um fim em alguns projetos de mineração. Porém, os gerentes com os quais conversamos antes das eleições presidenciais do Peru acham que o governo poderia ser incentivado a aprovar projetos para melhorar os dados do mercado de trabalho, considerando as pressões recessivas. Enquanto estávamos no Peru, o governo anunciou que cortaria as taxas de imposto sobre as empresas, dos atuais 30% para 26% até 2019. Desde então, a vitória de Pedro Pablo Kuczynski, que assume em julho, é vista como sendo positiva para o setor, uma vez que ele tenha se comprometido com políticas favoráveis ao setor privado e em atrair maiores investimentos externos.

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Após descer a montanha e voltar ao aeroporto, partimos para o Chile a tempo de ver o sol se pôr. Senti um pouco de nostalgia pelo lugar isolado, com pessoas trabalhadoras e amigáveis, que estavam dando o seu melhor para suprir o mundo com cobre e outros minerais em um lugar tão lindo e desolado.

A paisagem salgada do Chile

Chegamos em Calama, no Chile, uma das cidades mais secas do mundo, com uma média anual de chuva de cerca de 5 mm (0,20 polegadas). O Salar de Atacama, uma das maiores planícies de sal do Chile, era o nosso destino. A paisagem era coberta por montanhas recortadas, com formas incomuns. Algumas se pareciam, na minha imaginação, com animais ou pessoas. A área é um destino turístico, com pessoas visitando para conhecer a paisagem lunar e as planícies de sal. Existem também vulcões ativos e gêiseres quentes na região, assim como as operações de mineração de cobre e lítio.

Na ida até o hotel, todas as casas pareciam estar se agachando e se refugiando na árida paisagem. Era quase como se estivessem se protegendo do intenso sol. Já havia escurecido quando finalmente chegamos ao nosso pequeno hotel, de aparência rústica, com pisos e corredores de pedras, paredes de madeira ressecada e cabanas como as de motéis. Finalmente caí na cama à meia noite, e na manhã seguinte já estava a caminho das planícies de sal e das operações de mineração da área.

O Salar de Atacama (ou “lago de sal”) são 3 mil quilômetros quadrados de terreno plano, com uma mistura brilhante de sal branco, marrom e cinza. Fica no meio das montanhas, com os Andes ao leste. O local contém a fonte mais pura de lítio do mundo e estima-se que contenha aproximadamente um terço de suas reservas. Alguns já chamaram esse antigo lago de “a Arábia Saudita do lítio”.

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Visitamos uma operação de mineração com escritórios modernos e bem projetados e instalações confortáveis, incluindo salas para visitantes. Um representante da empresa, que havia vindo de Santiago, explicou toda a operação para nós e, em especial, os procedimentos de segurança. Usando capacetes e coletes de segurança, saímos em direção às planícies de sal. Observamos como a empresa formava pequenas bordas de terra para murar parte das planícies, para que o líquido salgado, bombeado do subsolo, pudesse secar ao sol em centenas dessas piscinas. Conforme o líquido evapora, assume tons de azul e verde claros, fazendo com que a região pareça uma gigante paleta de cores pastéis de um artista. Compostos de potássio são produzidos, juntamente com um líquido viscoso de cloreto de lítio. Isso é levado em caminhões-tanque para um planta próxima da costa, onde é transformado em finos pós de carbonato e hidróxido de lítio, que são então despachados para todo o mundo.

Atualmente, não seria exagero dizer que o lítio é um produto em alta demanda. Diante do aumento na demanda por baterias recarregáveis de lítio, as empresas estão com dificuldades para conseguir suprimentos. Embora o lítio represente apenas em torno de 5% dos materiais em algumas baterias, ele é um componente vital. A demanda mundial parece prestes a aumentar, devido ao crescente uso do lítio, não apenas em baterias para automóveis elétricos e outros bens de consumo, como telefones celulares e notebooks, mas também pelo seu potencial no armazenamento de eletricidade para uso pelas empresas de energia elétrica. Algumas empresas de energia elétrica estão instalando grandes bancos de baterias para oferecer breves descargas de eletricidade em momentos de pico na demanda. Uma empresa está planejando ter baterias de íon de lítio equivalentes à produção de uma termelétrica a carvão.

Pesquisando a história da empresa que visitamos, percebi que havia muito mais relacionado àquelas planícies de sal do que eu imaginara, tendo havido até guerras por conta delas. Eu já havia ouvido falar em “nitrato de sódio”, “caliche”, “salitre”, “nitrato de soda” e vários outros nomes, mas descobri que são todos a mesma coisa, um sólido branco que é solúvel em água. É usado em várias reações químicas para produzir fertilizantes, explosivos, fogos de artificio, vidro, argila, conservantes alimentares e um combustível sólido para foguetes, e o tipo encontrado no deserto de Atacama no Chile é de certa forma diferenciado. O nitrato de sódio é encontrado em depósitos minerais (chamados de minério de caliche) e por cerca de 100 anos, o deserto de Atacama foi quase que a fonte exclusiva para o mundo todo. Durante o final do século 19, o nitrato de sódio foi usado como fertilizante e para a manufatura de pólvora, mas no início do século 20, químicos alemães descobriram uma maneira de produzir amônia do ar e convertê-la em um salitre sintético, que poderia ser usado para produzir pólvora. Existem outros usos para o nitrato de sódio, como um aditivo alimentar para a conservação de carnes, na troca de calor em plantas de energia solar, para o tratamento de águas residuais e até em enxaguante bucal.

É interessante ver como, no decorrer dos anos, as várias formas e novas descobertas para o uso dos minérios do salar continuam a gerar novos benefícios.

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1. Fonte: International Copper Study Group, previsão para 2015/2016. Não há garantia de que qualquer projeção, estimativa ou previsão se realizará.

2. Não há garantia de que qualquer projeção, estimativa ou previsão se realizará.

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3. Não há garantia de que qualquer projeção, estimativa ou previsão se realizará.

Mark Mobius Possui mais de 40 anos de atuação em mercados emergentes em todo o mundo e atualmente é o presidente-executivo da Templeton Emerging Markets Group. Ao longo de sua carreira recebeu diversas premiações, com destaque para uma das 50 pessoas mais influentes do mundo pela revista Bloomberg Markets, em 2011; e uma das 100 pessoas mais poderosas e influentes, pela Asiamoney, em 2006. Formado pela Boston University, é Ph.D. em economia e ciências políticas pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT).

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