O que se pode aprender sobre investimentos com um piloto de avião

A vida no ar é igual a vida na terra. Veja como o planejamento está em todo o lugar.
Por  Marcelo Coutinho
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Há cinco anos eu sou aviador. Nesse período, pude constatar o quanto o ato de voar e o de investir são semelhantes. Percebi que investidores podem aprender muito com pilotos.

A primeira característica que os relaciona é o fato de que ambos precisam ser exímios planejadores e estrategistas. Se um piloto pretende voar amanhã ele precisa começar a preparar o voo ainda hoje. E isso inclui planejar a rota primária e as alternativas (essenciais), checar as condições meteorológicas e ter uma boa noite de sono.

Quanto ao investidor, o que dorme tranquilo é o que tem sua estratégia para o dia seguinte já encaminhada. Sabe quais são os ativos que estão em um momento interessante, pois analisou seu fechamento, está informado a respeito do noticiário e acompanhou o desempenho dos principais índices e indicadores mundiais.

A pergunta que você precisa se fazer é: se um avião não pode decolar caso o piloto não tenha em mãos as informações prévias que precisa, por que você acha que um investidor deveria operar se não se preparou adequadamente?

No dia seguinte, antes de entrar no avião o piloto faz o “nacelle” (voo mental), que consiste em pensar sobre como será o voo e preparar o organismo para as situações que podem vir a acontecer de errado quando estiver no ar. Além disso, ele verifica o motor, combustível, parte elétrica, mecânica, trens de pouso, etc.

Na bolsa, a lógica é a mesma. É hora de olhar novamente para o mundo, fazer uma leitura do que aconteceu na Ásia, do que está acontecendo na Europa e acompanhar as notícias que vêm desses continentes. Após isso (e antes do pregão abrir no Brasil), o investidor já tem que saber quais operações irá fazer.

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No caso de não operar com frequência por ser um adepto da análise fundamentalista, por exemplo, a lógica precisa ser a mesma. A única diferença é que o horizonte de tempo destinado a fazer as análises será estendido e aprofundado sobre questões mais específicas, relevantes às empresas e setores que está interessado.

O próximo passo antes de decolar é tirar o avião do estacionamento e posicioná-lo na cabeceira da pista. No trajeto, as funcionalidades da aeronave (freio, leme, profundor, instrumentos, rádio, visibilidade e painel) precisam ser verificadas. Já o percurso do investidor até a abertura do mercado consiste em recordar e se assegurar de que o que definiu ontem ainda é válido hoje. Fora isso, precisa checar sua plataforma e deixá-la configurada de forma adequada.

No momento da decolagem o aviador precisa se sentir seguro sobre o que está fazendo e ter o plano de voo e o GPS à sua frente. A mensagem que vem dos ares para o investidor é que enquanto o piloto voa ele apenas segue o que foi estruturado previamente.

Não faz manobras inesperadas ou muda seu trajeto. Só sai da rota quando algum imprevisto (como uma tempestade) ocorre. Mas ainda assim ele conta com a segurança de ter o plano B já definido em seu plano de voo. Ou seja, a chuva ou qualquer outra adversidade não tende a ser um grande problema. O investidor jamais deve operar sem ter se preparado antes. Esqueça a ideia de abrir a plataforma para “ver se encontra algo interessante para operar”.

Ainda durante o voo, o piloto verifica com frequência a altitude, velocidade, gasolina, temperatura do motor, pressão do óleo e parte elétrica. Na bolsa, é importante monitorar se o mercado virou ou se está dando sinais de que o fará e, também, verificar as notícias relevantes. Uma queda no preço do minério de ferro pode mudar tudo caso esteja pensando em comprar uma mineradora, por exemplo.

O avião tem alguns instrumentos que mostram quando algo pode não estar funcionando bem. Um indicador no painel exibe o consumo de energia da bateria. Um problema ali pode significar a perda da parte elétrica. Ou seja, nada de rádio nem “flaps”. Lá se foi a comunicação com a torre de controle. O principal indicador do investidor é o desempenho e a tendência das bolsas internacionais, que muitas vezes têm o comportamento seguido pelo Ibovespa. Se perder visibilidade com o mundo externo, o investidor está fadado a entrar em procedimento de emergência.

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O acompanhamento da atividade econômica mundial vai ajudá-lo a saber se o plano que estabeleceu está saindo conforme o esperado. Caso não esteja, o plano emergencial precisará ser posto em prática: “stopar”, lançar opção, reduzir posição e até mesmo trocar ativos por outros de menor risco são algumas ações de emergência. Isso tudo já deveria constar em seu planejamento prévio.

Eu encerro por aqui por falta de espaço, mas quero que saiba que há muito mais para aprender com o universo da aviação. Aproveito o espaço, ainda, para propor um desafio. Você já parou para pensar se é possível importar estratégias que utiliza em sua profissão para os seus investimentos? Esse pode ser um bom ponto de partida para desenvolver o seu plano de voo na bolsa.

Marcelo Coutinho é piloto privado de avião e sócio-presidente do YouTrade,

E-mail: mcoutinho@youtrade.pro.br

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