Haddad xinga 60% dos eleitores ao falar sobre Lula e “golpe”

Todas as pesquisas de opinião pública indicam um eleitorado que, em sua maioria, concorda com o impeachment e a prisão de Lula. Enquanto Haddad reservar adjetivos duros a cerca de 60% do eleitorado, Bolsonaro terá espaço para nadar de braçada.
Por  Pedro Menezes
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Após a pesquisa Datafolha do dia 02 de outubro – a mais recente com resultados completos no site do instituto -, um dados me pareceu subestimado pelos analistas: 51% dos brasileiros concordam com a prisão de Lula nos termos atuais, portanto a maioria dos eleitores. Outros 8% acham uma prisão domiciliar mais adequada, mas são a favor da condenação.

Aqueles contrários à condenação de Lula somam 37% e os 4% restantes não souberam responder à pergunta. A posição do PT perde de 59% a 37% entre os eleitores, uma diferença equivalente a 11 margens de erro.

No Datafolha do último dia 04 de outubro, cerca de 63% dos votos válidos estão com candidatos a favor do impeachment e da prisão de Lula. Outros 37% se dividem entre Ciro e Haddad, anti-impeachment e pró-Lula.

Às vésperas do impeachment, em março de 2016, o placar da opinião pública era 68% a 27% pela queda de Dilma. Mesmo nos piores momentos do governo Temer, as pesquisas continuaram apontando maioria a favor do que o PT chama de “golpe”.

Em linhas gerais, um contingente próximo a 60% dos brasileiros discorda da narrativa petista sobre Lula e o impeachment.

Aquele pessoal que saiu na rua contra Dilma, formando as maiores manifestações democráticas da história do país, tem voto e continuou sendo brasileiro. O governo Temer desgastou o PSDB, mas o antipetismo sempre foi maior do que os tucanos – e, por isso, segue vivo.

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Quando ganhou o apoio de Temer, tucanos e imprensa, a derrubada de Dilma já era defendida por parcela expressiva da opinião pública. Os caras que embarcaram no governo do MDB se queimaram sozinhos e nunca foram vistos pelo antipetismo como líderes do movimento. Alckmin e Aécio foram expulsos sob vaias da maior manifestação contra Dilma, ainda em março de 2016, mais de um ano antes de Joesley jogar na lama a reputação do senador mineiro.

Não por acaso, Bolsonaro lidera as pesquisas discursando simultaneamente contra Temer, Aécio, Dilma e Lula. O candidato do PSL concorda com o que a maioria dos eleitores pensa sobre essas figuras. Já os três candidatos que o seguem nas pesquisas – Ciro, Haddad e Alckmin – se alinham com diferentes minorias da população.

Eis um problemão para Haddad.

Toda a competitividade eleitoral dele deriva do apoio de Lula. Afinal, a maioria pró-impeachment não fez acabar o lulismo. Num primeiro momento, Haddad precisava assegurar um lugar no segundo turno. Lula inflamou seus eleitores durante meses para garantir que não abandonassem o barco. Depois, saiu dizendo que Haddad é Lula. Até agora, foi missão cumprida.

Lula ainda tem 37% dos eleitores contra a sua prisão, percentual semelhante à soma dos votos de Ciro e Haddad, os dois candidatos relevantes que também são anti-impeachment e pró-Lula. Esse eleitorado cativo de Lula é quem tem colocado Haddad no segundo turno.

Conquistar os lulistas era a menos e mais fácil tarefa de Haddad para esse ano. Agora, o PT precisa se defrontar com seu maior erro: a falta de autocrítica após destruir o Brasil. Para vencer Bolsonaro, Haddad precisa pedir votos àqueles que chama de “golpistas”.

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Pedro Menezes Pedro Menezes é fundador e editor do Instituto Mercado Popular, um grupo de pesquisadores focado em políticas públicas e desigualdade social.

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