Recompras de ações atingem recorde e encostam no volume de dividendos distribuídos pelas empresas

Só em 2022, as 1.200 maiores empresas do mundo recompraram US$ 1,31 trilhão em ações; em contrapartida, dividendos distribuídos somaram US$ 1,39 trilhão

Katherine Rivas

Publicidade

As recompras de ações tiveram um crescimento exponencial na última década e praticamente triplicaram desde 2012, mostra estudo do Janus Henderson Global Dividend Index antecipado ao InfoMoney.

Apenas em 2022, as 1.200 maiores empresas do mundo recompraram US$ 1,31 trilhão em suas próprias ações, um salto de 22% em relação a 2021, quando também houve recorde. Em contrapartida, os dividendos distribuídos por essas empresas somaram US$ 1,39 trilhão em 2022.

As recompras estão concentradas em algumas empresas. A Apple (AAPL34), que figura entre as empresas que mais adquirem suas próprias ações no mundo, recomprou US$ 89,4 bilhões em 2022, cerca de 7% do total global.

Continua depois da publicidade

Entre as dez empresas que mais fizeram recompras no mundo, nove são dos Estados Unidos. Juntas, elas são responsáveis por quase um quarto de todas as recompras feitas em 2022. Apenas a Shell era de outro país, o Reino Unido. Fora as maiores, um destaque continental ficou com a Nestlé, que foi a que mais recomprou ações na Europa.

As dez empresas que mais recompraram ações no mundo em 2022

Empresa Valor das recompras em 2022 (ano fiscal)
Apple (AAPL34) US$ 89,4 bilhões
Alphabet  (GOGL34) US$ 59,3 bilhões
Microsoft  (MSFT34) US$ 32,7 bilhões
Meta Platforms (M1TA34) US$ 28 bilhões
Shell (RDSA34) US$ 18,9 bilhões
Exxon Mobil (EXXO34) US$ 15,2 bilhões
Comcast Corporation  (CMCS34) US$ 13,3 bilhões
S&P Global (SPGI34) US$ 12 bilhões
Marathon Petroleum  (M1PC34) US$ 11,9 bilhões
Visa (VISA34) US$ 11,6 bilhões

Fonte: Janus Henderson

Na última década, as recompras avançaram 182%, enquanto os dividendos distribuídos cresceram apenas 54%. O maior salto aconteceu em 2018, potencializado pelas empresas de tecnologia dos Estados Unidos.

Continua depois da publicidade

Segundo Ben Lofthouse, head de Renda Variável Global da Janus Henderson, o forte crescimento das recompras nos últimos três anos mostra o forte desempenho dos lucros e do fluxo de caixa livre das companhias e uma disposição das empresas para remunerar os seus acionistas.

Contudo, Lofthouse destaca que o cenário já foi mais favorável no passado, quando o custo para as empresas acessarem financiamento era quase zero. “Havia um grande incentivo para emitir dívidas e recomprar ações, pois isso agregava um valor imenso”, afirma.

Em 2012, as recompras de ações representavam apenas 52% dos dividendos distribuídos globalmente – sendo 3% dos dividendos nos mercados emergentes e 102% na América do Norte. Já no ano passado, essas operações equivaliam a 94% dos dividendos – 18% nos mercados emergentes e 158% na América do Norte.

Continua depois da publicidade

No ano passado, o país que registrou o maior valor em recompras foi os Estados Unidos, de US$ 932,43 bilhões, seguido do Reino Unido com US$ 70,53 bilhões, Canadá com US$ 64,73 bilhões e Japão e Suíça com US$ 41,12 bilhões e US$ 38,16 bilhões, respectivamente.  As empresas brasileiras recompraram US$ 6,71 bilhões das próprias ações.

Em relação aos setores, em 2022 quem liderou foram as empresas de tecnologia, que recompraram US$ 285,7 bilhões. Em segundo lugar ficou o setor de finanças, com as empresas recomprando um total de US$ 245,5 bilhões. Ainda entre os destaques estavam bens de consumo não essenciais (US$ 142,8 bilhões) e comunicações e mídia (US$ 140,7 bilhões).

Já observando o crescimento setorial ano contra ano, o maio salto foi do setor de petróleo. As empresas do setor recompraram US$ 135,2 bilhões de suas próprias ações, mais de quatro vezes do que em 2021. Boa parte dos recursos veio de empresas da América do Norte, Reino Unido e em menor proporção, Europa.

Continua depois da publicidade

No segmento de comunicação e mídia, o valor global das recompras foi oito vezes maior do que o de dividendos pagos em 2022. Na lista, estão companhias como Meta, dona do Facebook, e Alphabet, proprietária do Google, que não pagam dividendos mas são fortes compradoras de ações para remunerar seus acionistas.

Já em setores mais perenes, como serviços públicos, que costumam ser reconhecidos como bons pagadores de dividendos, os proventos foram oito vezes maiores do que as recompras.

Segundo Lofthouse, a grande dúvida é como esse movimento será nos próximos meses ou anos em um cenário com custo de capital significativamente mais alto globalmente. “Para empresas que geram grandes volumes de caixa, como Apple ou Alphabet, não deve ser um fator importante. Já para outras, principalmente nos EUA, que usaram empréstimos para financiar recompras, os cálculos serão mais equilibrados”, destaca.

Continua depois da publicidade

Leia também:

Dividendos ou recompra de ações? Para Goldman, quem distribuir lucro aos acionistas vai se sair melhor

Fonte: Janus Henderson

Por que as empresas recompram ações?

As empresas costumam recomprar as próprias ações por diversos motivos. Um deles é o fato de enxergarem as ações muito descontadas ou negociando abaixo do preço justo no mercado secundário. A recompra é vista pelas empresas como uma forma de investimento do caixa gerado pela companhia.

A empresa também pode recomprar as suas ações e guardá-las em tesouraria – um movimento que geralmente ocorre para que os papéis sejam usados como “moeda de pagamento” (em uma fusão ou aquisição, por exemplo).

Outro uso comum para as ações recompradas é o pagamento de bônus aos diretores e executivos. Uma quarta possibilidade é o cancelamento das ações, diminuindo assim o número de papéis em circulação no mercado.

Em todos os cenários, a recompra também funciona como um dividendo indireto, porque independentemente se as ações foram canceladas ou ficarem na tesouraria, elas não entram na divisão dos dividendos. Com  menos ações em circulação, o dividendo por papel tende a ser maior.

Leia também:

Small caps com dividendos acima da Selic? Sim, elas existem – e podem garantir salário extra; veja simulação

“Data com”: KLBN4, GGBR4, CMIN3 e EGIE3 têm data de corte em maio; veja lista de dividendos programados

Agenda de dividendos: maio começa com maior nº de pagamentos do ano; na lista, PETR4, CXSE3 e TASA4

Katherine Rivas

Repórter de investimentos no InfoMoney, acompanha ETFs, BDRs, dividendos e previdência privada.