Mercado começa a trabalhar com novo corte da Selic em meio a preocupações com coronavírus

Novus, Occam, Adam e UBS veem espaço para mais reduções da taxa básica de juros; ações de bancos centrais são monitoradas de perto

Mariana Zonta d'Ávila Beatriz Cutait

SÃO PAULO – De olho nas consequências da epidemia de coronavírus sobre a economia global e, especialmente, sobre a atividade brasileira, algumas instituições financeiras começam a revisar seus cenários-base embutindo novos cortes da taxa básica de juros, ainda que a previsão oficial do mercado siga apontando para uma Selic estável em 4,25% ao ano em dezembro.

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A Novus Capital faz parte desse grupo, com a redução, nesta segunda-feira (2), da projeção para a Selic em 2020, de 4% para 3,5% ao ano, com três cortes de 0,25 ponto percentual. A mudança foi feita após o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) divulgar que está monitorando a epidemia e que poderá agir de forma apropriada, se necessário.

Hoje, os bancos centrais do Japão e da Europa também sinalizaram novas atuações para garantir a estabilidade financeira, em meio ao surto da doença.

Para discutir possíveis medidas de emergência para os países afetados pelo vírus, o Eurogrupo, grupo informal que reúne os ministros das Finanças dos países da União Europeia, marcou uma teleconferência com os ministros da Economia para esta quarta-feira (4).

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Na avaliação de Luiz Eduardo Portella, sócio e gestor de portfólio de renda fixa da Novus, com um crescimento mais comedido da atividade econômica mundial, são esperados novos cortes na taxa de juros americana, movimento que tende a ser repassado para o Brasil.

As reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) e do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) dos bancos centrais brasileiro e americano acontecem nos próximos dias 17 e 18 de março, e vão decidir o rumo das taxas de juros nos dois países.

Para 2021, Portella espera que a taxa básica de juros fique em torno de 5% ao ano. “Se voltar a subir, vai ser uma boa notícia. Com o estímulo monetário dos bancos centrais e uma atividade mais forte, os juros poderiam voltar a subir”, diz.

Em entrevista ao InfoMoney, Márcio Appel, sócio e fundador da Adam Capital, disse mais cedo que a combinação de crescimento econômico baixo, inflação sob controle e os esperados impactos da disseminação do coronavírus deve levar o Banco Central a reduzir ainda mais os juros no Brasil.

“Não há motivos para o BC parar de cortar os juros. Todas as variáveis indicam isso”, afirmou. “Um ritmo de redução de 0,25 em 0,25 ponto percentual parece adequado.”

Sob efeito do exterior

Na Occam, diante de um cenário mais incerto para as economias mundiais, a expectativa de manutenção da Selic também foi revisada para baixo, de 4,25% para 3,25% ao ano.

“O movimento de revisão da atividade global e doméstica para baixo, com uma inflação bem-comportada no Brasil e um ambiente internacional de corte de juros, vão levar o BC a cortar a Selic novamente”, afirma Pedro Dreux, gestor macro da Occam.

Entre os principais gatilhos para cortes adicionais na Selic, Dreux destaca a ação coordenada dos bancos centrais mundiais, que vêm sinalizando, desde sexta-feira, uma flexibilização monetária.

O gestor assinala que a curva de juros americana precifica atualmente um corte de 0,50 ponto percentual do juro básico já na próxima reunião, e avalia que o BC brasileiro acompanharia o movimento na mesma magnitude, levando a Selic para 3,75% neste mês.

Diante dessa visão, a Occam, antes posicionada na parte mais longa da curva de juros, optou por encurtar a duration (prazo médio mínimo do investimento) das posições, focando no potencial de valorização dos papéis com vencimentos mais curtos.

Outra casa que vem trabalhando com expectativa de juros mais baixos neste ano é o UBS, que espera mais um corte da Selic, para 4%. O banco revisou, no início de fevereiro, a previsão para o crescimento do PIB brasileiro neste ano de 2,5% para 2,1%, mas aumentou a projeção para a expansão de 2021, de 2,5% para 2,8%.

Cautela poderá imperar?

Há uma parte do mercado, contudo, que segue apostando em um Banco Central mais conservador, pelo menos por ora.

Para Marcelo Giufrida, sócio e CEO da Garde Asset Management, o BC deve seguir com uma postura cautelosa, tendo a necessidade de uma ruptura muito relevante para mudanças de rumo.

“Olhando só para a inflação, ele teria espaço para cortar os juros. Mas o próprio Banco Central se colocou numa situação de maior cautela para não fazer um movimento de curto prazo, então acho que tenderia a aguardar um pouco mais de informações para se posicionar”, diz Giufrida.

A Garde mantém a expectativa de Selic estável em 4,25% ao ano em 2020, mas deve monitorar a situação, especialmente os próximos passos dos bancos centrais, ainda que Giufrida assinale que o BC brasileiro se coloca de certa forma fora do círculo de outras autoridades monetárias.

Carro-chefe da casa, o multimercado D’Artagnan tem hoje uma posição estratégica mais focada em Bolsa que em juros e, segundo o CEO da gestora, a forte queda dos ativos na semana passada foi aproveitada para um reforço de posições em ações já detidas pelo fundo. “A situação está muito fluida, não queremos tomar posições muito grandes sem ter clareza.”

Solange Srour, economista-chefe da ARX Investimentos, também não alterou o cenário de Selic estável em 4,25% neste ano, mas, diferentemente de Giufrida, acredita que, se houver uma ação coordenada dos bancos centrais, dificilmente o brasileiro vai passar imune.

Para ela, contudo, não serão novos cortes de juros os responsáveis por ajudar a economia a deslanchar, mas, sim, a parte política, com o avanço da agenda de reformas no Congresso. “Em um ambiente político tão estacionado como o que estamos vivendo e com dúvidas sobre o que vai vir pela frente, a ação do Banco Central ficaria inócua.”

Embora a expectativa para a inflação neste e no próximo ano siga benigna, a economista vê com preocupação a escalada da cotação da moeda americana. “Não vejo o dólar saindo de R$ 3,80 para R$ 4,50 e um pass-trough [repasse] igual a zero. Em algum momento, isso vai aparecer na inflação, o que levaria o Banco Central a ser mais cauteloso”, diz.

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