Fundos de inflação: Como ficarão os retornos após o fim dos cortes de juros?

Produtos com foco em títulos públicos atrelados à inflação dispararam em 2019; agora, investidores começam a embolsar lucros

Pedro Ladislau Leite

(Shutterstock)

SÃO PAULO – A referência do mercado de juros no curto prazo é o CDI, taxa que acompanha a Selic. Mas em investimentos mais longos, que duram anos, décadas à frente, a baliza é outra. Nesses casos, os investidores se guiam pelas chamadas NTN-Bs.

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Hoje chamados de Tesouro IPCA+, esses títulos públicos pagam uma taxa acima da inflação acumulada no período. É por isso que papéis desse tipo são utilizados para contratar ganhos por longos períodos, em que o risco inflacionário é maior. Atualmente, por exemplo, os prazos das NTN-Bs oferecidas pelo Tesouro chegam a trinta anos.

O ano passado, contudo, foi um exemplo de como esses papéis podem gerar ganhos expressivos no curto prazo. Em 2019, houve valorizações de até 58%, com a maior parte desse desempenho fruto de ganho de capital provocado pela marcação a mercado.

Isso porque os preços dos papéis sobem quando os juros diminuem – se os títulos são mantidos até o vencimento, porém, o rendimento recebido é aquele combinado no momento da compra. Desse modo, os fundos de inflação tiveram os melhores desempenhos entre os fundos de renda fixa de varejo em 2019. (Confira matéria completa aqui.)

Com base em dados da Economatica, o InfoMoney levantou os 50 fundos de renda fixa com maior retorno em 2019, entre os que perseguem o índice IMA-B (ou suas variações IMA-B5 e IMA-B5+), uma cesta de títulos públicos atrelados à inflação.

Em média, eles entregaram rentabilidade de 24,3% no ano passado. O fundo com maior retorno, Porto Seguro Inflação IMA-B 5+, registrou ganho de 31,3%.

Conforme se destacavam, os produtos recebiam aportes significativos: os 50 fundos registraram juntos captação líquida de R$ 16 bilhões em 2019. O patrimônio médio deles durante o ano totalizou R$ 50 bilhões.

Tal entrada de recursos foi na contramão da indústria de renda fixa, que registrou saldo negativo de R$ 69,3 bilhões no ano passado, o pior resultado desde 2008.

Do mesmo modo que gerou ganhos, contudo, a reprecificação dos títulos pode provocar perdas de magnitude semelhante.

Com a proximidade do fim do ciclo de corte de juros, muitos investidores começaram a embolsar os lucros com esses produtos. Em janeiro, houve mais resgates do que aplicações nos 50 fundos, deixando o saldo líquido negativo em R$ 1,4 bilhão.

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Para especialistas, um cenário negativo para os títulos atrelados à inflação não é provável em 2020. O ganho de capital, no entanto, não deve ser grande fonte de lucros.

Gilberto Kfouri, responsável por renda fixa e multimercados da BNP Paribas Asset Management, assinala que os grandes retornos gerados pelo movimento de cortes de juros já aconteceram. Desse modo, como o potencial de ganho é bem menor, os riscos se tornam mais significativos para esses produtos.

Ele destaca que, se em 2019, o IMA-B rendeu 23%, contra um CDI de 6%, o prêmio agora deve ser várias vezes menor. Enquanto investimentos atrelados ao CDI devem gerar um retorno na casa de 4% em 2020, aponta Kfouri, os fundos de inflação devem render por volta de 6,5% (inflação projetada acrescida das taxas pagas atualmente).

“Achamos que [o produto] ainda faz sentido, mas não veremos os desempenhos do ano passado, bem longe disso. Não vejo muito potencial de ganho com o fechamento das taxas”, afirma.

O cenário mais provável, afirma Kfouri, contempla, no máximo, mais um corte de 0,25 ponto da Selic, que ficaria estável até 2021. A partir de então se iniciaria uma normalização da política monetária, ou seja, os juros seriam elevados até uma taxa neutra, deixando de ficar em níveis estimulativos. Nesse caso, o cenário base é que os juros cheguem a no máximo 7% nos anos seguintes, diz.

Entre os riscos no caminho, Kfouri aponta um eventual desvio no rumo das reformas de cunho fiscal, bem como uma aceleração muito forte da atividade, que obrigaria o Banco Central a efetuar um aperto monetário mais intenso. Esse último risco é menor, avalia, ressaltando que uma atividade mais forte beneficiaria outras classes de ativos.

“Para o curto prazo, os dois riscos são baixos. Para o médio prazo, o risco de não se atingir uma estabilização fiscal é maior”, afirma, apontando que a proximidade do período eleitoral em 2022 adiciona mais incertezas.

Foco deve estar no longo prazo

Marcos Rechtman, gestor de renda fixa da Icatu Vanguarda, destaca que os fundos de inflação foram desenhados para horizontes de longo prazo, protegendo os investidores do avanço dos preços de maneira mais eficiente do que investimentos atrelados aos juros de curto prazo.

“O dinheiro para os próximos seis meses, a reserva de emergência, deve estar em CDI”, alerta. O horizonte ideal, avalia, é de pelo menos cinco anos nos fundos de inflação.

Ele explica ainda que a gestão nesses fundos não costuma ser ativa. O objetivo é seguir, com uma margem de ação pequena, os índices de referência. Assim, os gestores não propõem mudanças significativas no portfólio por antever um possível aumento das taxas de juros. Momentos de perda, portanto, são inevitáveis em produtos assim.

Em 2015, quando a Selic começou o ano a 11,75% e terminou a 14,25% ao ano, o IMA-B fechou com retorno de 8,9%, contra um CDI de 13,2%. “A ideia do fundo é permitir uma alocação dinâmica da carteira de acordo com o objetivo. Se um cenário é mais adverso, o investidor pode eventualmente aumentar sua parcela pós-fixada.”

Se 2020 ainda deve trazer retornos razoáveis, a perspectiva para esses fundos em 2021 já é pior, aponta Breno Martins, trader de renda fixa da MAG Investimentos (antiga Mongeral Aegon). “O jogo no ano que vem é ver quando começa o outro ciclo e até onde ele vai”, diz. “Quando entrar em um ciclo de alta, os fundos vão trazer um retorno pior, até negativo.”

A expectativa do mercado financeiro é que a taxa básica de juros suba para 6%, ao fim de 2021.

O economista chama a atenção para a baixa volatilidade dos retornos recentes na classe, que não deve ser entendida como natural. “A princípio, o cenário à frente não assusta tanto. Mas estamos trabalhando em níveis muito baixos [de volatilidade] e qualquer coisa acima disso já começa a fazer uma pressão.”

Martins afirma ainda que uma boa estimativa para a volatilidade dos produtos que seguem o IMA-B nos próximos anos fica em torno de 5%, tomando como base o histórico de oscilações. Como essa variação é maior quanto mais longos forem os títulos, fundos que buscam retornos do IMA-B5+ tendem a balançar mais.

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Pedro Ladislau Leite

Repórter de investimentos do InfoMoney, cobre os mercados de renda fixa (Tesouro Direto e títulos privados) e de renda variável, acompanhando as movimentações dos principais gestores de fundos no país.