Após valorização de até 58% em 2019, o Tesouro Direto ainda vale a pena?

Especialistas destacam preferência por papéis com vencimentos mais longos

Mariana Zonta d'Ávila

(Pixabay)
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SÃO PAULO – Com a queda dos juros ao longo de 2019, quem investiu em títulos públicos ganhou dinheiro. O Tesouro IPCA+ com vencimento em 2045, papel cujo rendimento está atrelado à inflação, rendeu 58,09% no ano passado, mais que muitas ações. O Ibovespa, por exemplo, encerrou o ano com alta de 31,6%.

Os títulos de renda fixa valorizam quando os juros diminuem em razão da marcação a mercado, que atribui valores mais elevados a papeis emitidos quando as taxas eram mais altas. Se os títulos são mantidos até o vencimento, porém, o rendimento recebido é o estabelecido no momento da compra.

Em 2019, todos os títulos públicos tiveram alta, com destaque para os indexados à inflação,: o papel com vencimento em 2035 valorizou 36,57%, enquanto aquele com vencimento em 2050 e juros semestrais rendeu 33,05%.

Entre títulos os prefixados disponíveis para compra, a maior alta foi de 23,38%, do papel com juros semestrais e vencimento em 2029.

A menor rentabilidade entre os títulos públicos foi do Tesouro Selic com vencimento em 2023, que rendeu 5,94% no ano. Trata-se de um papel pós-fixado, cujo retorno acompanha a variação dos juros.

E agora? É possível repetir esses retornos em 2020? Especialistas consultados pelo InfoMoney acreditam ser improvável que o movimento se reproduza neste ano, dado que o espaço para a queda dos juros é menor.

Segundo o mais recente relatório Focus, do Banco Central, que compila previsões do mercado financeiro, a taxa básica de juros deve encerrar o próximo ano no mesmo patamar, de 4,5% ao ano.

Em novembro, após sinalizações do BC apontando para uma proximidade do fim do ciclo de corte de juros, os títulos do Tesouro Direto tiveram uma queda generalizada de preços, com perdas que chegaram a quase 8%.

No Tesouro IPCA+ 2045, a perda foi de 7,7%, enquanto o mesmo título com vencimento em 2035 recuou 4,6%. Nos prefixados, a principal queda ficou com o papel mais rentável do ano na categoria, com perda de 2,5%. Da mesma forma que valorizam quando os juros caem, os título de renda fixa perdem valor quando as taxas sobem, em razão da marcação a mercado.

“As NTN-Bs [Tesouro IPCA+] são uma excelente proteção contra a inflação, mas, no que diz respeito a alavancar a rentabilidade e sair do papal antes do vencimento, o quadro de 2018 e 2019 não vai se repetir”, afirma Flavio Byron, sócio do escritório Guelt Investimentos.

Os especialistas consultados afirmam que ainda enxergam potencial de alta nos títulos de longo prazo. Mas os ganhos tendem a ser menores daqui para frente.

Na avaliação de Paulo Miguel, sócio do family office Julius Baer, alguma “gordura” pode ser encontrada nos papéis do tipo Tesouro IPCA+ mais longos, com vencimentos acima de dez anos. “O desafio agora vai ser o de estender os prazos, porque, quanto mais longo, mais volátil o papel, então é preciso dosar e ter um percentual de alocação menor do que anteriormente”, diz.

Segundo ele, os papéis mais curtos dificilmente proporcionarão ganho de capital extra, visto que as taxas já estão precificadas.

A visão é compartilhada por Dan Kawa, sócio da gestora de patrimônio TAG Investimentos, que diz gostar do Tesouro IPCA+ com juros semestrais 2050. No último ano, o papel subiu 32,2%. Ele não recomenda, contudo, posições muito grandes, dado que grande parte do fechamento das curvas de juros (quando as taxas diminuem) já aconteceu.

Com relação aos papéis prefixados, Kawa destaca que a relação entre risco e retorno não está atraente para nenhum cenário.

A XP, por sua vez, aponta o Tesouro Prefixado 2022 como o preferido para o próximo ano, de olho no que considera baixo risco e boa rentabilidade no médio prazo.

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Após disparada em 2019, é hora de vender?

Aos que já investem nos títulos públicos e viram o retorno disparar em 2019, a dúvida que fica é se este é o momento para vender os papéis em carteira e embolsar os ganhos, ou se é melhor manter a alocação e garantir por mais alguns anos as taxas mais atraentes do passado.

Quem investiu em papeis prefixados em 2016, por exemplo, conseguiu retornos de quase 17% ao ano. Já as NTN-Bs pagavam inflação mais cerca de 8% ao ano entre 2015 e 2016.

Para Felipe Dexheimer, coordenador de alocação da XP, se o dinheiro está aplicado nos papéis de vencimentos mais longos, visando a aposentadoria, por exemplo, ainda faz sentido carregar um pedaço da posição. Mas, segundo ele, é importante diversificar em ativos como crédito privado, ações e fundos imobiliários.

O assessor e sócio da Veedha Investimentos, Rodrigo Marcatti, tem adotado a mesma prática com seus clientes, sugerindo a venda de partes da posição e uma realocação em ativos mais arrojados, diante do risco de alta das taxas dos títulos mais longos no próximo ano, o que reduziria o valor dos papéis.

“2020 vai ser um ano de menos Tesouro Direto na carteira dos investidores. Aqueles que saíram da poupança nos últimos dois anos e foram para os títulos públicos para buscar mais rentabilidade, começam a olhar para outros ativos, como de crédito privado, com prêmios maiores na renda fixa, além de fundos imobiliários e ações”, diz.

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