Faz sentido investir o FGTS nas ações da Eletrobras? Analistas veem chance de alta após privatização

Opção pode ser interessante para quem estiver disposto a aceitar maior volatilidade e estiver focado em diversificar os investimentos

Bruna Furlani

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A aprovação da segunda etapa do processo de privatização da Eletrobras pelo Tribunal de Contas da União (TCU), na quarta-feira (18), abriu uma nova oportunidade para quem possui saldo no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).

Isso porque o governo vai permitir que trabalhadores tenham acesso a ações da Eletrobras, aplicando até 50% do valor que possuem guardado no fundo.

De acordo com o plano do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES), a compra de ações da Eletrobras vai se dar via Fundos Mútuos de Privatização (FMP-FGTS), em um formato similar ao que foi adotado nos anos 2000 para a Vale (VALE3), então Vale do Rio Doce, e a Petrobras (PETR3;PETR4). Não se trata, portanto, de um investimento direto nas ações, e sim por intermédio de um fundo.

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Para especialistas consultados pelo InfoMoney, o uso do saldo do FGTS para entrar em um fundo do tipo FMP pode ser interessante para quem estiver disposto a aceitar maior volatilidade e estiver focado em diversificar os investimentos.

A razão é que as perspectivas para as ações da Eletrobras são positivas caso a privatização se concretize, com o preço-alvo dos papéis preferenciais (ELET6) podendo chegar a R$ 70 nos próximos 12 meses.

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Vale a pena entrar?

Myrian Lund, planejadora financeira CFP, diz que o primeiro ponto que o investidor deve considerar é que ao investir o FGTS em um fundo do tipo FMP estará deixando a renda fixa para entrar na renda variável.

Também vale a pena, segundo Myrian, avaliar o retorno que tem sido oferecido pelo FGTS. Ela chama a atenção para o fato de que a rentabilidade – fixada em 3% ao ano mais a variação da taxa referencial (TR) – pode dobrar se houver distribuição de lucros pelo fundo.

De acordo com cálculos de Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor executivo da Associação Nacional de Executivos de Finanças (Anefac), o retorno do FGTS em 2022 pode chegar a 4,21%, considerando a remuneração de 3% ao ano acrescida de TR estimada em 0,10% ao mês (ou 1,21% no ano).

Porém, se neste ano houver novamente distribuição de lucros no mesmo patamar anunciado em 2021 – de R$ 8,1 bilhões – a rentabilidade total aumentaria. Pelas contas de Oliveira, repetindo-se o cenário do ano passado, um retorno adicional de 1,8% ao ano seria acrescentado aos 4,21% inicialmente previstos, totalizando uma remuneração projetada de 6,01% para o FGTS em 2022.

Para além da rentabilidade, o investidor precisa estar disposto a aceitar as possíveis fortes oscilações nos preços das cotas, típica nos fundos tipo FMP, pondera Myrian. “Tem momentos em que a Bolsa fica muito tempo em baixa, andando de lado, sem ganho para o investidor. Tem de ter paciência. Encare como uma diversificação dos investimentos”, diz.

Ela também lembra que os trabalhadores que optarem por alocar parte do FGTS em fundos do tipo FMP estarão aplicando em produtos “monoativos”, que investem em uma única ação. “Colocar numa ação só tem mais risco. Vai ter muita volatilidade e ele não vai ter outra [ação] pra contrabalancear”, observa.

Como alocar nos fundos FMP-FGTS?

O trabalhador interessado em ter acesso aos papéis deve acessar os canais da Caixa Econômica Federal, via aplicativo ou nas agências bancárias.

A compra será feita com intermediação de Fundos Mútuos de Privatização ligados ao FGTS, os FMP-FGTS. O investidor deve escolher uma administradora de FMP-FGTS para autorizar a consulta do saldo do FGTS e repassar à Caixa o pedido de reserva para a compra.

Caso o trabalhador queira se desfazer das ações posteriormente, os valores provenientes da venda retornarão para sua conta do FGTS.

Importante ressaltar que a compra das ações por meio do FGTS ainda depende da finalização do processo de privatização.

O que acontecerá com as ações após a privatização?

Com cálculos que projetam um preço-alvo entre R$ 48 e R$ 50 para as ações ordinárias da Eletrobras (ELET3) nos próximos 12 meses, Regis Chinchila, analista da Terra Investimentos, afirma que a privatização da companhia traz ganhos de governança, além de melhorias na frente operacional e financeira para a empresa.

As ações ordinárias da empresa estão entre as recomendações da carteira de maio da casa. Segundo ele, o ponto mais importante é que a oferta busca transformar a empresa em uma corporação, ao diluir a participação do Estado.

“Ela é a maior empresa de energia da América Latina, uma área de infraestrutura básica com grande potencial de crescimento”, diz. “Com a empresa sendo privatizada, ela tem um ganho de eficiência em potencial muito maior, principalmente pela mudança na gestão”, observa Chinchila.

A opinião de que a capitalização pode trazer valor significativo para a Eletrobras também é compartilhada pelos analistas do Goldman Sachs. Em relatório publicado nesta quinta-feira, os especialistas do banco reforçaram que, no cenário atual, seguem com recomendação de compra e com preço-alvo em 12 meses de R$ 46 para as ações ordinárias da empresa (ELET3) e de R$ 51 para as ações preferenciais (ELET6).

Já a análise do cenário de capitalização efetiva implicaria em um valor entre R$ 65 e R$ 67,60 para a ação ON (potencial de valorização entre 54% e 60%) e entre R$ 71,80 e R$ 74,60 para a ação PN (alta entre 68% e 75%).

Em análise feita em meados de abril, Pedro Manfredini, Flavia Sounis e Bruno Vidal, do Goldman Sachs, destacaram que a operação poderia destravar entre R$ 65 bilhões e R$ 70 bilhões em valor para os acionistas da estatal.

Os analistas Giuliano Ajeje e Guilherme Reif, ambos do UBS, estão ainda mais otimistas, ao estabelecer que o preço-alvo das ações preferenciais em 12 meses pode chegar a R$ 70.

Na avaliação deles, os ajustes pedidos pelo TCU – como, por exemplo, a correção do modelo de custos de operação – devem levar o preço mínimo da oferta da Eletrobras para cima.

No cenário base da casa, a expectativa é de que o processo de privatização termine ainda em junho, com o road show tendo início no começo do próximo mês, destacam os analistas.

Os dois especialistas do UBS, no entanto, não descartam a possibilidade de que o road show comece mais cedo, na próxima semana, já que as ponderações feitas pelo TCU devem ser resolvidas antes da precificação da oferta.

De olho no passado para pensar no futuro

Privatizações bem-sucedidas no passado também ajudam a manter as expectativas altas com o processo de capitalização da Eletrobras. Chinchila, da Terra Investimentos, explica que a privatização da Vale (VALE3), em 1997, por exemplo, trouxe bons efeitos para a empresa, em termos de lucro, faturamento e aumento dos investimentos.

De acordo com os balanços da época, a Vale registrou um lucro líquido de R$ 1,029 bilhão (US$ 851,33 milhões) um ano depois da privatização. Na prática, isso representou um crescimento de 36,1% sobre o resultado em reais de 1997. Tratou-se do maior montante obtido por uma empresa privada brasileira até então.

Na época, a amortização e o pagamento de juros sobre empréstimos tomados para a implantação do projeto Carajás caíram significativamente, o que teve peso determinante no balanço da empresa.

Bruno Reis, analista de empresas do Bahia Asset, afirma que a Eletrobras deverá passar por um processo de transformação na gestão que deve durar anos – com a racionalização de custos e renegociação de passivos (especialmente aqueles relacionados ao empréstimo compulsório).

Apesar disso, diz Reis, a casa acredita que a mudança será bem-sucedida e apresenta visão construtiva para a empresa no longo prazo.

Demanda alta e riscos

Também com uma visão mais positiva de todo o processo, João Lorenzi, sócio e analista de investimentos da Encore, acredita que a oferta da Eletrobras deve apresentar demanda alta, mesmo em meio a um cenário mais desafiador.

Lorenzi explica que cerca de R$ 6 bilhões da oferta podem vir do FGTS, sem contar os pedidos que devem ser feitos por fundos.

Apesar de estar otimista, ele diz que há alguns riscos no radar, como a judicialização do processo e a possibilidade de atraso no formulário de referência. Mas pondera que são riscos menores do que os potenciais ganhos, na visão da gestora.

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