Eletrobras (ELET3;ELET6): privatização pode dobrar valor de mercado da empresa e começar a transformar setor elétrico no país, apontam analistas

Companhia poderia continuar no processo de ganhar eficiência, multiplicar seu Ebitda e se tornar uma consolidadora do setor, na visão de Goldman Sachs e UBS

Lara Rizério

Eletrobras (Foto: Getty Images)

Publicidade

O processo de análise sobre a privatização da Eletrobras (ELET3;ELET6), a maior empresa de energia elétrica da América Latina, responsável por 30% da geração desse tipo de energia no Brasil, passará por mais uma etapa importante nesta semana.

O tema volta para a pauta do Tribunal de Contas da União (TCU) na próxima quarta-feira (20), com a expectativa sobre o pedido de vista do ministro do TCU Vital do Rego. O pedido é dado como certo e pode adiar o andamento da desestatização.

Em debate realizado no último dia 7 pelo Tribunal, representantes do governo e agentes do mercado financeiro destacaram que existe um momento único para viabilizar a privatização até 13 de maio – há dúvidas sobre como ficaria o processo caso ele fique para o segundo semestre, encavalado com o calendário eleitoral.

Masterclass

As Ações mais Promissoras da Bolsa

Baixe uma lista de 10 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de valorização para os próximos meses e anos, e assista a uma aula gratuita

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

Mas, se há incertezas sobre como se dará o processo de desestatização da Eletrobras, existe muita expectativa positiva em torno das oportunidades que podem ser geradas para a companhia e para o setor caso a privatização seja efetivada.

Um relatório recente do banco Goldman Sachs destaca que o peso menor da União na Eletrobras levará a uma aceleração do processo de ganho de eficiência operacional iniciado em 2016. Isso em meio a um corte nas despesas gerais e administrativas, otimização da estrutura corporativa e melhora da administração de provisões e da estrutura de capital.

O UBS BB avaliou, em relatório divulgado em janeiro, que uma privatização da companhia poderia levar a uma redução de custos de até 80%, levando em conta o processo de reestruturação e avaliação interna que a empresa já vem elaborando e que já identificou várias ineficiências.

Continua depois da publicidade

Caso seja privatizada, a estatal pode alcançar uma margem Ebitda (ou seja, Ebitda sobre a receita líquida) de 56% e uma taxa de crescimento anual composta abaixo de 20% dos seus gastos operacionais entre 2022 e 2026, segundo o UBS BB. Isso a colocaria em linha com pares privadas.

Os analistas destacaram exemplos recentes de privatização bem-sucedidos em corte de gastos. É o caso da Cesp, que recentemente mudou seu nome para Auren (AURE3), após combinação de ativos com a VTRM. Em cerca de dois anos, até janeiro, houve redução de 50% dos gastos operacionais.

Espaço para crescer

Além disso, caso privatizada, em uma terceira etapa, a Eletrobras deve ser capaz de se concentrar “em oportunidades de crescimento e otimização da estrutura de capital a partir de sua atual alavancagem”, aponta o relatório do Goldman.

Continua depois da publicidade

A alavancagem é de uma vez a relação entre dívida líquida e Ebitda [lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações, na sigla em inglês], bem abaixo da média do setor, tanto com investimentos quanto com dividendos, segundo os analistas.

“No geral, acreditamos que a Eletrobras pode se tornar uma grande consolidadora do setor elétrico no Brasil. Com um balanço desalavancado e a necessidade de otimizar sua estrutura de capital, acreditamos que a empresa pode ver fusões e aquisições como uma forma mais rápida de adquirir mais capacidade e expertise do que desenvolver internamente”, avaliam os analistas.

No entanto, o tamanho da Eletrobras pode limitar as oportunidades, já que a aquisição teria que ser significativa para impactar o balanço da companhia.

Publicidade

“Dito isso, estimamos que a Eletrobras potencialmente tirará proveito de seu grande porte e posição de balanço confortável e buscará oportunidades brownfield (já existentes), bem como diversificação para outros segmentos além de distribuição e geração”, aponta o Goldman.

A expectativa é de que os fatores citados acima, associados à renovação de algumas concessões, possam levar a um aumento do Ebitda da Eletrobras de até R$ 14 bilhões no médio prazo, atingindo cerca de R$ 27 bilhões em 2029. Sem a capitalização, o Ebitda alcançaria R$ 11,6 bilhões. Atualmente, o Ebitda está em R$ 15 bilhões.

O Goldman também vê um potencial de listagem e venda de subsidiárias da Eletrobras. A estatal tem atualmente uma estrutura corporativa com várias outras companhias. Sendo uma corporação, poderia desmembrar ou vender parte de suas participações, o que ajudaria a precificar melhor os ativos subjacentes da empresa.

Continua depois da publicidade

Menos especulação, mais valor

Para os analistas Pedro Manfredini, Flavia Sounis e Bruno Vidal, que assinam o relatório do Goldman, a operação pode destravar entre R$ 65 bilhões e R$ 70 bilhões em valor para os acionistas da estatal, praticamente dobrando o valor de mercado da companhia, atualmente em torno de R$ 68 bilhões.

O UBS BB tem recomendação de compra para Eletrobras PNB (ELET6), com preço-alvo em R$ 70, potencial de alta de 64% frente o fechamento de quinta-feira. Já em caso de não privatização, o preço-alvo é de R$ 30 (29% menor em relação à cotação do último dia 14).

Mesmo sem levar em conta o processo de capitalização, o Goldman Sachs tem uma visão positiva para a Eletrobras. Os analistas reiteraram na semana passada a recomendação de compra dos papéis, com preço-alvo de R$ 46 por ação ELET3 (upside de 6%) e R$ 51 para ELET6 (upside de 20%).

Publicidade

Porém, caso a privatização ocorra, o potencial de alta é muito maior, com o Goldman projetando ver a ação ELET6 superar os R$ 74. No cenário pós-capitalização, tendo como base os potenciais ganhos de eficiência, uso de créditos tributários e otimização da estrutura corporativa, o preço das ações ON poderia ficar na faixa entre R$ 65 a R$ 67,60 (potencial de alta entre 50% e 56%) e, no caso das ações PNB, entre R$ 71,80 e R$ 74,60 (valorização entre 69% e 75%).

Giuliano Ajeje, diretor do UBS BB, afirmou em evento do TCU sobre o tema que importantes fundos de pensão e de infraestrutura globais estão estudando a operação. Segundo ele, hoje a Eletrobras é vista pelos investidores como uma empresa especulativa, e a expectativa é de que a privatização traga mais previsibilidade sobre o futuro da companhia.

“A janela que temos hoje é muito positiva. Quando falamos da possibilidade de jogar a operação para o segundo semestre, começamos a correr riscos de (a janela) piorar ou se fechar. Teremos eleições, não sabemos o desfecho da guerra na Ucrânia”, afirmou.

Cronograma no radar

Atualmente, a União possui 72,33% do capital votante da Eletrobras – com a privatização, esse percentual seria reduzido para 45%. A participação do Estado na empresa seria diluída com a emissão de novas ações.

Com a reestruturação societária, a União continuaria com controle de Eletronuclear e Itaipu e com a continuidade de programas setoriais, entre eles, Procel e Luz para Todos.

O modelo de desestatização também prevê que os acionistas só poderão votar com até 10% do seu capital, independentemente do tamanho de sua participação na companhia, o que tornaria a Eletrobras uma companhia sem controlador definido.

O BNDES calcula que todo o processo poderá movimentar R$ 100 bilhões. Cerca de R$ 20 bilhões são esperados com a outorga (oferta inicial) e R$ 80 bilhões de potenciais ofertas secundárias da venda de ações remanescentes.

Leia também
Eletrobras: privatização entra em fase decisiva no TCU; saiba o que está em jogo

O cenário ideal para os investidores é de que o processo envolvendo lançar a oferta e buscar investidores seja fechado antes de 12 de maio, para que o leilão ocorra dia 13. Assim, sairá em 2022 e não será afetado pelas eleições.

Como o ministro Vital do Rêgo deve pedir vista nesta quarta-feira, para ainda dar tempo de concluir os trâmites para a operação de desestatização da empresa no mês que vem, o prazo de vista não poderia ser maior do que sete dias, estendendo o julgamento final para o dia 27, o que ainda é visto como um tempo curto para realizar o leilão no dia 13 de maio.

Cabe ressaltar que o regimento do TCU determina que os pedidos de vistas não podem passar de 60 dias e a definição do prazo deve ser coletiva, em votação dos ministros da Corte.

O cenário-base que se desenha no momento é que o plenário do Tribunal vote por um período mais curto para que o ministro devolva o processo. Contudo, seria um período maior que sete dias: conforme destacou o jornal O Estado de S. Paulo, entre 20 e 30 dias, o que inviabilizaria a operação no mês que vem.

Mas ainda há uma outra janela no radar, que levaria ao adiamento da oferta para meados de agosto. Segundo um gestor que acompanha a operação de perto, o adiamento para agosto não inviabilizaria a operação, mas tornaria a oferta mais incerta, a depender das condições de mercado durante o mês e ainda mais levando em conta a aproximação das eleições. Contudo, ele ainda vê chances do processo ser concluído em maio.

Cabe ressaltar que, além da segunda e última aprovação do TCU, a Eletrobras ainda precisa passar por algumas etapas internas, como as publicações do formulário 20-F na SEC, a CVM dos EUA, e do prospecto da oferta.

Capacidade de investimento

Paulo Guedes, ministro da Economia, afirmou que a desestatização permitirá fortalecer o caixa da empresa, em um momento em que o mundo discute a transição do atual modelo energético para outro menos poluente e mais sustentável.

“Estamos saindo de um passado legado por esta belíssima empresa, a maior da América Latina em geração, transmissão e distribuição de energia, mas que foi atingindo seus limites. Hoje, a Eletrobras precisaria investir R$ 15,7 bilhões por ano para se manter com o mesmo grau de relevância, mas só consegue investir R$ 3,5 bilhões. Há sinais visíveis de que, se o Brasil crescer como esperamos que cresça, nos próximos anos a empresa, com sua atual configuração societária, não conseguirá [manter] a capacidade de investimento, não só se colocando em risco, como podendo comprometer o futuro da segurança energética do Brasil”, disse em evento promovido pelo TCU para discutir a modelagem do processo de desestatização da empresa.

Para o BNDES, caso a privatização não saia, existe a possibilidade de a usina nuclear de Angra 3 não ser concluída e, consequentemente, ser fechada. As obras do empreendimento, que estão a cargo da Eletronuclear, parte da Eletrobras, foram paralisadas desde 2015 por causa de denúncias de corrupção e superfaturamento.

A renovação da concessão da usina hidrelétrica de Tucuruí, que também é operada pela Eletrobras atualmente, também estaria em risco. “A empresa e a sociedade brasileira talvez tenham que arcar com os custos como consequência disso”, afirmou Gustavo Montezano durante o evento do TCU.

Rodrigo Limp, presidente da Eletrobras, apontou no evento que, “apesar da evolução positiva em todos os indicadores financeiros, a companhia vem perdendo participação no setor, tanto em geração, como em transmissão”, destacando sua reduzida capacidade de investimento.

“Quando olhamos o futuro da empresa, nos planos de negócio está previsto o investimento, até 2026, R$ 39 bilhões, ou seja, uma média de R$ 8 bilhões. Sendo que, em 2022, o valor estimado de investimento é de R$ 5 bilhões. Ou seja, a expectativa é que esse valor cresça a partir de 2023, com a desestatização”, avaliou.

(com Estadão Conteúdo e Agência Brasil)

Transforme seu FGTS em investimento: use até 50% do seu FGTS para investir na Eletrobras, a maior empresa de energia da América Latina.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.