EUA, China, Europa e ouro: gestoras de ETFs buscam produtos internacionais para impulsionar o mercado

Instituições como XP e Itaú Asset analisam produtos estrangeiros para ampliar oferta local, hoje com 31 ETFs; BlackRock aposta em BDRs de ETFs

Beatriz Cutait

(Shutterstock)

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SÃO PAULO – Há pouco mais de três anos, ao fim de 2017, eles somavam apenas 24 mil de um grupo de investidores da Bolsa brasileira da ordem de 620 mil pessoas físicas. Na época, havia no país apenas fundos de índices (ETFs) de renda variável, e o mercado acionário engatava o segundo ano do ciclo de cinco anos de valorização do Ibovespa, em vigor pelo menos até 2020.

Hoje, os 284 mil investidores desse nicho contam com uma oferta de 31 ETFs no Brasil, dos quais a maior parte de renda variável. Os índices que buscam replicar o desempenho do Ibovespa lideram em termos de negociação, com produtos que visam espelhar a trajetória do índice S&P 500 e de small caps da Bolsa local na sequência no ano.

Apesar de a sigla em inglês para “Exchange Traded Funds” deixar alguns receosos sobre a complexidade do produto, o instrumento tem como objetivo simplificar a vida do investidor, ao replicar o desempenho de um índice.

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A partir de um ETF, é possível negociar em bolsa a carteira teórica de referenciais como o Ibovespa ou do índice americano S&P 500, sem ter que comprar um por um dos ativos ou decidir em que momento aumentar e diminuir as posições. Cabe a um gestor essa tarefa, e a um custo baixo, afinal, a ideia é acompanhar a trajetória do benchmark, não superá-la.

Apelo global

A grade de produtos tem se diversificado ao longo do tempo. Do lado da renda fixa, o investidor consegue negociar fundos de índices que replicam índices compostos por títulos do Tesouro indexados à inflação ou com retornos prefixados.

No grupo da renda variável, o investidor consegue hoje investir em carteiras com foco em fundos imobiliários, ouro, dividendos e ESG, entre tantas outras. E uma temática vem ganhando fôlego dentro das gestoras: a de produtos internacionais.

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Atualmente, é possível comprar um índice para se expor a ações globais ou a um portfólio apenas com ações de empresas chinesas ou europeias, por exemplo. Em breve, o mercado de moedas digitais também terá seus representantes na B3, com ETFs de criptomoedas e de Bitcoin.

A XP entrou nesse mercado em novembro com o ETF XFIX11, com foco em fundos imobiliários, e tem hoje cinco fundos de índice sob gestão, com o da China (XINA11) entre os destaques. Lançado em dezembro, ele tem o quarto maior número de investidores, da ordem de 31 mil.

A ideia é seguir apostando na oferta de produtos internacionais de renda variável e, segundo Fabiano Cintra, especialista de fundos da XP, a gestora está para lançar outros três ETFs de grandes mercados, além de produtos vinculados a índices domésticos.

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“O principal driver é democratizar o instrumento no Brasil, dar acesso e contribuir para o investidor brasileiro pessoa física. Com tíquetes acessíveis e um menu de possibilidades amplo para a construção de bons portfólios”, diz Cintra.

Embora esteja em expansão, o analista lembra que a indústria de ETFs representa uma pequena fração, na casa de 0,6%, do mercado de fundos brasileiro, hoje com cerca de R$ 6,2 trilhões de patrimônio.

No mundo, existem aproximadamente 7,6 mil ETFs, segundo informações da XP. O valor de mercado dessa classe de ativos já atingiu US$ 7,7 trilhões e, de 2015 a 2020, houve um crescimento médio anual da ordem de 22% em valor de mercado e de 11,1%, em quantidade de ETFs. Leia mais aqui.

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No Brasil, onde as bases de referência são muito menores, o número de investidores do varejo de ETFs tem crescido substancialmente ano a ano. De 2017 para 2018, a alta foi de 68%. Em 2019, de 171% e, no ano seguinte, de 122%.

Só nos dois primeiros meses de 2021, mesmo com o aumento da aversão a risco e a queda do Ibovespa, o grupo aumentou em 17%, para 284.179 investidores.

Mas a expansão significativa não é exclusividade do público pessoa física. Tanto que a participação do pequeno investidor segue sem grandes alterações nos últimos anos, com cerca de 18% do mercado.

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Na avaliação de Cintra, a falta de inovação de produtos no mercado contribui para a baixa participação de ETFs na carteira do investidor. “Vimos uma oportunidade para democratizar o acesso.”

Gestora responsável pelo primeiro ETF do mercado brasileiro, o PIBB11, a Itaú Asset tem hoje 13 fundos de índice, dos quais um tem foco no exterior, no mercado acionário americano (SPXI11).

E segundo Renato Eid, head de estratégia beta e integração ESG da Itaú Asset, a ideia também é expandir esse leque. “Dado o momento que estamos vivendo, não é uma questão oportunista, mas estratégica. Faz sentido, sim, olhar para temas internacionais”, afirma. “Buscamos suprir a necessidade do nosso investidor, e ela passa por aumentar sua diversificação de portfólio.”

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A taxa de juros em um patamar tão alto no Brasil por tantos anos, diz Eid, contribuiu para o ritmo mais lento de inserção dos ETFs na carteira do brasileiro. Até porque os produtos de renda fixa só foram criados em setembro de 2018.

“O brasileiro, via de regra, nunca teve que pensar em investimento por crédito estruturado, ele tinha o CDI”, pontua.

Escopo ampliado

Com o último ETF, o IVVB11, que replica o S&P 500, lançado em 2014, a BlackRock está apostando agora em um produto similar: os BDRs de ETFs. Eles também são negociados em Bolsa e contam, da mesma forma, com uma estratégia passiva, isto é, a proposta de um BDR de ETF é replicar o desempenho do índice de referência.

A negociação desses produtos foi autorizada em setembro de 2020 e está ganhando tração neste ano. A BlackRock já lançou 39 BDRs de ETFs, que estão aos poucos ficando acessíveis a qualquer investidor.

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A partir deles, é possível acessar índices de ações globais, de setores específicos, como financeiro, aeroespacial e biotecnologia, e temáticos como o ouro e a prata, entre tantos outros.

“A principal estratégia é trazer os ETFs internacionais para cá, o que pode ser via fundos ou BDRs de ETFs, que são uma forma muito simples e descomplicada para o investidor”, diz Carlos Takahashi, presidente da BlackRock no Brasil.

Para 2021, a BlackRock está atenta a uma nova leva de BDRs de ETFs da Europa. “Até o início do segundo semestre devemos ter essa plataforma consolidada.”

Tributação como entrave

Ainda que os ETFs estejam aos poucos ganhando apelo na carteira de investidores pessoas físicas no Brasil, um aspecto segue como entrave ao crescimento do produto, segundo Lavínia Martins, planejadora financeira com certificação CFP: a tributação.

Ao investir em um ETF (e em um BDR de ETF) de renda variável, o investidor fica sujeito à cobrança de Imposto de Renda, com uma alíquota de 15% sobre o ganho obtido nas negociações. No caso do ETF de Ifix, a alíquota de IR é de 20%.

E fica sob responsabilidade do investidor calcular o valor devido com base no lucro das vendas realizadas no mês e pagar, via DARF (Documento de Arrecadação de Receitas Federais), até o último dia do mês seguinte à venda. Já nos ETFs de renda fixa, o IR é retido na fonte.

“As pessoas precisam manter um registro, um controle, especialmente no caso de ETFs de renda variável. Acho que dificulta a compra pela pessoa física”, diz Lavínia.

Beatriz Cutait

Editora de investimentos do InfoMoney e planejadora financeira com certificação CFP, responsável pela cobertura do universo de investimentos financeiros, com foco em pessoa física.