Efeito “bola de neve”? Louise Barsi e Tiago Reis contam como escolhem ações para ganhar com dividendos

Especialistas revelam estratégias e quando está na hora de desistir e vender

Katherine Rivas

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“Para ver a bola de neve, primeiro precisa deixar nevar”. A frase é de Louise Barsi, economista e sócio-fundadora do Ações Garantem o Futuro, para ser referir à disciplina e à paciência como as principais virtudes – mas também os maiores desafios – do investidor que busca viver de renda passiva.

Na visão da economista, o segredo para colher bons frutos do investimento em ações está em escolher boas empresas, a bons preços e que paguem bons dividendos. E foi esta estratégia que levou o pai dela, Luiz Barsi Filho, um dos maiores investidores da Bolsa brasileira, a acumular um patrimônio durante mais de 50 anos que lhe rendeu R$ 1 milhão em dividendos por dia em 2021.

Investir com foco em dividendos foi uma estratégia que ganhou força em tempos de crise e volatilidade, mas também gera alguns questionamentos entre agentes de mercado apegados a estratégias de valorização.

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Mas, como diria Tiago Reis, fundador da Suno Research, dividendo é consequência de uma empresa que aloca de forma eficiente o seu capital, gera caixa e é resiliente. Afinal, o que importa é o fundamento, que é o “nome do jogo”.

Louise e Reis debateram o tema na Expert XP nesta quinta-feira (4). O painel contou também com a participação de Marcos Peixoto, sócio da XP e CEO da XP Asset Management.

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Quando comprar uma ação?

Por falar em preços convidativos, na visão dos especialistas ainda há muitas ações baratas na Bolsa brasileira. Mas como separar o joio do trigo e escolher boas empresas para gerar renda passiva?

Para Louise, existem alguns critérios básicos que caracterizam ações de boas pagadoras. O primeiro é que a empresa pertença aos setores de bancos, energia, seguros, saneamento e telecomunicações, também conhecido pelo acrônimo BEST. Estes são os setores “à prova de balas”, reconhecidos pela sua resiliência em tempos de crise, muitos deles atrelados a serviços básicos da sociedade.

A economista destacou que raramente observa ações fora destes setores. Mas existem algumas exceções, como é o caso da Unipar Carbocloro (UNIP6), que produz cloro, fundamental para empresas de saneamento, e é uma das principais fornecedoras da Sabesp. A companhia também fabrica soda caustica e PVC (policloreto de vinilo).

O segundo critério de Louise é investigar e conhecer a empresa que o investidor está comprando, o que passa por entender quem são os sócios, fornecedores, a visão dos clientes. “Boa parte da análise inicial é qualitativa”, destaca ela.

E existe ainda um critério que caracteriza o que chama de “jeito Barsi” de investir, que é escolher ações que ofereçam no mínimo 6% de dividend yield (taxa de retorno em dividendos). Estas, segundo a economista, servem para uma carteira “previdenciária”, que vai auxiliar na aposentadoria.

A importância de seguir estes critérios é poder estabelecer metas de ações a serem adquiridas, segundo Louise. Afinal quanto mais ações o investidor possui, maiores são os dividendos recebidos. E o preço também importa: quem compra barato compra mais.

Já para Reis, da Suno Research, os critérios indispensáveis para comprar uma ação são: empresas com balanço forte, baixo endividamento, rentabilidade sobre o capital acima da média, companhias bem administradas e com várias avenidas de crescimento – de preferência que cresçam acima do PIB (Produto Interno Bruto).

Ele também destaca a importância de a companhia ter riscos toleráveis e valuation (avaliação de uma empresa) interessantes.

Se o investidor conseguiu achar uma “joia rara” que reúna todos os requisitos, vale a pena a compra, segundo Reis. Mas ele também dá uma dica, seguida por vários dos seus analistas: “Converse todo dia com pelo menos uma pessoa da empresa e leia um relatório sobre o setor no qual ela está inserida”. Isso inclui desde alguém da área de relações com investidores, um acionista, um analista, um cliente. Na visão dele, se aprofundar no conhecimento é a melhor forma de fazer boas escolhas, ainda pouco presente entre os investidores pessoa física.

Reis também destaca a importância de não comprar uma ação apenas pelos dividendos, e sim considerar que eles são consequência de uma empresa que aloca de forma eficiente o seu capital, tem boa gestão, balanço sólido e gera caixa.

Segundo Reis, o erro de muitos investidores é se basear em rankings passados de distribuição, sem analisar se os dividendos são recorrentes ou se partiram de uma distribuição atípica que pode não se repetir no futuro.

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E quando vender uma ação?

Na hora de comprar ou vender, não há nada melhor que o “teste do travesseiro”, dizem os especialistas. Quem consegue dormir em paz com suas ações provavelmente fez uma boa escolha.

Os especialistas lembraram que muitas vezes o investimento em ações tem uma forte influência comportamental. Sabe aquele papel que incomoda na carteira por ter causado muito prejuízo? Muitos investidores continuam investindo nesse tipo de “pedra no sapato”, tentando melhorar o preço-médio pago pelo ativo, apenas para fugir de aceitar que erraram.

“É melhor assumir o erro quando apenas o seu ego está ferido, e não o seu bolso”, afirma Louise. Para ela, a venda de uma ação deve ocorrer quando esta perdeu os fundamentos pelos quais o investidor a comprou.

Ela exemplifica com a venda das ações de Itaúsa pelo seu pai, Luiz Barsi, em 2021. Para quem não lembra dessa história, contamos nesta reportagem:

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Itaúsa foi por muito tempo uma das ações “queridinhas” dos investidores que gostam de dividendos. Mas em certo momento, segundo Barsi, a empresa mudou a sua trajetória e decidiu focar em investimentos para diminuir a sua dependência do banco Itaú. O resultado foi dividendos cada vez mais magros.

“A empresa que mudou o fundamento pode não ser necessariamente ruim, mas seguiu por outro caminho”, reforça a economista.

Para Reis, a deterioração dos fundamentos também é um indicativo de venda. Ele, no entanto, opta por se desfazer de ações também quando surge uma oportunidade melhor ou quando o papel alcançou um preço muito acima da média, e é hora de embolsar os ganhos.

Para quem está em dúvida se chegou a hora de vender uma ação da carteira, Marcos Peixoto, da XP Asset Management, deixa uma dica. Pergunte-se: se eu não tivesse essa ação em carteira, estaria comprando neste momento?

Se a resposta é não, é um sinal de alerta. Talvez você esteja comprando mais porque está perdendo dinheiro e tem dificuldade de aceitar.

Peixoto ainda destaca a importância de estabelecer metas claras com preços. É preciso ter um preço para comprar mais ações e outro que indica que está na hora de vender. “Com esses valores preestabelecidos fica mais fácil de cumprir metas e aproveitar oportunidades”, afirma.

A bola de neve

Provavelmente já ouviu por aí da importância de reinvestir os dividendos recebidos durante os primeiros anos para conseguir viver de renda.

Louise Barsi aponta que se o investidor comparar o retorno total de alguns índices da Bolsa, mais da metade do desempenho vem do reinvestimento dos dividendos. É a famosa bola de neve.

Ela explica que nos primeiros 3 ou 4 anos de investimento, criar a bola de neve pode ser um processo desanimador. Enquanto outros investidores aproveitam as flutuações do mercado para comprar diversos ativos, o investidor de renda passiva precisa permanecer focado nos aportes constantes das empresas escolhidas e no reinvestimento dos dividendos.

Mas uma vez passada esta fase, o investidor consegue ver o patrimônio engordando e a renda vinda dos dividendos aumentando, afirma Barsi. “De repente seus dividendos pagam uma conta de luz, de água, depois equivalem ao valor do seu aporte mensal”, comenta.

“Para ver a bola de neve, primeiro precisa deixar nevar e isso exige disciplina e paciência”, reforça.

Ela cita como exemplo a compra de ações da Cielo (CIEL3) por Luiz Barsi. A companhia, que tinha bons fundamentos mas passou por períodos difíceis e precisou reinventar o seu negócio, foi mal vista durante anos no mercado. Barsi, no entanto, continuava aportando nela, convicto de que a ação daria os seus frutos. Até que finalmente surpreendeu o mercado e ganhou destaque em 2022, quando voltou a atrair recomendações.

“Muitas vezes o mercado é bipolar e vai taxar o investidor de dividendos de louco. Tem que ter paciência, dividendo é bom mas às vezes sai da moda, e tem que saber o que está fazendo”, completa.

No radar dos especialistas

Questionados sobre o que estão enxergando como oportunidade e estão comprando, Peixoto, da XP, destacou bancos, Eletrobras e empresas de commodities como a Petrobras (PETR4).

Já na visão de Reis, as boas oportunidades estão em Braskem (BRKM5), Banco do Brasil (BBAS3), BR Partners (BRBI11), Boa Safra (SOJA3) e 3Tentos (TTEN3), além da Petrobras.

Para Louise Barsi, duas são as empresas que estão atrativas e com bons fundamentos no momento: Banco do Brasil (BBAS3) e Cosan (CSAN3)

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Katherine Rivas

Repórter de investimentos no InfoMoney, acompanha ETFs, BDRs, dividendos e previdência privada.