“Não me interessa ter Itaúsa”, diz Barsi; veja outras ações que o investidor vendeu por prever dividendos magros

Para ele, a holding está direcionando recursos para novos investimentos poucos rentáveis

Katherine Rivas

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Luiz Barsi, um dos maiores investidores individuais da Bolsa brasileira, está comprando ações que caíram bastante recentemente, como Cielo (CIEL3) e IRB (IRBR3), além de outras que vê como novas oportunidades. Ao mesmo tempo, está abrindo espaço no portfólio vendendo papéis que deixaram de representar boas apostas em dividendos, sua principal estratégia no mercado.

É o caso das ações preferenciais e ordinárias do Itaú (ITUB4; ITUB3), que foram vendidas por Barsi em 2021. “O Itaú acelerou muito a base acionária, deu uma bonificação alta e passou a ter uma distribuição de dividendos que não faz parte da estratégia da minha carteira”, revela.

A mesma lógica serve para as ações do Bradesco (BBDC4), que também saíram do portfólio. Outra que perdeu lugar na carteira de Barsi foi Itaúsa (ITSA4). “Vendi tudo o que tinha de ITSA4 em 2021”, conta.

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Barsi recebeu o InfoMoney nesta semana no seu escritório para uma entrevista exclusiva sobre a sua carteira, perspectivas de mercado e as ações que se tornaram as suas preferidas para 2022. Durante a conversa, o investidor contou como está investindo agora.

Leia a primeira parte da entrevista aqui:

Confira abaixo a segunda parte da entrevista:

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O risco Berkshire Hathaway

A Itaúsa (ITSA4) foi por muitos anos uma das ações favoritas dos investidores que aplicam na Bolsa com o objetivo de receber dividendos. Para Barsi, porém, esse não é mais o caso atualmente.

Ele acredita que a holding está direcionando os recursos para novos investimentos não tão rentáveis quanto deveriam ser. Cita, por exemplo, a Alpargatas (ALPA4), empresa em que a Itaúsa detém participação de 29% – e, na avaliação do investidor, paga dividendo muito baixo.

As compras que a Itaúsa faz se refletem na forma como a holding distribuirá seu lucro, diz Barsi. Se os proventos das subsidiárias fossem extraordinários, a Itaúsa poderia pagar um dividendo melhor aos seus acionistas. “Mas ela não paga, então para mim não interessa ter Itaúsa, seja qual for a condição dela. Eu quero ter empresas que paguem dividendos”, aponta.

Em live realizada pelo InfoMoney em janeiro, Tiago Reis, fundador da Suno Research, afirmou que a Itaúsa poderia estar se tornando uma holding ao estilo da Berkshire Hathaway, do investidor Warren Buffett, cujo objetivo principal seria crescer fazendo novos investimentos e adquirindo subsidiárias, e não necessariamente distribuir dividendos.

De 2016 para cá, Itaúsa chegou a oferecer payouts excelentes – como o de 2019, quando a empresa distribuiu 96,3% do lucro – e outros baixos – como em 2021, quando foi de 26,8% (até setembro). Os dados são do analista independente Ricardo Schweitzer, coletados a pedido do InfoMoney, e indicam que, em geral, as distribuições foram muito inferiores à receita que a holding obteve com suas subsidiárias.

Sem Vale e Petrobras

Nos últimos meses, duas empresas de commodities começaram a figurar nas carteiras de dividendos de várias casas de análise e corretoras: Petrobras (PETR4) e Vale (VALE3), ambas consideradas boas opções para quem busca proventos em 2022.

O dividend yield (taxa de retorno com dividendos) projetado da Petrobras supera 19%, enquanto as projeções para Vale são de um dividend yield de cerca de 18% nos próximos 12 meses.

Barsi discorda da ideia de incluir as duas companhias em estratégias de dividendos. “Vale e Petrobras é para quem compra imagem, eu não compro imagem, compro perspectiva de resultados”, defende.

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Barsi lembra que já teve VALE3 no passado, quando a ação custava apenas R$ 6. Atualmente, cotada acima de R$ 90, ele considera que não faz sentido adquirir os papéis, negociados a um preço muito elevado, o que pode causar perdas grandes em momentos ruins de mercado.

“Compramos esses papéis quando estão em queda ou em um preço muito bom”, comenta Barsi, que se desfez das ações quando alcançaram a cotação de R$ 50.

“A Oi eu quero ver bem longe”

Os segmentos preferidos de Barsi são cinco, representados pelo acrônimo “Best”: bancos, energia, telecomunicações, saneamento e seguros.

Em bancos, ele reforçou a sua preferência pelo Banco do Brasil (BBAS3), que remunera em um intervalo menor, mas com um payout maior do que o Santander (SANB4), que ele também possui em carteira. No banco espanhol, interessa a distribuição trimestral de proventos.

Além disso, agradou o fato de os acionistas terem sido contemplados com ações da Getnet (GETT11), empresa do setor de adquirência na qual o Santander detinha 100% de participação. Quando a Getnet foi listada na Bolsa, em outubro de 2021, os acionistas do banco receberam 0,25 ação da empresa.

Já no segmento de energia, embora não esteja comprando mais ações no momento, Barsi mantém as suas posições em Taesa (TAEE11) e Isa Cteep (TRPL4), as quais continua enxergando como ótimas pagadoras de dividendos. A Taesa, por exemplo, já está há dez anos na sua carteira.

“Eu imagino que no futuro a Taesa e a Isa Cteep possam se fundir, porque elas pertencem ao mesmo dono [a Isa Brasil, que detém 35,82% da Isa Cteep e 14,88% da Taesa]”, comenta. Para Barsi, se isso ocorrer, seria um bom negócio para o investidor com foco em dividendos.

Outra companhia com a qual se mostra otimista é a Cesp (CESP6), na qual ele investe desde 1972. A VTRM, fruto da fusão entre o Grupo Votorantim e a CPP Investments, está dando passos para incorporar as ações da Cesp na sua totalidade, passando a ser listada no Novo Mercado. “A Cesp já deu motivos suficientes para interpretarmos que vai continuar pagando bons dividendos e esperamos que a nova empresa também”, diz.

Já em relação a AES Brasil (AESB3), que também está em sua carteira, Barsi acredita que embora a companhia tenha deixado de pagar dividendos por conta da realização de novos investimentos e dos impactos da crise hídrica de 2021 – a pior seca no País em 91 anos – o efeito deve ser temporário.

No setor de telecomunicações, Barsi não tem mais nenhuma posição no momento, após ter vendido Vivo (VIVT4) e Oi (OIBR3).

“A Oi eu quero ver bem longe”, brinca, após dizer que já teve uma pequena posição na companhia no passado, compra que fez após o anúncio de que a empresa poderia pagar R$ 2 bilhões em dividendos aos acionistas por ano. Decidiu vendê-las quando a promessa não se concretizou. A companhia está em recuperação judicial desde 2016.

No caso da Vivo, a visão de Barsi é de que existem empresas mais confiáveis, a preços mais convidativos e com boa previsibilidade de proventos do que as de telecomunicações. Pesou na venda das ações da Vivo a falta de previsibilidade – a companhia anunciava distribuições, semestrais, mas deixava o tempo passar sem estabelecer a data do pagamento. “Vendi a Vivo, porque com o dinheiro de uma ação da Vivo eu compro 20 IRB”, diz.

Em saneamento, ele mantém posição na Sabesp (SBSP3), ação que comprou quando custava apenas R$ 3. “A Sabesp é uma péssima pagadora de dividendos para quem for comprar agora, mas para quem comprou a R$ 3 o dividendo é bom”.

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Katherine Rivas

Repórter de investimentos no InfoMoney, acompanha ETFs, BDRs, dividendos e previdência privada.