Coinbase desembarca de vez no Brasil com “artilharia” de criptomoedas

Exchange americana de capital aberto gesta projeto desde 2021 e estreia plataforma com 240 ativos digitais, NFTs e staking

Paulo Barros

Fábio Plein, executivo da Coinbase no Brasil e na América Latina (Divulgação)

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A Coinbase (C2OI34) abre, enfim, a partir desta terça-feira (21), suas portas para o cliente de varejo brasileiro. Após gestação de mais de um ano, a corretora americana anuncia hoje o lançamento da sua plataforma em português, trazendo para o país boa parte da experiência oferecida ao consumidor nos EUA: mais de 240 ativos digitais com suporte ao Pix, além de marketplace de NFTs, carteira digital e plataforma de staking, o mecanismo de renda passiva em que o usuário deposita suas criptos em troca de um rendimento.

“A gente está trazendo para o Brasil a mesma experiência de usuário que nos fez a exchange líder nos EUA, que é um mercado super importante de cripto, e que, hoje, mais de 100 milhões de pessoas utilizam ao redor do mundo”, explica Fábio Plein, diretor regional das Américas da Coinbase, em entrevista ao InfoMoney.

“É um mercado que cresceu muito nos últimos anos, mas acreditamos que ainda estamos no início dessa jornada, e ainda há muitos ciclos positivos de crescimento para serem desenvolvidos”.

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Entre os principais produtos oferecidos pela Coinbase em outros mercados, a única ausência no Brasil neste lançamento é o cartão de débito carregado com criptomoedas, solução que rivais já apresentaram no país. A empresa diz focar nesse primeiro momento nos produtos mais fundamentais, mas reforça uma visão de longo prazo com o objetivo de ser uma ponte para o início da jornada dos usuários com cripto.

Por enquanto, a estratégia passa por permitir que os usuários levem seus reais para a carteira e consigam adquirir ativos digitais. Em um segundo momento, novas soluções devem chegar, como as desenvolvidas na Base, uma blockchain compatível com Ethereum (ETH) anunciada em fevereiro.

Expansão

A Coinbase, assim como outras corretoras globais de criptomoedas, enxerga o Brasil como hub para expansão para o resto do continente. A estratégia de olhar para fora dos EUA vem ganhando força dentro da empresa. Segundo reportagem da Bloomberg, a companhia já estaria considerando internacionalizar a operação.

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O principal motivo seria a pressão cada vez maior exercida por reguladores, ávidos por criar barreiras para uma possível “nova FTX” após o colapso da exchange de Sam Bankman-Fried, em novembro.

No Brasil, a empresa diz encontrar um ambiente regulatório mais amigável, com representantes que entendem a importância de não engessar uma indústria nova e que apresenta oportunidades para o país.

A Coinbase não esclarece se o produto de staking, que virou alvo da Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (a SEC), ganhou aval direto de reguladores brasileiros – executivos conversaram ainda no ano passado com o Banco Central, por exemplo. O porta-voz da companhia, no entanto, diz que tem “muita segurança” de que os produtos lançados hoje estão em linha com o que é permitido atualmente pela legislação brasileira.

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Hiato

A Coinbase tocou os pés no Brasil ainda em 2021, quando inaugurou um polo tecnológico para atrair engenheiros e outros profissionais do setor Web3. Pouco depois, especulou-se que a companhia estaria considerado entrar no país por meio de aquisição: primeiro da Bitso, da qual é investidora, depois da 2TM, dona do Mercado Bitcoin. As negociações, no entanto, não teriam engrenado.

Semanas depois, Plein, executivo com passagens por PicPay e Uber, chegou para chefiar a operação brasileira – passando a assumir, desde dezembro de 2022, a direção para a América Latina. “A gente acredita muito na força do nosso produto, na experiência e na qualidade da tecnologia. São coisas que dependem muito da gente, por isso optamos entrar no mercado brasileiro com a nossa própria marca”, conta.

A Coinbase ficou fora do radar no Brasil durante boa parte de 2022, um ano difícil para o mercado cripto como um todo. A empresa foi uma das que sofreram com a turbulência no setor de ativos digitais, pressionado pelo aumento dos juros nos EUA. A companhia fez demissões e, sendo uma das poucas exchanges com capital aberto, também sentiu o baque nas suas ações, que despencaram mais de 80% no período.

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O executivo à frente da empresa na região, porém, diz que esse não foi o motivo para o hiato entre a o pontapé no país e a chegada do produto para o cliente final. Os últimos meses, diz Plein, serviram para amadurecer o projeto e testar as soluções para garantir que a experiência estivesse de acordo com o padrão de serviço e de confiabilidade que “nos diferenciou ao longo do tempo”. “Esse foi o principal fator”, afirmou.

De qualquer modo, o momento de mercado parece ser mais propício neste começo de 2023. O Bitcoin, principal criptomoeda do mundo, acumula alta de mais de 65% desde a virada do ano, e analistas seguem enxergando potencial de alta em meio à crise dos bancos americanos – tudo o que pode desejar um negócio que vive de cobrança de taxas de negociação.

“Todo o cenário de incerteza com serviços bancários tradicionais vem reforçando a necessidade de cripto como uma alternativa, isso ajuda a explicar esse crescimento. É um início de ano impactante para todo mundo que está envolvido no setor”, avalia o executivo.

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Paulo Barros

Editor de Investimentos