Exchange Coinbase planeja internacionalizar negócio diante de pressão de reguladores

Plataforma global daria à Coinbase maior diversificação de receita, e protegeria empresa de ambiente regulatório mais hostil nos EUA

Bloomberg

(Getty Images)

Publicidade

Clientes institucionais da Coinbase (C2OI34). foram contatados pela empresa para discutir planos de possivelmente lançar uma nova plataforma de negociação de criptomoedas fora dos Estados Unidos, de acordo com três pessoas com conhecimento direto do assunto.

As conversas com formadores de mercado e empresas de investimento abordaram a possibilidade de estabelecer uma base alternativa – fora dos EUA, mercado principal da Coinbase – para clientes globais, disseram as pessoas, que pediram para não serem identificadas porque as discussões são confidenciais. As negociações estão ocorrendo no contexto de uma intensificação da repressão dos EUA às criptomoedas.

A Coinbase ainda não decidiu onde a plataforma pode ser baseada, mas tem conversado com formadores de mercado sobre como se conectarem a ela, disse uma das pessoas.

Continua depois da publicidade

Um porta-voz da Coinbase se recusou a comentar especificamente sobre as discussões, mas disse que, de acordo com sua missão de aumentar a adoção global de cripto, avalia opções geográficas e se reúne “com funcionários do governo em jurisdições regulatórias de alto padrão”.

O ambiente dos EUA para empresas de ativos digitais continua a piorar após uma série de ações regulatórias e falências de bancos. Embora os serviços da Coinbase estejam disponíveis em mais de 100 países, os pedidos de clientes em todo o mundo são atualmente encaminhados para a mesma plataforma dos EUA.

Quando questionada em uma teleconferência no mês passado se a Coinbase consideraria operar um negócio offshore, Emilie Choi, diretora de operações da Coinbase, disse que “a expansão internacional continuará a ser uma parte essencial de como operamos”. A Coinbase é “encorajada” pelas novidades regulatórias na União Europeia e no Reino Unido e continuará a investir na Europa e no Reino Unido, disse Choi.

Continua depois da publicidade

Gigante das criptomoedas

Fundada em São Francisco em 2012, a Coinbase é um dos mais antigos e conhecidos locais de negociação de criptomoedas do mundo, e um dos casos raros neste setor de empresa de capital aberto nos EUA. Seu status como uma das exchanges mais regulamentadas em ativos digitais permitiu que ela emergisse como uma presença constante ao longo da turbulenta história das criptomoedas, e atraísse uma base sólida de clientes consumidores baseados nos EUA. No entanto, o mesmo status também a tornou menos flexível do que seus pares, que na sua maioria operam fora dos EUA.

A potencial expansão da Coinbase vem na esteira de um ataque regulatório contra empresas de criptomoedas nos EUA, desde o colapso repentino da bolsa de ativos digitais FTX no final do ano passado. Nos últimos meses, os reguladores miraram em tudo, desde stablecoins a staking (renda passiva em cripto), impondo milhões de dólares em multas e fechando produtos.

A repressão foi associada ao fechamento de bancos abertos às criptomoedas – incluindo o Silvergate Bank e o Signature Bank –, nos quais as empresas de ativos digitais tradicionalmente confiavam para executar suas operações. Os dois bancos administravam redes de pagamentos instantâneo para a indústria de criptomoedas que facilitavam o fluxo de dinheiro de e para o setor.

Publicidade

Essas condições levaram as empresas de criptomoedas a procurar por locais mais amigáveis, com Dubai, Hong Kong e a Europa, vistos como centros mais acolhedores devido a novas regulamentações, processos de licenciamento dedicados e regimes tributários favoráveis. O capital começou a se mover para fora dos EUA, com a operadora de stablecoin Archblock recentemente transferindo US$ 1 bilhão em reservas do token TrueUSD dos EUA para as Bahamas.

Os executivos da Coinbase expressaram preocupação com a crescente repressão regulatória nos EUA. “Infelizmente, não estamos vendo os reguladores necessariamente acolhendo a transparência e a participação pública em sua elaboração de regras. As agências dos Estados Unidos, em particular, estão demonstrando uma postura desarticulada em relação a cripto que está impulsionando a indústria para o exterior”, disse a empresa em sua carta ao investidor no quarto trimestre.

Proteção

Ao lançar uma plataforma de negociação offshore, a Coinbase seria capaz de proteger sua aposta de que o ambiente regulatório nos EUA não ficará mais hostil, e dar aos clientes internacionais acesso a produtos mais novos que podem ser reprovados pelas autoridades no seu mercado doméstico, como empréstimos e negociações no mundo das finanças descentralizadas (DeFi).

Continua depois da publicidade

“Eu não ficaria surpreso se as bolsas dos EUA desmembrassem entidades totalmente offshore para liberar essas empresas de operar sob o que parece ser um regime regulatório americano cada vez mais difícil”, disse Michael Bucella, investidor de longa data e ex-sócio da BlockTower Capital, de Nova York.

O foco da Coinbase no mercado de varejo dos EUA se tornou uma desvantagem durante a queda nos preços do ano passado, o que levou os consumidores a se afastarem da nascente classe de ativos. A exchange vem perdendo participação de mercado, que caiu de 6,4% em dezembro para 4,2% em fevereiro, segundo o CryptoCompare.

Por outro lado, a Binance, maior exchange de criptomoedas do mundo, ganhou participação, chegando a quase 60% em fevereiro, segundo dados da da plataforma. A Coinbase disse em sua carta a investidores que ganhou participação geral no volume de negociação nos últimos três meses do ano.

Publicidade

Uma plataforma internacional poderia tornar mais fácil para a Coinbase diversificar seu fluxo de receita com taxas de negociação, caso os esforços de diversificação existentes enfrentem desafios regulatórios nos EUA. Os três negócios da empresa – custódia de moedas, stablecoins e staking – estão sob maior escrutínio nos EUA. As receitas da Coinbase caíram drasticamente de US$ 2,5 bilhões no quarto trimestre de 2021 para US$ 629 milhões um ano depois, enquanto suas ações caíram mais de 80% desde o pico em novembro de 2021.

A Coinbase disse em seu balanço do quarto trimestre que estava buscando “expandir o acesso a uma crescente amplitude e profundidade de criptoativos e trilhos de pagamento fiduciário para nossos clientes e expandir o acesso a mais experiências de produtos – tanto aplicativos próprios quanto de terceiros, em grande parte descentralizados”.

O CEO da Coinbase, Brian Armstrong, disse recentemente à Bloomberg que a empresa tem se concentrado em diversificar suas receitas. Ele também disse que a exchange está “abraçando a descentralização” e pediu mais clareza regulatória nos EUA.

© 2023 Bloomberg LP