Vale a pena comprar Bitcoin? Analistas ainda veem potencial após subida recente – se Fed não atrapalhar

Especialistas reforçam tese de que alta da moeda digital está sendo alimentada pela crise bancária, e não pelos resgates ao setor

Paulo Barros

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O Bitcoin (BTC) registra um começo de ano muito positivo após diversas crises em 2022, com alta acumulada de 67% desde a virada para 2023, segundo dados do CoinMarketCap. Mesmo assim, analistas acreditam que ainda há espaço para mais ganhos pela frente.

O salto mais recente veio no final de semana, logo após a notícia, no domingo (19), de que o Credit Suisse estava sendo vendido para o UBS em uma transação de mais de US$ 3 bilhões. Na sequência da novidade, a criptomoeda disparou e rompeu os US$ 28 mil pela primeira vez desde junho.

Alguns analistas apontam que esses ganhos são decorrentes de uma reação esperada da moeda digital a um maior otimismo dos investidores com ativos de risco, afinal o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) estaria pressionado a elevar os juros em um menor grau, ou até mesmo manter as taxas na próxima quarta-feira (22) – agentes de mercado, portanto, estariam se posicionando para esse evento.

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No entanto, a visão não é consensual. Para a gestora de fortunas Bernstein, o comportamento positivo da criptomoeda nos últimos dias é, na verdade, reflexo de uma busca por alternativas ao sistema bancário. Em relatório, a empresa firma que o resgate ao First Republic Bank por várias instituições deixa óbvio que “este é um problema bancário generalizado” e as criptomoedas não são culpadas – Silvergate Bank e Signature, que foram encerrados, eram muito próximos do setor cripto.

“Este é o cenário perfeito para Bitcoin, Ethereum (ETH) e o restante do sistema financeiro descentralizado se destacarem como um sistema alternativo, desvinculado do sistema bancário centralizado tradicional”, escreveram os analistas Gautam Chhugani e Manas Agrawal, da Berstein.

A gestora afirma que os fundos institucionais e o mercado cripto têm sido espectadores nessa crise, e que o “dinheiro cripto nativo” está por trás das recentes movimentações de preços. Desse modo, o espaço maior para ganhos existe porque o capital externo ainda não entrou no setor.

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A análise é similar à de outros especialistas de criptomoedas consultados recentemente pelo InfoMoney, que apontam que parte da força do Bitcoin se deve a recursos que já estavam alocados na classe de ativos – mais especificamente, na stablecoin USDC, criptomoeda indexada ao dólar que entrou em crise de confiança após revelar exposição bilionária ao Silicon Valley Bank (SVB).

A avaliação da Coinbase sobre o Bitcoin vai em linha com a do Bernstein, na aposta de que a tecnologia por trás de blockchains abertas e dos contratos inteligentes contrasta com as “más práticas” dos administradores bancários americanos. Na visão da maior corretora de ativos digitais dos EUA, esse é mais um caso que sustenta o argumento a favor das criptomoedas como alternativa aos “pontos de falha testemunhados no sistema financeiro atual”.

No mesmo tom, as analistas Dessislava Aubert e Clara Medalie, da casa de research Kaiko, apontaram em relatório que o Bitcoin está em um momento ótimo e houve uma reversão de sentimento dramática entre investidores na última semana, com a crise bancária reforçando a tese de reserva de valor do Bitcoin.

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Antonio Bertuccio, head de estratégias da gestora de investimentos quantitativos iVi Technologies, tem uma opinião similar. Para ele, a tração no Bitcoin pode ser explicada pela narrativa que ganha popularidade entre os early adopters da tecnologia, de que a moeda digital, pelas suas características intrínsecas de escassez e descentralização, pode ser vista como proteção contra a impressão de moeda fiduciária.

“O Bitcoin foi criado com uma capacidade máxima de emissão fixada em 21 milhões, portanto ela é intrinsecamente anti-inflacionária”, destaca Bertuccio. “É importante salientar que o Bitcoin foi criado justamente após a crise do subprime em 2008, e Satoshi Nakamoto (seu suposto criador) deixou claro no primeiro white paper (guia) do ativo digital que aquela tecnologia seria importante em momentos de inflação e impressão de moeda”.

Expectativa para a semana

Segundo analistas da corretora de criptomoedas Bybit, ao contrário das semanas anteriores, nas quais havia medo com relação ao destino do mercado diante da maior pressão regulatória, o BTC entra nesta semana com promessa de mais avanços. O nível-chave a ser observado é o de US$ 30 mil.

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“Nada impede que os touros (investidores otimistas) consigam romper a resistência de US$ 30 mil e encontrem um topo semanal próximo de US$ 32 – 33 mil ao longo da semana”, disse a empresa em nota.

Apesar de não haver total consenso de que a alta do Bitcoin se deve às características da tecnologia, especialistas na criptomoeda concordam com analistas do mercado financeiro tradicional quando o assunto é o próximo impulso do ativo: todos concordam que será necessário um empurrão do Fed.

Ainda de acordo com a Bybit, a criptomoeda está em posição confortável diante da crescente narrativa em torno do Bitcoin como reserva de valor, “porém, se a reunião do FED não vier em linha com o que o mercado espera, pode haver um retrocesso para US$ 25 mil”. Em caso de baixa mais intensa, um possível fundo estaria na faixa dos US$ 23 mil, afirmam os analistas da corretora.

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Um dado que anima o mercado é a queda na correlação do Bitcoin com as bolsas de Nova York. Segundo a Kaiko, o nível de correlação do Bitcoin com a Nasdaq está em menor nível desde a crise da FTX, episódio visto como um caso pontual de aumento da correlação – no longo prazo, aponta a casa, o indicador só mostra redução.

Bertuccio, da iVi, aponta o mesmo. “É importante salientar como as criptomoedas estão se descorrelacionando dos mercados americanos e essa tendência deve permanecer nas próximas semanas se a narrativa continuar a mesma”, destacou.

Embora sem cravar um alvo, Edward Moya, analista da formadora de mercado de câmbio Oanda, relembrou a distância que o Bitcoin já percorreu até aqui.

“O Bitcoin está se recuperando à medida que Wall Street se torna mais agressiva ao precificar os cortes nas taxas do Fed e à medida que as preocupações do setor bancário levam alguns a investimentos alternativos. O Bitcoin está mais perto de US$ 40 [agora] do que nas mínimas de novembro”.

Paulo Barros

Editor de Investimentos