Guarda-roupa vira ‘cofre’ e nova renda extra: como comprei meu apê aos 22 anos?

Comprar ou alugar imóvel? Leia relato de jovem que achou resposta para a pergunta em meio a desafios pessoais e de renda

Yeska Coelho

Yeska Coelho segura as chaves de seu 1º apartamento em SP (Arquivo Pessoal)

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O sonho da casa própria é um desejo enraizado por gerações de brasileiros. Mas chegar lá tem os seus desafios. A jornalista Yeska Coelho conta como, aos 22 anos, resolveu comprar seu primeiro apê, ao mesmo tempo em que lidava com um problema que atinge, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), ao menos 5% da população mundial: a compulsão por compras.

A jornalista criou um jeito inusitado de guardar o dinheiro que ia para o ralo em compras desnecessárias, enfrentou o financiamento imobiliário e o burnout até ser apresentada a uma estratégia de planejamento financeiro que a salvou: a planilha de gastos.

A jornalista ressalta que a ferramenta organizou o orçamento e encurtou o caminho para ela realizar não só o sonho da casa própria, mas o da mobília que hoje proporciona conforto ao lar dividido com o marido e gatos na cidade de São Paulo.

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Leia, a seguir, a saga de Yeska Coelho:

“Comprar casa é investimento”. Essa foi, provavelmente, a frase que mais ouvi da minha mãe desde… Sempre. Apesar de tomar a decisão muito cedo de comprar meu primeiro apartamento, levei uns anos até ficar convencida de que isso, de fato, traria retorno financeiro.

Para ser honesta, a pressão familiar falou mais alto na tomada de decisão da compra. Tinha 22 anos, e boa parte dos meus amigos, também da minha idade, falavam que se meter em uma dívida tão alta e longa quando se é muito jovem é loucura. Era uma época em que estávamos na fase de contar moedas para beber no bar, mas eu sempre sonhava com o sofá rosa no meio da sala. 

Além da insegurança, tinha outro agravante (o maior de todos): era muito consumista. A minha rotina era sempre não ter dinheiro o bastante para passar todo o mês. Sabendo do problema, precisei criar alternativas para proteger de mim mesma. 

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Comecei a guardar dinheiro na poupança, mas a liquidez virou meu ponto fraco: toda vez que precisava (quase nunca era necessário) de uma quantia, fazia o resgate e acabava fechando o mês no zero a zero. 

Tentei, então, transferir o dinheiro para os meus pais, mas eles sofriam do mesmo mal que eu. Então, pensei: para o dinheiro vingar, teria de estar protegido por uma barreira literalmente física que impedisse o meu alcance, visto que mesmo as tecnologias mais modernas não me detinham (pelo menos as poucas opções que eu conhecia). E foi aí que tive a ideia de usar o guarda-roupa como meu novo cofre. 

Todo mês, assim que o salário pingava na conta, sacava uma parte, colocava em um envelope e jogava atrás do guarda-roupa. Eu sei que, nem de longe, essa é a melhor estratégia, mas foi assim que consegui juntar o dinheiro para dar como entrada no financiamento após oito meses (e a rentabilidade do móvel e da poupança ficava no mesmo patamar). 

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Fincar os pés no chão

Nesta época, também consegui um trabalho na minha área. O salário era bom – até então, ganhava pouco mais que um salário-mínimo, e saltei para uma renda três vezes maior. Quando se é jovem, é muito fácil se deslumbrar por uma quantia de dinheiro que você julga ser tão alta. Bom é ter pais que trazem a gente de volta à realidade. Esse foi o meu caso.  

Minha mãe, salgadeira, meu pai, porteiro. Apesar de nunca passar nenhuma necessidade, estávamos longe de ter uma vida de luxo. Quando me tornei a principal fonte de renda da minha família, aos 21 anos, tive que começar a fazer uma melhor gestão do salário. 

O problema é que quando se ganha mais, você acha que pode mais, e se perde muitas vezes do grande objetivo e pior: sem perceber isso.

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Financiamento: a grande questão

Encontrei o imóvel perfeito. Te conto os motivos: a localização era boa, o preço acessível e as parcelas mais baixas do que eu imaginava. O financiamento estava sendo avaliado pela Caixa Econômica Federal, pois se tratava de um dos apartamentos do programa Minha Casa, Minha Vida. Já estava tudo certo quando… tudo deu errado.

Fui recusada por uma dívida que tinha feito há alguns anos e meu score era baixo. Em uma segunda tentativa, meu pai se ofereceu para comprar o imóvel no nome dele (e eu assumiria as parcelas). Mais uma vez deu errado. 

Já tínhamos desistido quando uma corretora me telefonou dizendo que realmente aquele apartamento de 44 m², dois quartos, no quinto andar, não seria meu. Mas ela tinha uma contraproposta: no mesmo prédio havia um apartamento menor (38 m²), com um quarto e no terceiro andar. Era o último disponível, e o financiamento já tinha sido pré-aprovado no nome do meu pai. Bastava saber se eu queria ou não. Quem lê o meu depoimento pode concluir a resposta, já que não estaria contando esta história se não tivesse dito sim à nova chance.

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Organização financeira: um remédio ao bolso

O apartamento foi entregue dois anos depois da assinatura do contrato e, durante esse tempo, o caminho foi longo: precisava guardar dinheiro para as reformas e mobília do meu futuro lar doce lar.

No entanto, as contas acumularam, e comecei a procurar novas fontes de renda. Uma dívida nova e eu arrumava outras fontes de renda para cobrir o encargo. Mas, nesse processo de acumular funções, o fastasma do burnout bateu à minha porta. Quase sucumbi!

Por muito pouco não fiquei doente. A iluminação veio do meu namorado (hoje meu marido), que me apresentou uma ferramenta que mudou a minha forma de lidar com o dinheiro: uma planilha de gastos (você pode ter a sua clicando neste link). 

No começo foi difícil manter meu dinheiro dentro do orçamento: precisei fazer muitos cortes, substituir vários hábitos, e com o tempo, apostei em investimentos para ter uma renda extra. 

Para aqueles que ainda se perguntam se vale a pena guardar dinheiro e comprar um imóvel, digo sempre: onde moro, vejo vários anúncios de apartamentos para alugar, cobrando entre 50% e 100% a mais do valor que eu pago na minha parcela de financiamento.

E sobre o tempo da dívida? Existem várias modalidades para ajudar a quitar o imóvel de forma mais rápida, como o uso do FGTS para parcelas futuras e a amortização, um recurso que uso quase todos os meses. Minha dívida de 20 anos já caiu para 10 — e ainda não completei dois anos de financiamento. 

E para quem ficou curioso, a resposta é sim: o sonho do sofá rosa — aquele citado no início do meu depoimento — também se realizou, e escrevo esse texto diretamente do aconchego dele.