Dados de investimentos e seguros vão fazer Open Finance deslanchar? Especialistas divergem

Troca de informações entre instituições financeiras e seguradoras resulta em ofertas mais assertivas ao consumidor, mas decisão depende de outros fatores

Giovanna Sutto

(Markus Spiske/Unsplash​​​​​​​)

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Como parte da agenda de Open Finance, a partir de outubro deste ano o consumidor vai conseguir experimentar na prática o chamado Open Investments, ou o compartilhamento de dados de investimentos. Além disso, a entrada das informações do setor de seguros, o Open Insurance, embora adiada, deve acontecer em 2024.

A possibilidade de integração foi liberada na fase 4 do Open Finance, em dezembro de 2021, mas o mercado enfrenta vários desafios para colocar a infraestrutura de pé, além de lidar com requisitos regulatórios e imprevistos da implementação pelo caminho.

Agora, com as datas se aproximando, há uma expectativa sobre como o aumento do escopo de compartilhamento deve influenciar o ecossistema. Isso porque embora o Open Finance seja referência mundial, ainda há questões a serem respondidas: qual será o comportamento do consumidor final com novos dados, que ainda vê pouco valor em dar consentimento para compartilhar seus dados?

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Otimismo x Realidade

Durante um painel na Febraban Tech 2023 nesta semana, Sergio Favarin, vice-presidente de negócios da consultoria de tecnologi GFT Technologies, afirmou que “a abertura do escopo vai impulsionar a percepção de valor que os consumidores tem do Open Finance”. Na visão, dele com a entrada de dados de investimentos no ecossistema, comparação de produtos entre corretoras, comparação de taxas, entre outras possibilidades devem acelerar a adesão do ecossistema. “Hoje estamos vendo só a ponta do iceberg“.

Lessandro Werner Thomaz, diretor-executivo da Caixa, concorda porque entende que a fase 4 deve trazer uma ruptura maior para o mercado — com desafios também maiores, mas mais benefícios para os clientes.

Na visão dele, os serviços que hoje estão sendo ofertados, provenientes especialmente da Fase 2 do Open Finance e mais relacionados com crédito, como análise de aumento de limite de cartão, são mais conhecidos dos brasileiros. “Estamos acostumados a lidar com esses serviços. O valor agregado que a fase de investimentos deve ter é maior e quem sai ganhando é o cliente”, finalizou o executivo também presente no painel.

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O otimismo dos executivos, no entanto, não é consenso de mercado. Pedro Bramont, diretor de Negócios Digitais do Banco do Brasil, enxerga o novo escopo com outro olhar: a “abertura do escopo traz mais desafios que do que benefícios e valor para o cliente” — pelo menos em um primeiro momento.

“Temos mais tomadores do que investidores no país, portanto, esse valor agregado deve atingir uma fatia bem menor da população e não sei se vai ampliar a adesão a partir disso”, avalia.

Ele acrescenta que a integração com o Open Insurance vai começar e ainda é repleta de obstáculos. “Comparações de precificação de seguros e de dados de apólices são complexas. Existem muitos tipos de seguros, diferentes riscos excluídos e é um setor que tem menos tecnologia que o setor dos bancos”.

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Na visão do executivo do BB, o produto com maior valor para o cliente vai continuar sendo o agregador, que une em um mesmo canal as informações de contas e dados que o consumidor tem. É a ideia do “Super App”, que vem sendo desenvolvido pelo Banco Central, além do conceito já ser oferecido por algumas instituições participantes do Open Finance.

“Um avanço real [no contexto de fase 4] seria a hiperpersonalização no sentido de compor, por exemplo, uma cobertura de seguro específica para cada cliente a partir das ofertas disponíveis”, entende Bramont, também presente no painel do evento, mas admite que esse processo é complexo e não deve acontece tão logo.

Essa integração de agendas entre Banco Central e Susep, vem afligindo muitas instituições — tanto que o cronograma de Open Insurance foi adiado novamente e novas datas devem ser anunciadas na próxima semana. Entre o desafios está a padronização de informações entre os setores, que hoje são incompatíveis.

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Aldo Barretella, senior head de Canais Digitais do Santander Brasil, acrescenta que a agenda de Open Finance é complexa para as instituições porque é síncrona, ou seja, as evoluções vão acontecendo enquanto o ecossistema já está no ar, o que exige agilidade e melhora constantes das empresas.

“Tudo começou do zero. Erramos bastante e fomos ajustando tudo pelo caminho. É uma jornada síncrona. Hoje estamos com uma maturidade maior, mas esse processo de constante evolução ainda gera fricção. Diminuímos bastante a quantidade de problemas e seguimos aprendendo. Já são mais de 30 milhões de consentimentos do Open Finance“, lembra o executivo ao participar do painel.

Apesar das dificuldades, as agendas não param: o projeto de futuro do BC prevê uma economia digital e completamente integrada entre Open Finance, Pix e Real Digital (veja mais abaixo).

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Giovanna Sutto

Repórter de Finanças do InfoMoney. Escreve matérias finanças pessoais, meios de pagamentos, carreira e economia. Formada pela Cásper Líbero com pós-graduação pelo Ibmec.