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O Open Insurance (Opin), ecossistema aberto de compartilhamento de dados do setor de seguros, está com a implementação em curso no Brasil, mas o consumidor não deve esperar produtos e serviços relacionados ao setor tão cedo.
A expectativa é que a oferta seja acelerada a partir da integração com o Open Banking, que vai unir os projetos e colocar em prática o Open Finance. Porém, os resultados dessa convergência devem começar a aparecer entre 2024 e 2025, segundo explicou Thiago Barata, coordenador-geral de projetos da Superintendência de Seguros Privados (Susep) e responsável pelo Opin.
O motivo da espera é o tamanho do desafio tecnológico, incluindo a integração com o setor de bancos, que está sendo implementado em um calendário considerado apertado.
O término da implementação de todo o projeto foi inicialmente marcado para 30 de junho de 2022, mas foi adiado para 15 de setembro. Em entrevista exclusiva, Dyogo Oliveira, presidente da Confederação Nacional das Seguradoras (CNSeg), já havia ressaltado que, mesmo com a extensão, a data estipulada pelos órgãos públicos serve para o sistema estar operacional, mas que a disponibilidade de produtos vai depender das empresas do setor.
Algo muito similar vem sendo observado no projeto de Open Banking: por mais que alguns serviços e produtos estejam sendo ofertados, como a possibilidade de consentimento e agregadores de contas, ainda há pouco volume de soluções para o consumidor.
O Opin propõe um mercado de seguros aberto, no qual haja troca de informações de clientes entre os participantes do setor. E o objetivo é realmente o mesmo que se tem no banking: ofertar serviços e produtos aos clientes de forma mais assertiva e de acordo com as necessidades dele. A Susep é a reguladora e fiscalizadora do ecossistema.
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Calendário alterado
O Open Insurance têm três fases principais de implementação, que tiveram alterações ao longo dos últimos meses. Veja o que mudou e como ficou:
Como estava previsto:
- Fase 1: 15 de dezembro de 2021 até 30 de junho de 2022;
- Fase 2: 1º de setembro 22 até 15 de junho 23;
- Fase 3: 1º de março até 15 de setembro 23;
Como está o calendário atual:
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- Fase 1: 15 de dezembro de 2021 até 30 de junho de 2022 (não teve alterações e foi finalizada);
- Fase 2: 1º de março até 15 de junho de 2023;
- Fase 3: 30 de maio até 15 de setembro 23.
Assim, no dia 1º de março entra em vigor a fase 2, que é etapa de consentimento, ou seja, quando o compartilhamento de dados pessoais começa.
Os consumidores poderão autorizar que as informações relacionadas ao seu cadastro e produtos — como o histórico de pagamento de prêmios, as coberturas contratadas e os sinistros ocorridos —, sejam compartilhadas entre as seguradoras participantes do Opin. No entanto, devido à segmentação do calendário essa data vai ser o pontapé do compartilhamento somente de seguros residenciais.
Aos poucos mais modalidades serão liberadas. Os dados relativos a seguros de automóveis, por exemplo, deverão ser liberados para o cliente dar consentimento em 15 de maio e as informações sobre seguros de vida a partir de 15 de junho, data final desta etapa de implementação.
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A Fase 3, por sua vez, marca o início da etapa de serviços e também o início da integração com o Open Banking, iniciando o Open Finance. Nesta etapa, vai ser liberada a SPOC (Sociedade Processadora de Ordem do Cliente), que é a figura paralela ao iniciador de pagamentos presente no contexto de Open Banking.
“Com as APIs conectadas [fase 1] e o consentimento liberado [fase 2], a Fase 3 inicia a movimentação dos recursos. O SPOC é a plataforma que vai processar o pedido do cliente, sempre intermediado por um corretor. Ela vai poder agregar e compartilhar dados, painéis de informação e controle, sempre diante do consentimento do cliente”, afirma Fabio Rosato, diretor da Sensedia.
Toda seguradora precisará de autorização para operar como uma SPOC, que vai funcionar como uma espécie de plataforma para o corretor: será possível fazer cotação de preços, comparações e acompanhar os seguros que o cliente tem pelo sistema.
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A criação da SPOC foi anunciada em outubro de 2022 e seu principal objetivo foi ampliar o escopo de participantes do Open Insurance, incluindo justamente os corretores de seguros. Principal canal de venda de seguros no Brasil, os corretores não estavam incluídos nas primeiras normas do Open Insurance, o que gerou reclamações no mercado e em entidades representativas.
Copia e cola
Embora o mercado de seguros e o setor financeiro tenham suas diferenças, a principal vantagem que o Open Insurance têm é já ter um projeto antecessor como referência: o próprio Open Banking, que passou por uma série de ajustes em seus dois anos iniciais de implementação graças a uma estrutura democrática de criação com os agentes do mercado participando ativamente de sua concepção.
“Todos os requisitos de segurança são idênticos de Open Banking, por exemplo. Os fornecedores são basicamente os mesmos. Com isso, ganhamos em escala, o que agilizou muito o nosso lado”, afirma Barata, da Susep.
A partir da integração, os bancos poderão trabalhar os dados de seguros de novos clientes, e as seguradoras, por sua vez, terão condições de receber e trabalhar os dados bancários de consumidores.
Se na construção do projeto o setor de seguros “copiou e colou” o setor de bancos, quando se trata da atração do público, as instituições financeiras saem na frente.
“Seguro não é prioridade do brasileiros. Nos testes, o que temos visto dando certo é quando o Open Banking está por trás. Por exemplo, na abertura de conta na seguradora. O cliente vai fazer onboarding e para agilizar o processo de abertura pode trazer dados de outra instituição de uma conta corrente ou seguro”, explica.
As seguradoras ainda estão entendendo como pode alavancar essa experiência para popularizar mais rapidamente o Opin entre os consumidores. ” O segredo vai ser ofertar sempre na jornada de uma necessidade do cliente. Se você apenas pedir consentimento dos dados para o consumidor, ele não vai compartilhar. O cliente espera o valor, algo em troca”, avalia Rosato.
O case do Open Banking, agora oficialmente chamado de Open Finance, no Brasil vem ganhando espaço e se tornando referência. Embora seja um projeto novo, já são mais de 18,7 milhões de consentimentos ativos, segundo os dados mais recentes do BC.
Nesse sentido, Rosato entende que a adesão em seguros não será massiva. “É esperado um processo mais lento. O compartilhamento com o banco é mais fácil de entender e ver valor. Com seguros é bem mais difícil, muitas pessoas falam sobre seguro uma vez por um ano. Temos um trabalho de educação sobre o tema ainda maior pela frente”, finaliza o diretor da Sensedia.
Desafios da integração
Embora o modelo seja pioneiro, agentes de mercado veem muita dificuldade na integração. Do lado do setor financeiro, as críticas são relacionadas aos escopos da Susep e do Banco Central. Na visão de algumas instituições, as governanças ainda não estão próximas no desenvolvimento dessa integração, o que atrapalha na priorização de tarefas no dia a dia.
Do lado de seguros, Barata admite que, por ser algo inédito, a implementação é complexa. “Os dois projetos têm seus desafios e precisamos de mais tempo”, diz. Ele argumenta que, a despeito de ter bebido na fonte de Open Banking para uma série de requisitos técnicos, os produtos de seguros são mais diversos entre si, o que exige uma padronização mais detalhada. “Os dados para seguro auto não são os mesmo para o seguro de vida. Mas mesmo assim precisamos chegar na linguagem padrão para o setor”, justifica Barata.
O que está em discussão é exatamente como essa integração vai acontecer. “A intersecção entre os ecossistemas ainda não está clara. Cada projeto possui seu diretório, que é basicamente o sistema que chancela se aquela troca de informação é confiável. Quando um banco ‘A’ envia informação para o banco ‘B’ o diretório checa se ambas as instituições são fidedignas para aprovar o processo. No caso de seguros, a lógica é a mesma”, explica Danillo Branco, CEO da Finansystech.
Os projetos em conjunto precisam decidir como a comunicação da integração vai ser: via diretório de Open Banking ou do Open Insurance ou pela integração de ambos. “É importante essa definição justamente para que todos os agentes participantes do Open Finance sejam críveis e o consumidor possa compartilhar os dados sem preocupação”, diz Branco.
Essa discussão, no entanto, tem prazo de validade. Finalizado o processo de implementação do Open Insurance em setembro deste ano, os participantes do setor de seguros e do setor financeiro, no âmbito do Open Banking, têm até 30 de novembro de 2023 para submeter aos respectivos órgãos reguladores a proposta de padrões técnicos e procedimentos operacionais que assegurem a interoperabilidade entre os ecossistemas.
“Considerando as etapas, é bem provável que a integração seja feita em 2024. Nosso objetivo é que a proposta caminhe durante o ano para chegar em novembro com algo bem factível, o que agilizaria o processo de integração”, afirma Barata, da Susep.
Segundo ele, este ano será o de consolidação da infraestrutura desenvolvida pelas seguradoras. “Mas as seguradoras vão precisar de tempo para criar soluções”, diz. Por isso, ele entende que produtos e serviços começarão a aparecer entre 2024 e 2025. “Não vai ser instantâneo [após o término da implementação em setembro]”, finaliza o coordenador da Susep.
Veja também 1º episódio do vídeocast “Tá Seguro”: