Via, Magalu e Americanas: voláteis na Bolsa e alvos de mudanças de recomendações, o que esperar dos resultados no 3º tri?

Ações têm sido alvo de corte de projeções com cenário macro mais difícil, enquanto Credit aponta oportunidades; 3º tri não deve ser catalisador para ativos

Lara Rizério

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SÃO PAULO – A temporada de resultados chega na reta final com a divulgação dos números de diversas empresas com exposição ao e-commerce, com a Via (VIIA3) revelando seus números nesta quarta-feira (10) após o fechamento dos mercados e o Magazine Luiza (MGLU3) e a Americanas (AMER3) revelando o seu balanço na quinta-feira (11).

Os últimos meses têm sido de uma verdadeira montanha-russa para os ativos, tanto por conta das expectativas de que os resultados já não sejam tão fortes por conta da alta base de comparação quanto pelo cenário de alta de juros, que afetam principalmente os papéis do setor, além do cenário macroeconômico mais difícil, que leva a perspectivas mais negativas para o consumo.

Já em algumas sessões pontuais, as ações têm registrado fortes ganhos. Na sexta-feira da semana passada (5), as ações dispararam com a queda dos juros e sinalizações positivas do Mercado Livre (MELI34) no terceiro trimestre (indicando que os bons ventos também poderiam atingir as outras companhias). Na segunda-feira (8) o dia foi de queda para o setor. Mas, na terça-feira (9), a disparada novamente veio, desta vez com a informação da Bloomberg de que o Magalu, segundo dados da consultoria YipitData, teve uma aceleração no crescimento das vendas da empresa em outubro (dado este que abarca o quarto trimestre).

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Cabe ressaltar que, entre incertezas para a economia e sinais de que as ações estão baratas, recentemente, diversas casas têm revisado as suas recomendações para o segmento de e-commerce, além de destacarem o que esperam para a temporada do terceiro trimestre.

O Credit Suisse, por exemplo, aponta que os resultados do setor no segundo semestre de 2021 em geral não devem “ser brilhantes”.

A XP aponta que, no geral, deve acontecer uma desaceleração sequencial de crescimento devido à forte base de comparação versus 2020. “As empresas devem reportar um crescimento anual no canal online, porém desacelerando em relação aos trimestres anteriores, devido à base de comparação de 2020. Além disso, esperamos ver a rentabilidade pressionada devido a um cenário macro mais desafiador, juntamente com custos crescentes e um custo por clique mais alto por conta do aumento da competição”, apontam os analistas.

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O Bradesco BBI também reforça a avaliação de que todos os nomes de comércio eletrônico enfrentam uma base de comparação mais forte, uma vez que houve crescimento do vendas brutas de mercadorias (GMV) acima de 100% no terceiro trimestre de 2020. Já para o terceiro trimestre, esperam ver uma taxa média ponderada de crescimento do GMV para as principais plataformas de comércio eletrônico de 28% – uma taxa robusta de crescimento, apesar da base de comparação e das preocupações com a demanda mais fraca, avalia.

“Esperamos ver pressões nas margens como resultado da inflação nos custos de insumos, custos de marketing, investimentos para direcionar o tráfego e promoções. Dados vários ventos contrários – embora ventos contrários de curto prazo – não esperamos que os resultados do trimestre atuem como um direcionador para os nomes de comércio eletrônico em nosso universo de cobertura”, apontam.

Assim, sem verem o terceiro trimestre como um grande catalisador de curto prazo, analistas se dividem sobre o que esperar para as ações das companhias do setor, com diversas casas tendo revisado os seus números antes mesmo dos resultados.

Na segunda-feira, o Bradesco BBI ressaltou que as ações de varejo e comércio eletrônico no Brasil sofreram significativamente desde o final de junho, com as ações da cobertura do banco caindo 32% e todas as categorias caindo. Para os analistas, a deterioração das expectativas em torno do cenário macro do Brasil, em meio a projeções de menor crescimento do PIB e maiores taxas de juros, inflação e prêmios de risco, significa menor visibilidade em torno das estimativas de crescimento de vendas para 2022.

Para as empresas de e-commerce, houve uma forte redução do preço-alvo, de R$ 50 para R$ 39 para os ativos AMER3, de R$ 25 para R$ 17 para os papéis MGLU3 e de R$ 17 para R$ 10 para a Via. A recomendação é neutra para as três companhias.

Entre as preferências do setor de varejo em geral, os analistas destacaram Arezzo (ARZZ3), Alpargatas (ALPA4), Assai (ASAI3, Carrefour (CRFB3), Grupo Mateus (GMAT3) e Lojas Renner (LREN3).

No final do mês passado, entre outras revisões para baixo, a XP reduziu as recomendações para a Americanas – tanto para a holding [ativo=LAME4] quanto para a controlada – de compra para neutra, enquanto manteve a recomendação também neutra para Via e Magazine Luiza, revisando os preços-alvos para baixo.

A XP manteve a recomendação neutra também para o Magalu por conta de curto prazo desafiador, mas destaca como a preferência dentre as companhias de e-commerce, ainda que esperando um melhor ponto de entrada no papel. .

“Entretanto, nós aumentamos nossas estimativas para 2022 em diante uma vez que estamos incorporando a aquisição do KaBuM a partir de dezembro de 2021 assim como os recursos levantados no aumento de capital da companhia”, afirma. Para o Magalu, o preço-alvo passou de R$ 27 para R$ 18, com o principal motivador da redução sendo o aumento no custo de capital.

Oportunidades no radar? 

Já o Credit Suisse ressaltou que, dentro do ambiente de sell-off que se desenhou recentemente, algumas oportunidades podem surgir, ainda mais levando em conta o diferente momento que elas passam na comparação com poucos anos atrás.

Para os analistas, não há urgência em comprar os ativos, mas avaliam que o mercado deve avançar bem mais na penetração de e-commerce e também entrar em um ambiente com diversas iniciativas diferentes, podendo levar a um crescimento sólido para os próximos anos.

Em relatório publicado na quarta-feira da semana passada (3), os analistas Victor Saragiotto e Pedro Pinto destacaram que as ações do Magalu estavam no nível de 2019, mas que desde então a empresa cresceu em 16% o número de lojas, as vendas de estoque próprio (1P) mais que triplicaram e o mercado cresceu 6 vezes. Os ativos da Via também estavam no nível de julho de 2019, mas com uma nova gestão e um crescimento de 5 vezes do GMV desde então.

A ação da Americanas, por sua vez, está abaixo da mínima da pandemia, nível similar ao primeiro trimestre de 2019 em que havia queda do GMV do estoque próprio de 17% e uma estrutura de capital frágil. Atualmente, a companhia tem caixa e conseguiu crescer o canal online em 2,5 vezes, enquanto que as lojas físicas estão operando bem abaixo do potencial.

Assim, reforça, os resultados do setor para o terceiro e quarto trimestres não devem ser brilhantes, mas enxergam valor à frente, possuindo recomendação equivalente à compra para as ações das três companhias. O preço-alvo é de R$ 42 para AMER3, de R$ 8 para LAME4, de R$ 15 para MGLU3 e de R$ 9,50 para VIIA3.

Olhando para os resultados a serem divulgados nos próximos dias, o Credit vê que o destaque da Via será o marketplace (3P), que provavelmente alcançará um GMV de R $ 1,9 bilhão, crescimento de 130% na base anual.

“Isso é resultado da aceleração na integração de vendedores, que já estão acima de 100 mil, e um aumento no sortimento de produtos”, avalia. Já o 1P deve desacelerar para alta de 8%, um número considerado sólido por eles diante do crescimento de 294% registrado no mesmo trimestre do ano passado. Do lado negativo, as lojas físicas devem ter queda das vendas nas mesmas lojas (SSS) em 12%. Para os analistas do banco, a grande dúvida é com relação à margem Ebitda (Ebitda sobre receita líquida), para a qual os analistas estimam queda para 5,5%.

Já o Magazine Luiza parece prestes a postar seu primeiro trimestre dos últimos cinco anos (excluindo o período da pandemia) de SSS negativo na loja física, com os analistas projetando queda de 9%. “Nós acreditamos que isso tem
feito com que alguns investidores saiam da ação”, avaliam. Eles ressaltam ser importante destacar que a varejista tem
visto bases de comparação particularmente difíceis, uma vez que as vendas das lojas físicas cresceram 18% no mesmo trimestre do ano passado.

O online, por sua vez, deve ser sólido, com o 1P devendo crescer 8,5%, enquanto o 3P continua em aceleração e deve responder por R$ 3,5 bilhões do GMV (alta de 65%) no trimestre. “Pode haver uma pequena decepção na rentabilidade, pois estimamos contração da margem Ebitda de 40 pontos-base, para 4,8%. É importante ter em mente que isso não é muito diferente do que Magalu entregou no últimos trimestres e continua alinhado com a estratégia da empresa de investir em seus serviços”, aponta.

Por fim, para a Americanas, a estimativa é de uma alta de 5% das vendas nas mesmas lojas, o que desafia as expectativas iniciais de crescimento de 9% dos analistas. “O tráfego de pedestres permanece abaixo de seu potencial total e o tíquete médio caiu ligeiramente”, avaliam. Já no canal online, também estão abaixo do plano inicial, apontam. Os analistas veem um crescimento do 1P de 30%, para R$ 4,5 bilhões, enquanto preveem que o 3P aumente 35%. A projeção é de queda na margem Ebitda em 400 pontos-base, para 10,3%.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.