Por que o Ibovespa caiu 1% e o dólar foi a R$ 4,51 com o corte surpresa de juros pelo Fed?

Decisão do banco central dos EUA tem um resultado oposto ao pretendido

Ricardo Bomfim

Bolsa em queda (Crédito: Shutterstock)

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SÃO PAULO – O Ibovespa fechou em forte queda e o dólar renovou máxima histórica nesta terça-feira (3), dia que ficou marcado por uma atuação surpresa do Federal Reserve nas taxas de juros dos Estados Unidos.

Apesar do corte emergencial de 0,5 ponto percentual ter sido feito para acalmar os mercados, o efeito foi o oposto e os índices Dow Jones e S&P 500 terminaram o pregão com quedas próximas a 3%. Por que?

Segundo o Lucas Monteiro, trader de multimercados da Quantitas Gestão de Recursos, como o Fed já tinha uma reunião de política monetária marcada para o dia 18, essa redução emergencial nas taxas pode ser um sinal de que a crise com o coronavírus é mais grave do que se pensava. “O Fed talvez enxergue algo que ninguém mais consegue ver”, avalia.

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Para Monteiro, a euforia inicial após a atuação do Fed (quando a Bolsa chegou a subir 2%), aos poucos deu lugar a uma análise menos otimista do que está acontecendo.

“Aquela alta da Bolsa logo após o anúncio do corte foi uma primeira leitura, até provavelmente potencializada pela disseminação de robôs no mercado financeiro, de que a cavalaria estaria chegando para ajudar a economia global”, aponta. “Isso mudou quando começou a se aventar que os bancos centrais estejam observando um impacto econômico ainda maior do que se esperava.”

Lá fora, o apresentador da CNBC Jim Cramer destacou que a conjugação de uma queda de emergência nos juros com um corte tão profundo (50 pontos-base) parece uma medida muito extrema vinda do mesmo Fed que há meses usa de uma comunicação mais cautelosa e que até pouco tempo atrás não via espaço para reduzir mais as taxas. “Eu estou mais preocupado agora”, disse o comentarista.

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Hoje, o Ibovespa caiu 1,02% a 105.537 pontos com volume financeiro negociado de R$ 34,054 bilhões.

Já o dólar comercial renovou máxima histórica ao subir 0,54% a R$ 4,51 na compra e a R$ 4,5109 na venda. O dólar futuro para abril registra ganhos de 0,75% a R$ 4,515.

No mercado de juros futuros o contrato DI para janeiro de 2022 caiu 14 pontos-base a 4,30%, o DI para janeiro de 2023 teve queda de 12 pontos-base a 4,92% e o DI para janeiro de 2025 perdeu cinco pontos a 5,88%.

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Durante o começo da tarde, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, fez discurso explicando o corte de juros emergencial realizado hoje. Powell afirmou que está havendo uma revisão de todas as ferramentas disponíveis em política monetária, mas defendeu que as medidas tomadas hoje foram suficientes.

“O surto do vírus precisará de uma resposta de diversas frentes. Um corte de juros não vai resolver o problema na cadeia de oferta, mas vai acomodar as condições financeiras. É por isso que bancos centrais no mundo todo estão agindo nesse sentido”, explicou.

Mais cedo, o Federal Reserve cortou os juros americanos em 0,5 ponto percentual emergencialmente por conta do coronavírus. A taxa básica dos Estados Unidos está agora entre 1% e 1,25%.

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“O coronavírus apresenta riscos crescentes para a atividade econômica”, afirmou o Fed em comunicado. “À luz desses riscos e de forma a dar suporte ao emprego e às metas de inflação, o Comitê decidiu hoje reduzir os juros em 0,5 ponto”, destacou o comunicado.

Segundo a equipe de research global do Bank of America (BofA) o corte de 0,5 ponto percentual não é o fim. O Fed seria obrigado a realizar mais uma redução, de 25 pontos-base, na reunião do Fomc de março.

Ao todo, o primeiro semestre teria 100 pontos-base de corte na avaliação dos analistas do banco americano, o que levaria as taxas de juros a uma banda entre 0,5% e 0,75%. “O timing desses cortes é desafiador dada a incerteza das perspectivas para dados econômicos, evolução do vírus e resposta do mercado. Nosso cenário-base é de mais um corte de 0,25 pontos na reunião de março e outro de 0,25 p.p. em abril”.

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Para o BofA, o Fed está atuando em duas fases, a primeira é tentar aliviar o pânico do mercado e a segunda é responder aos dados econômicos. O corte de 0,5 p.p. realizado hoje faria parte da primeira iniciativa, enquanto os próximos devem ser feitos de maneira mais comedida, evitando choques muito bruscos como o que ocorreu nesta sessão.

Esse movimento do Fed foi a primeira atitude concreta tomada por um país do G7 depois da teleconferência emergencial realizada hoje pelos membros do bloco. A conferência foi liderada por Powell e pelo secretário do Tesouro Americano, Steve Mnuchin.

Ao final da ligação, os ministros das Finanças das sete maiores economias do mundo disseram estar prontos e comprometidos a agirem mesmo com ferramentais fiscais onde for necessário para mitigar os impactos do coronavírus.

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Mais cedo, a Austrália já havia reduzidos os juros para um nível recorde.

Diversos bancos começaram a revisar suas projeções para a Selic de olho na atuação extraordinária do Fed.

Os economistas do Asa Bank, liderados por Carlos Kawall, que na última segunda-feira revisaram as projeções para três cortes seguidos da Selic na magnitude de 0,25 ponto percentual a partir de maio, revisaram novamente os seus números nesta terça. Agora, a casa prevê um corte de juros de 0,50 ponto percentual na próxima reunião do Copom, para 3,75% ao ano. Inclusive, não descartam a possibilidade de reunião extraordinária.

Política

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) enviou, na tarde desta terça, projetos de lei para alterar a LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias), que fariam parte de um acordo entre governo e Congresso Nacional sobre o impasse envolvendo o controle de R$ 30,1 bilhões do Orçamento deste ano. O objetivo é que os textos sejam aprovados ainda hoje para que, na sequência, os parlamentares votem os vetos do presidente.

Também hoje o Congresso retomou a discussão e votação de vetos do presidente Bolsonaro ao chamado Orçamento impositivo. O tema foi foco do novo desgaste entre parlamento e governo antes do carnaval e continua a acirrar os ânimos no mundo político.

No Senado, um risco político é a possível aprovação em caráter terminativo na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) de uma nova política de valorização do salário mínimo, que soma expectativa de inflação pelo Produto Interno Bruto (PIB) per capita.

Super Terça

O Partido Democrata dos Estados Unidos realiza hoje a chamada Super Terça, com primárias em 14 Estados americanos. O favorito é o senador Bernie Sanders, que lidera a ala mais à esquerda, mas o ex-vice-presidente Joseph “Joe” Biden, que venceu no domingo na Carolina do Sul, está na disputa e pode surpreender, principalmente nos estados do Sul e da Costa Oeste, onde os eleitorados negro e latino-americano são mais fortes dentro do Partido Democrata. A estimativa é que um terço dos 2.700 delegados do Partido seja escolhido hoje. Veja mais clicando aqui.

“Vale destacar que nos últimos dias vimos o panorama mudar bastante após vitória expressiva de Joe Biden na Carolina do Sul, que permitiu ao candidato se reposicionar como líder do centro”, dizem os analistas da XP. “Contribuirá positivamente também a desistência de três candidatos moderados, e a corrida parece caminhar para uma disputa entre Joe Biden e Bernie Sanders.”

Noticiário corporativo 

No Brasil, em dia de poucos indicadores, prossegue a safra de balanços – a BRF publicou hoje seus resultados, registrando um lucro líquido de R$ 690 milhões no quarto trimestre de 2019.

Ainda no noticiário corporativo, destaque para a aprovação, pelos acionistas da Azul (AZUL4) do subarrendamento de 29 jatos bimotores E-195 para a Breeze Aviation dos Estados Unidos, e também para os resultados publicados ontem à noite pela construtora MRV (MRVE3).

A Azul aprovou na noite de ontem o subarrendamento de 28 jatos bimotores E-195 da sua frota para a empresa americana Breeze Aviation. O objetivo da Azul é substituir sua frota inteira de E-195 por aviões E-2, uma versão mais econômica e moderna do jato bimotor da Embraer. Os E-195 restantes deverão ser arrendados para a companhia aérea LOT, da Polônia.

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Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.