Após decisão do Fed, economistas passam a prever queda de até 0,5 ponto da Selic na próxima reunião

Previsões vão desde queda de 0,5 ponto, do Asa Bank, até manutenção dos juros básicos pela XP Investimentos

Lara Rizério

Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central (Raphael Ribeiro/ BCB)

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SÃO PAULO – Em uma decisão emergencial, ainda que esperada por uma parte do mercado em meio à propagação do surto de coronavírus e seus impactos na economia global, o Federal Reserve cortou nesta terça-feira (3) a taxa básica de juros americana em 0,5 ponto percentual. Esta decisão foi unânime e os juros foram para um intervalo entre 1% e 1,25% ao ano, deixando ainda a porta aberta para novo corte de juros na próxima reunião, de 18 de março.

Com a decisão do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), economistas e analistas de mercado passaram a revisar as projeções para a decisão de política monetária do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central no Brasil, que também realizará sua reunião de política monetária no próximo dia 18.

Atualmente, a Selic está em 4,25% ao ano. Se, em meio as preocupações com o impacto do coronavírus na economia, algumas instituições financeiras já estavam revisando seus cenários-base embutindo novos cortes da taxa básica de juros, o movimento se acelerou nesta terça.

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Os economistas do Asa Bank, liderados por Carlos Kawall, que na última segunda-feira revisaram as projeções para três cortes seguidos da Selic na magnitude de 0,25 ponto percentual a partir de maio, revisaram novamente os seus números nesta terça. Agora, a casa prevê um corte de juros de 0,50 ponto percentual na próxima reunião do Copom, para 3,75% ao ano. Inclusive, não descartam a possibilidade de reunião extraordinária.

Tal decisão, aponta a equipe do Asa Bank, deve ser seguida por mais um corte de 0,25 ponto percentual, com a Selic atingindo 3,50% em maio. Após chegar a esse patamar, a taxa básica de juros deve permanecer neste patamar até o final de 2021, quando deve ser elevada para 5%.

“Não descartamos, no entanto, que a Selic seja reduzida ainda mais, eventualmente atingindo 3%, caso continuemos a ver sinais de ausência de tração na economia e/ou revisões baixistas de inflação esperada para 2021”, avaliam.

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O Goldman Sachs, por sua vez, em relatório divulgado nesta terça, apontou que agora espera dois novos cortes de 0,25 ponto percentual na Selic, terminando o ano a 3,75%. A equipe de economistas do banco ainda cortou a projeção de PIB para o Brasil de 2,2% para 1,5% neste ano.

A XP Investimentos, por sua vez, avalia que o Banco Central manterá a Selic em 4,25% na sua próxima reunião e que ressaltará os riscos em sua comunicação. “Isso aumentará as chances de corte em maio, ou, eventualmente, em reunião extraordinária em abril, caso as condições econômicas e financeiras piorem muito ao longo dos meses”, aponta a equipe de economistas (confira o relatório completo clicando aqui).

Eles lembram que o Banco Central já deixou claro em sua última ata que os efeitos do coronavírus sobre a inflação podem ser mistos: a desaceleração da atividade econômica e a queda dos preços de commodities aliviariam a pressão sobre a inflação, ao passo que o choque de oferta em diversos mercados poderia produzir um efeito inflacionário.

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Fomc: como foi a decisão

Especificamente sobre a decisão do Fomc desta terça, a XP aponta que a medida surpreendeu o mercado e levantou a possibilidade de que outras instituições no mundo sigam na mesma linha. Diversos Bancos Centrais ao longo do mundo (Europeu, Inglaterra, Japão, EUA, Austrália, etc) adotam um discurso de que estão monitorando de perto os desdobramentos e que estão prontos para prover estímulos para conter os efeitos negativos sobre a economia.

No entanto, nenhuma instituição, até o momento, mostrou algum tipo de evidência concreta de que uma grande desaceleração está em curso em virtude do coronavírus, avalia a XP: “o Fed não foi exceção até agora”.

“Em conferência após a decisão desta terça, o presidente do Fed, Jerome Powell, foi vago e impreciso a respeito das evidências vindas do mundo corporativo de que a instituição obteve para embasar a decisão do corte emergencial”, avalia a XP.

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Já o Asa Bank destacou a análise de que o Fomc reiterou que os fundamentos para a economia norte-americana continuam sólidos, mas reconheceu os crescentes riscos apresentados pelo surto da doença.

Mais importante, o comunicado e a conferência à imprensa após a decisão mantiveram a indicação de que o comitê irá continuar “monitorando de perto” a evolução dos dados, e que irá “agir conforme apropriado”, deixando aberta a porta para um novo corte de juros de 0,25 ponto na reunião de março.

Ainda na conferência à imprensa, Powell disse que entende que quedas de juros, neste momento, não irão resolver todos os problemas, principalmente aqueles relativos a condições de oferta. “Apesar disto, esta ação ajuda a prover condições para estimular a economia norte-americana, acomodando condições financeiras e ajudando a manter a confiança de famílias e empresas”, avalia a equipe do Asa.

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Segundo a equipe de research global do Bank of America (BofA) o corte de 0,5 ponto percentual não é o fim. O Fed seria obrigado a realizar mais uma redução, de 25 pontos-base, na reunião do Fomc de março.

Ao todo, o primeiro semestre teria 100 pontos-base de corte na avaliação dos analistas do banco americano, o que levaria as taxas de juros a uma banda entre 0,5% e 0,75%. “O timing desses cortes é desafiador dada a incerteza das perspectivas para dados econômicos, evolução do vírus e resposta do mercado. Nosso cenário-base é de mais um corte de 0,25 pontos na reunião de março e outro de 0,25 p.p. em abril”.

Para o BofA, o Fed está atuando em duas fases, a primeira é tentar aliviar o pânico do mercado e a segunda é responder aos dados econômicos. O corte de 0,5 p.p. realizado hoje faria parte da primeira iniciativa, enquanto os próximos devem ser feitos de maneira mais comedida, evitando choques muito bruscos como o que ocorreu nesta sessão.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.