PEC dos Auxílios: quais empresas devem ganhar na Bolsa com a aprovação das medidas?

Ao menos no curto prazo, PEC dos Auxílios pode ser positiva para varejistas e empresas de combustíveis, mas há riscos num prazo mais longo

Vitor Azevedo

Dinheiro na carteira (Brenda Beth/Getty Images)

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A PEC dos Auxílios foi aprovada em primeiro turno em votação nesta terça-feira (12) na Câmara dos Deputados e pode levar à liberação de cerca de R$ 41 bilhões para benefícios sociais. De uma forma geral, inicialmente, o mercado reagiu mal a essa medida política, vista como fiscalmente irresponsável e que trouxe pressão para a curva de juros e também para o preço do dólar. No entanto, é possível que alguns setores sejam positivamente impactados, ao menos no curto prazo.

Um setor que registrou altas recentemente, apresentando comportamento um pouco incomum, foi o de empresas varejistas. As ações ordinárias da Magazine Luiza (MGLU3), da Via (VIIA3) e da Americanas (AMER3) avançaram, respectivamente, 25,21%, 32,81% e 25,84% no acumulado do mês.

Essas companhias, normalmente, são impactadas negativamente por uma alta das taxas DIs – isso porque as pessoas tendem a consumirem menos quando o crédito está mais caro e também por terem um fluxo de caixa dinâmico -, mas não foi isso o que aconteceu na última semana. As ações continuaram a subir apesar de os contratos futuros de juros terem avançado de forma generalizada.

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“A PEC dos benefícios vai trazer custos maiores ao país, mas pode vir a beneficiar o setor de varejo. Isso porque os auxílios fazem com que as pessoas tenham mais dinheiro para consumir”, explica Marcus Labarthe, sócio-fundador da GT Capital. “Lembrando que o setor de varejo foi um dos que mais pesou de forma negativa no Ibovespa nesse ano”, completa.

Para Jennie Li, estrategista de ações da XP, o projeto de emenda (também em associação à medida aprovada estabelecendo o teto do ICMS para serviços essenciais) pode estimular ainda o setor de consumo ao controlar a inflação de curto prazo, uma vez que a alta dos preços vinha pressionando as margens dessas companhias.

“No entanto, o risco fiscal volta a assustar os investidores, por mais que no curto prazo a PEC traga alívio para a alta dos preços”, diz a especialista. “A preocupação fica para o médio e para o longo prazo”.

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É esperado, então, que a PEC dos auxílios impulsione, no primeiro momento, o consumo, uma vez que será liberado mais dinheiro para famílias de baixa renda. Ao longo do tempo, porém, se a situação fiscal se deteriorar, é possível uma pressão sobre as curvas de juros, com o Banco Central tendo de deixar as taxas de juros mais altas por mais tempo para compensar o aumento do risco fiscal, impactando o setor das varejistas.

Inflação pode desacelerar – no curto prazo

“O varejo tem sido um dos setores mais pressionados por conta da inflação mais alta. Se houver alívio na alta dos preços, se a PEC trouxer alívio nessa frente, pode haver um reflexo positivo, uma vez que essas companhias estão sendo impactadas pela perda de poder econômico”, explica Jennie Li.

Entre as medidas propostas, o “voucher caminhoneiro”, por exemplo, é uma das que podem ajudar a controlar as oscilações dos preços, reduzindo os custos com frete. Além dela, o teto do ICMS sobre combustíveis, que não faz parte da PEC dos Auxílios, mas que já foi aprovada, também deve ajudar a barrar parcialmente os repasse de preços.

O risco, para alguns especialistas, no entanto, está na possibilidade de o Governo aumentar o problema fiscal e a inflação, mesmo assim, continuar descontrolada – seja por uma alta das commodities, por um enfraquecimento do real, entre outros. Projeções de mercado já apontam para uma redução nas expectativas de inflação em 2022, mas elevações para o ano que vem.

“Se a economia não se recuperar ou se a inflação continuar alta, não arrefecer como o governo espera que aconteça, o que acontecerá lá na frente? Manterão os benefícios com que dinheiro?”, indaga Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed. “Essa é a parte negativa do processo: o risco fiscal. É isso que traz volatilidade”.

Nesse cenário, além das varejistas continuarem pressionadas no curto prazo, haverá um problema maior fiscal, com o juros ficando elevado por mais tempo.

Outro setores podem ser beneficiados

Além das varejistas mais voltadas aos bens duráveis, as companhias do setor focadas no consumo também podem surfar a aprovação da PEC dos Auxílios.

“Supermercados e empresas agrícolas devem ser beneficiadas pelo aumento do Auxílio Brasil”, explica Rafael Pacheco, economista da Guide Investimentos, mencionando a medida que eleva a mensalidade do programa de R$ 400 para R$ 600 mensais. “O Auxílio Brasil é o maior gasto da PEC, com cerca de 60%, e como é destinado para famílias de baixa renda é esperado que a maior parte dele vá para alimentação e consumo básico”, complementa.

Stephan Kautz, economista chefe da EQI Asset, acredita que o aumento do benefício deve ir, basicamente, para alimentação. “O setor de supermercado, principalmente na região Nordeste (que recebe 47% do auxílio), deve ser o mais impulsionado”, diz.

Os papéis ordinários do Grupo Mateus (GMAT3), rede de supermercados com forte presença no Norte e Nordeste, tiveram alta de quase 10% nos últimos cinco pregões. As ações do Atacadão (CRFB3) e do Assaí (ASAI3) também aparecem no rol das possíveis beneficiárias.

O Santander destaca em um relatório sobre a Camil (CAML3) que os auxílios governamentais devem manter “a demanda por produtos básicos resiliente” e que “ajuda governamental deixa o banco confortável com as perspectivas de consumo de alimentos básicos no segundo semestre do ano”. O Santander tem preço-alvo de R$ 14,6 para os papéis, com recomendação de compra, alta de cerca de 35% frente o fechamento desta terça-feira.

Impulso para setor de combustíveis

Além de companhias de consumo básico, Rafael Pacheco destaca que o subsídio ao etanol hidratado deve beneficiar algumas companhias, com a criação de um regime fiscal diferenciado para os biocombustíveis, com vantagens em relação aos combustíveis fósseis.

Cria-se um auxílio para os estados que outorgarem créditos tributários do Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação (ICMS) para produtores e distribuidores de etanol hidratado.

Essa visão é compartilhada pelo Credit Suisse que, em relatório, destacou que o mecanismo que consta na PEC para auxiliar os produtores de etanol deve surtir e trazer algum alívio para o setor, o que inclui a produtora Raízen (RAIZ4).

Para Regis Cardoso e Marcelo Gumiero, que assinam o documento do banco suíço, a Raízen deve, com auxílio da proposta, conseguir entregar os R$ 13 e R$ 14 bilhões de guidance para a Safra 2022-2023 (a projeção do Credit está em R$ 13 bilhões).

Ainda quando o assunto é combustíveis, as companhias do setor dos não renováveis também devem ser impulsionadas com a aprovação de hoje.

Para a Petrobras (PETR3;PETR4), o Credit Suisse vê vantagem, principalmente, no esvaziamento do risco de governança, com a chance de uma interferência política na empresa minguando.

Por adição, os auxílios para caminhoneiros, com custo de R$ 5,4 bilhões aos cofres públicos, e para motoristas de táxi, com custo de R$ 2 bilhões, devem ser, em boa parte, direcionados às receitas das companhias do setor, avalia Pacheco.

Os estímulos nesta frente, no entanto, na visão de alguns analistas, podem prejudicar empresas ligadas a outros modais de transporte que não o rodoviários, como a Vamos (VAMO3) ou a Rumo (RAIL3).

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