Embraer (EMBR3) decepciona em evento-chave e ação cai 15% em 6 pregões, mas por que analistas seguem otimistas?

Anúncios durante Paris Air Show ficaram abaixo do esperado e levaram à queda das ações, mas empresa destaca preservar margens e rentabilidade

Lara Rizério

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Um dos maiores eventos da indústria da aviação, o Paris Air Show era bastante esperado pelo mercado, com os analistas destacando principalmente uma visão positiva para a Embraer (EMBR3). Antes do evento, que aconteceu entre os dias 19 e 25 de junho, o JPMorgan chegou a recomendar que investidores aumentassem suas posições em ações da companhia, destacando que as ações contam com uma valorização média histórica de 3% na semana do evento e já chegaram a subir até 30% nos 30 dias após o evento.

Porém, pelo menos na primeira etapa da recomendação, não foi isso o que aconteceu. Do fechamento do dia 16 de junho (antes do evento) até 25 de junho, as ações foram de R$ 20,13 para R$ 17,06, uma baixa de 15,25%. Isso mais do que reverteu a alta de 8% do início do mês até o começo do evento. Apenas no dia 20, as ações caíram 4,65% e registraram uma baixa de 7,42% na sessão seguinte. 

Desde os primeiros dias do evento, os anúncios de acordos feitos pela companhia não agradaram os investidores, ficando abaixo dos anos anteriores e do esperado.

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Os 13 novos pedidos ficaram aquém dos 74 fechados em Le Bourget em 2019 e dos 28 anunciados em Farnborough no ano passado, além de abaixo de algumas previsões otimistas do mercado, como a de pelo menos 30 pedidos esperados por analistas do JP.

Investidores ficaram especialmente desapontados com a falta de pedidos advindos do crescente mercado indiano, responsável por uma encomenda recorde de 500 aviões da Airbus e também por novos pedidos de jatos Boeing.

“Dados os anúncios significativos da Airbus, é possível que os acionistas da Embraer se sintam frustrados”, observaram os analistas do BTG Pactual.

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No último dia do evento, ao comentar o acordo com a National Jet Express para o Programa Pool de manutenção, o Citi destacou como ligeiramente positivo, mas provavelmente muito pequeno para levar a qualquer ajuste nas estimativas dos analistas do banco.

“Este acordo também vem na esteira do que parece ser o fraco fluxo de pedidos de jatos da Embraer no Paris Air Show. Dos três anúncios de pedidos de jatos comerciais da Embraer nesta semana, apenas um deve ser adicionado à carteira de pedidos do 2T23 – enquanto outro era um contrato que já havia sido anunciado em janeiro”, avaliou o banco.

Em conversa com o diretor de RI da Embraer, Leonardo Shinohara, o JPMorgan disse que a empresa reconheceu ter anunciado um baixo número de pedidos de aviação comercial durante o evento da semana passada. Porém, sinalizou que estava em linha com sua estratégia de preservação de margens e rentabilidade.

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Adicionalmente, a Embraer segue em negociações com diversas companhias aéreas – tanto nos EUA quanto em outros países
– e espera anunciar mais novos pedidos no médio prazo.

Quanto à Defesa e Segurança, o interesse pela aeronave multimissão KC-390 foi grande durante o Paris Air Show, mas os anúncios de pedidos no segmento costumam demorar mais, pois geralmente há burocracias mais altas no segmento.

Em relação à aviação Comercial, há discussões em andamento com as companhias aéreas e novos pedidos devem ser anunciados até o final do ano, especialmente de operadoras fora dos Estados Unidos. A recente certificação do E190-E2 na China provavelmente dará frutos a curto prazo.

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“Vale lembrar que o A220 não é certificado na China. Quanto aos EUA, a escassez de pilotos ainda está impactando a demanda, mas uma normalização está prevista para meados de 2024. No geral, a Embraer vê de forma conservadora uma demanda de pelo menos cerca de 80 aeronaves ao ano na aviação regional decorrente de uma frota envelhecida em ambos
os EUA e no resto do mundo, o suficiente para apoiar seus planos de crescimento”, ressalta o JPMorgan. O banco lembra ainda que 2023 marcará o primeiro ano com uma parcela maior da família de jatos E2 sendo entregue em oposição ao E1.

Em defesa e segurança, o alto interesse em relação ao C-390 foi um dos destaques positivos da Embraer durante o Paris Air Show. O contrato com a Holanda para a venda de 5 KC-390 deve ser concluído durante o segundo semestre de 2023 (2S23).

Quanto à parceria com a L3 Harris, a aeronave com o kit de reabastecimento ajustado está em teste no momento. Se o teste e a parceria forem bem-sucedidos, o impacto nos resultados deve se dar somente em 2024. “Olhando como um todo, o crescimento nas margens de Defesa e Segurança será impulsionado por maiores entregas do KC-390 no médio e longo prazo”, ressalta o JPMorgan.

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Entre outros pontos, o fluxo de caixa livre deve ser positivo. A empresa continua confiante em gerar pelo menos US$ 150 milhões no ano inteiro, de acordo com seu guidance.

Visão positiva

Neste sentido, os analistas do JPMorgan reiteram sua recomendação overweight (exposição acima da média do mercado, equivalente à compra) para os ADRs (American Depositary Receipts, ou recibo de ações negociado na Bolsa de Nova York) ERJ.

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Os analistas destacam a recuperação de resultados em curso, incluindo um fluxo de caixa livre de pelo menos US$ 240 milhões até o final do ano, já que a empresa continua confiante em seu guidance. O banco vê o papel ERJ negociado a uma relação EV/Ebitda (EV = soma do valor de mercado das ações de uma companhia com a dívida líquida; Ebitda = lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) de 4,3 vezes o esperado para 2024, ante 9,3 vezes da Airbus e 7,4 vezes da Bombardier.

XP Investimentos e BTG Pactual também possuem recomendação de compra para os ativos da Embraer.

O BTG disse que é importante observar que as vendas para Binter e American Airlines que já eram clientes da Embraer, foram equivalentes a 19% da previsão de 65 a 70 entregas este ano, tornando-os “negócios significativos”.

Esses pedidos se somam a uma carteira de pedidos que permanece robusta, com o modelo E2 visto como basicamente esgotado para este ano e 2024 depois de pedidos de novos clientes – como Royal Jordanian, Salam Air e Scoot – terem realizado encomendas recentemente.

Apesar do ritmo lento em geral dos negócios no Paris Air Show, analistas da Zacks ainda os consideraram “lucrativos”, “ressaltando a confiabilidade e eficiência” da Embraer.

Outras notícias positivas durante o evento vieram da subsidiária Eve, que assinou acordos para a venda de até 150 aeronaves elétricas, e do acordo da Embraer para retornar ao mercado chinês convertendo jatos de passageiros em cargueiros.

As ações da Embraer ainda acumulam alta de 21% no acumulado de 2023. De acordo com compilação da Refinitiv com 13 casas de recomendação que cobrem o ADR da companhia, 10 recomendam compra e 3 manutenção, com preço-alvo médio de US$ 20,32, o que corresponde a um potencial de valorização de 42% frente o fechamento da véspera. O Citi possui recomendação neutra para os ativos, com preço-alvo de US$ 16,50.

Para as ações EMBR3 negociadas na B3, de 6 casas que cobrem o papel, 5 tem recomendação de compra e 1 neutra, com preço-alvo médio de R$ 21,63, ou upside de 27% em relação ao fechamento da véspera.

“Acreditamos que a maior parte da empolgação pré-evento já foi ajustada nos preços, com espaço limitado para mais pressão”, disse a XP. Nesta terça-feira (27), os papéis subiram 2,17%, a R$ 17,43, em um dia negativo para o Ibovespa, que caiu 0,61%.

(com Reuters)

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.