Ações de Magazine Luiza (MGLU3) e Via (VIIA3) têm dia de recuperação, mas perdem 50% este ano

Analistas dizem que a performance ruim é resultado de um problema do setor varejista, que reage à inflação e alta dos juros

Mitchel Diniz

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Acompanhando um movimento de recuperação da Bolsa, as ações de Magazine Luiza (MGLU3) e Via (VIIA3) – muito castigadas nos últimos pregões – avançaram, respectivamente, 4,29% e 4,08% no pregão desta sexta-feira (3).

“Alguns segmentos que estavam bastante depreciados começam a se recuperar. Aconteceu com as empresas de commodities e agora está vindo também para empresas de consumo doméstico”, afirma Carlos Carvalho Junior, CIO da Kínitro Capital

A queda nos contratos de juros futuros também ajudam na recuperação das varejistas. O movimento reflete a percepção de que a alta de juros deve desacelerar no país, o que é bom para as margens dessas empresas.

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“Muita gente reduziu sua exposição em varejo. O que pode acontecer, é o investidor voltar a alocar recursos nessas empresas e dar mais liquidez para as companhias”, afirma Angelica Marufuji, analista de Renda Variável da Meraki Capital.

No acumulado deste ano, as ações da Magazine Luiza registram perda de 72%, enquanto as da Via recuam 50%. Se trata, dessa forma, de um derretimento de mais de metade do valor de mercado de ambas.

Ou seja, o segundo semestre deste ano tem se mostrado um período difícil para as varejistas como um todo.

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Por que as ações da Magazine Luiza caem?

No caso da Magazine Luiza, a situação dos papéis piorou ainda mais depois que a empresa divulgou seus resultados para o terceiro trimestre, no último dia 11 de novembro. Só após o balanço, os papéis caíram 18%. De lá para cá, contudo, as ações saíram do patamar de R$ 13 e passaram a ser negociada abaixo dos R$ 7.

O lucro líquido do Magazine Luiza caiu 89,5% entre julho e setembro deste ano, para R$ 22,6 milhões. A empresa foi impactada tanto por um menor volume de venda quanto pela perda de rentabilidade, com uma queda de 2,5 pontos percentuais na margem Ebitda da companhia. A maioria dos indicadores, incluindo o Vendas Mesmas Lojas (Same Store Sales), apresentou desempenho abaixo do esperado pelo mercado.

Na época da divulgação do balanço, a XP  considerou os resultados “mistos”, com performance sólida no on-line, mas margens pressionadas – e a maior margem do Magazine Luiza está no mundo offline, onde os custos são maiores e os impactos da macroeconomia também.

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Pietra Guerra, especialista em ações da Clear Corretora, diz que não há um problema pontual com a empresa em si – é mais uma questão de setor.

Por que as ações da Via caem?

Assim, como Magazine Luiza, as ações da Via refletem os problemas macroeconômicos. Porém, o mercado teve um susto quando leu as linhas do balanço da controladora das redes Casas Bahia e Ponto, por conta de um impacto líquido de R$ 810 milhões, por conta de processos trabalhistas.

A conte foi minimizada pelo reconhecimento de R$ 254 milhões em créditos tributários – o que, sem estes, o gasto com provisões teria tido impacto negativo de de R$ 1,2 bilhão. No mais, a companhia espera mais impactos no quarto trimestre, prevendo algo entre R$ 100 e R$ 200 milhões.

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Dessa forma, mesmo mostrando evolução em alguns números de seu balanço, com destaque para o crescimento do marketplace (3P), o resultado da Via acabou sendo bastante ofuscado por conta de provisões para processos trabalhistas. No dia após o balanço, as ações caíram 12,5%.

Cenário competitivo e mais juros

Assim, a queda no valor de mercado das empresas no ano é resultado de um movimento vendedor de ações de varejistas, principalmente no segmento on-line, no qual as perspectivas não são das mais positivas com a retomada das atividades presenciais.

Esse movimento foi acompanhado da perspectiva de juros mais altos, que afeta os negócios da empresa de diferentes formas. Além de arrefecer o consumo, por encarecer o crédito, também eleva os custos de financiamento das companhias.

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“Dado que o setor é altamente correlacionado com o panorama econômico (principalmente taxas de juros) e confiança do consumidor, os papéis do setor tem tido uma dinâmica desafiadora”, afirma a equipe de análise da XP.

Os analistas dizem, em relatório, que as empresas de e-commerce e tecnologia são as que mais sofrem dentro da cobertura, devido a uma maior exposição ao valor de longo prazo.

Henrique Esteter, especialista em investimentos do InfoMoney, observa que, mesmo sendo uma empresa grande e consolidada, o Magazine Luiza vinha em um ritmo de crescimento muito elevado. Isso significa que a empresa precisa de recursos para financiar sua expansão e, com os juros mais altos, fica mais caro bancar esse crescimento.

É importante lembrar que os juros subiram porque a inflação acelerou e os preços mais altos diminuem o poder de compra do consumidor. “A inflação reduz a propensão a consumir e tem um impacto bem expressivo nas margens das varejistas. Isso pôde ser visto claramente nos resultados

Vale lembrar que Magazine Luiza e Via estão em um setor no qual a concorrência tem sido cada vez mais acirrada. Isso acontece porque varejistas de market place estão ganhando força, como é o caso do Mercado Livre e mais recentemente o Shopee, além da forte presença da americana Amazon no Brasil.

Os números de Black Friday vieram levemente abaixo do esperado, sendo que a expectativa era que a data pudesse melhorar o desempenho das varejistas.

Agora, depois de o PIB ter recuado 0,1% no terceiro trimestre e novos indicadores sinalizarem piora da economia, o mercado já começa a prever juros mais comportados, prevendo que o Banco Central não faça ajustes tão agressivos na taxa Selic daqui para a frente.

As ações das varejistas tem subido toda vez que os contratos de juros DI recuam. Resta saber se, na economia real, essas empresas, incluindo o Magazine Luiza e Via, também vão se beneficiar de uma política monetária mais branda.

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Mitchel Diniz

Repórter de Mercados