Petrobras entre capex e dividendos: o que olhar após o já esperado dado de produção?

Petrolífera divulgou dados de produção na noite passada e não trouxe grandes surpresas, enquanto analistas fazem projeções para dados financeiros

Felipe Moreira

Estrutura de plataforma da Petrobras (REUTERS/Pilar Olivares)

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A Petrobras (PETR4) divulgou na noite da última segunda-feira (29) seu relatório de produção do primeiro trimestre de 2024 (1T24) com produção de petróleo bruto e gás em 2,236 milhões barris de óleo equivalente por dia (bpd), queda de cerca de 5% trimestralmente, mas alta de cerca de 4% em relação ao ano anterior.

A empresa atribuiu a queda sequencial na produção principalmente ao maior volume de perdas devido a paradas e manutenção, além do declínio natural dos campos maduros. Esses impactos negativos foram apenas parcialmente compensados pela reestruturação de unidades de produção novas. A produção do pré-sal, por sua vez, cresceu cerca de 9% em relação ao ano anterior e representou cerca de 83% da produção total de petróleo da estatal.

Enquanto isso, no segmento de refino, os volumes totais vendidos caíram cerca de 5% trimestralmente, devido à sazonalidade no consumo de diesel e à perda de participação da gasolina para o etanol nos veículos flex fuel. Os volumes de produção recuaram cerca de 3% trimestralmente, devido à demanda de mercado e paradas planejadas. O fator de utilização total atingiu 92% no 1T24 (+7 p.p. em relação ao ano anterior).

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A Petrobras divulgará os resultados do 1T24 em 13 de maio, após o fechamento do mercado. O Goldman Sachs espera que a empresa anuncie cerca de US$ 2,6 bilhões em dividendos ordinários (incluindo recompra) juntamente com os lucros (seguindo a política de remuneração aos acionistas da estatal). Como lembrete, a ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis, reguladora de petróleo e gás do Brasil) divulga dados de produção para o mercado de petróleo brasileiro mensalmente e, como tal, já se esperava que o anúncio de hoje seja visto como um não evento.

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O Goldman Sachs mantém sua preferência por PRIO (PRIO3) na sua cobertura de energia, mas mantém recomendação de compra para a Petrobras, pois vê a petrolífera oferecendo uma forte geração de caixa nos próximos anos (rendimento de fluxo de caixa livre de 20%/14% para 2024 e 2025). Combinado com uma governança que, na visão do banco, limita (embora não elimine totalmente) os riscos de alocação de capital e desvios significativos entre os preços de referência domésticos e internacionais para os preços dos combustíveis.

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Já o Morgan Stanley optou por reduzir a estimativa de Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) da Petrobras em aproximadamente 2% no 1T24, devido à margem de refino e à contribuição de gás e energia ligeiramente mais baixas, mas ainda espera um fluxo de caixa livre (FCF) robusto de US$ 6,9 bilhões. Em termos de avaliação, o Morgan reitera recomendação equal-weight (exposição igual a média do mercado, equivalente à neutro) para os ADRs da Petrobras e preço-alvo de US$ 19.

O JPMorgan, por sua vez, avalia a Petrobras reportou resultados operacionais mais fracos do que suas estimativas, afetados pela sazonalidade e paradas para manutenção.

O segmento de exploração e produção caiu 5,4% trimestralmente, com uma produção de 2,8 milhões bpd, ficando abaixo das estimativas do JPMorgan em 1,0%, devido a manutenções e ao esgotamento de campos.

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No lado do refino, a produção ficou amplamente em linha com as expectativas do banco, mas as vendas de combustíveis de 1,648 milhões bpd ficaram 7,1% abaixo estimativas, impulsionadas pela redução do diesel (devido ao aumento no teor obrigatório de biodiesel para 14% em março) e da gasolina (impactada pela redução trimestral na participação do etanol hidratado nos veículos flex-fuel). Já o segmento de Gás & Energia apresentou menor disponibilidade e vendas de eletricidade, pois a temporada de chuvas reduziu o despacho térmico. Com isso, o banco esperamos uma ligeira reação negativa aos números anunciados. O JPMorgan mantém recomendação neutra para Petrobras, com preço-alvo de R$ 42,15 para ações preferenciais e de R$ 44,54 para os papéis ordinários.

A equipe de research do Itaú BBA comenta que o trimestre foi marcado por paradas programadas, que resultaram em menores volumes de vendas e maiores importações, combinados com menores preços do petróleo. Nesse sentido, analistas esperam que a Petrobras reporte US$ 13,4 bilhões em EBITDA no trimestre, implicando um agamento de dividendos de US$ 3,5 bilhões (dividend yield de 3,2%).

O Bradesco BBI disse que a queda na produção da empresa, bem como os menores volumes de produtos refinados vendidos no Brasil eram esperados, já que a Petrobras costuma realizar manutenções durante o primeiro semestre, por causa da menor atividade econômica que no segundo semestre do ano. Com esses números, o banco espera que a estatal reporte um Ebitda de US$ 13 a 13,5 bilhões no 1T24.

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A XP Investimentos também comenta que a produção caiu sequencialmente, como esperado. A instituição financeira prevê Ebitda de US$ 13,2 bilhões, uma queda de 12% na base trimestral, devido a menores preços do diesel e volume de vendas. Analistas também projetam um lucro líquido de US$ 4,9 bilhões, fluxo de caixa ao acionista (FCFE) de US$ 5,4 bilhões (5% de yield trimestral) e dividendos de US$ 3,2 bilhões (3% de yield trimestral).

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Em relatório chamado ” de volta aos fundamentos?”, o BTG Pactual ressaltou que, para os resultados financeiros completos a serem divulgados em 13 de maio (após o mercado), espera outro forte desempenho com os preços do petróleo apenas 1% abaixo do trimestre anterior em reais. O banco estima Ebitda de US$ 14,4 bilhões, uma queda de 4% tri/tri devido ao declínio de produção mencionado, e menores custos de extração de US$ 7,8/bbl, já que a produção do pré-sal atingiu sua participação mais alta (83%) já registrada.

“Apesar dos preços menores dos combustíveis no mercado local em relação à paridade de importação, o aumento de spreads de refino de gasolina e a estabilidade de spreads de refino de diesel deverão resultar em sólidas margens. No geral, prevemos que a geração de caixa atingirá US$ 7,9 bilhões e resultará em um pagamento de dividendos de US$ 3,5 bilhões (yield de 3%). Mais importante ainda, acreditamos que os investidores devem se concentrar no capex da empresa, pois pode fornecer uma boa indicação se a companhia será capaz de cumprir a sua estimativa oficial anual”, avaliam os analistas do banco.

A recomendação segue de compra. “Na maioria das vezes, o ruído político cercará a tese de investimento da Petrobras. Entretanto, acreditamos que os investidores deveriam mais uma vez começar focar nos fundamentos dos preços do petróleo, uma vez que o governo transmitiu algum pragmatismo relativamente à alocação de capital. Mediante preços mais altos do petróleo, a produção de petróleo acima do guidance e o investimento potencialmente menor, vemos possibilidades do pagamento de dividendos “orgânicos” maiores ao longo do ano. A Petrobras é nossa principal escolha no setor”, concluem.