No dia 2 de abril de 2025, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou um conjunto de tarifas comerciais contra mais de 180 nações. As tarifas de Trump intensificaram a guerra comercial norte-americana contra a China e alcançaram também outros países, entre eles, o Brasil.

Nos dias seguintes ao anúncio, diversas bolsas ao redor do mundo despencaram. Segundo especialistas, os principais efeitos esperados do tarifaço são o aumento da inflação americana de curto prazo e a desaceleração da atividade econômica.

Por serem a maior economia do mundo, tudo o que acontece nos EUA afeta o mercado internacional de alguma maneira. O mesmo vale para as tarifas comerciais, que serão sentidas de formas diferentes pelos países.

Para saber mais sobre como o tema está mexendo com os mercados mundo afora, continue a leitura a seguir.

O que são as tarifas de Trump?

No “Dia da Libertação” (foi como Trump se referiu ao 2 de abril), o presidente norte-americano determinou que qualquer produto importado pelos EUA será tarifado em 10%, no mínimo.

As alíquotas de importação variam de acordo com cada país. O Brasil ficou na menor faixa (10%), ao lado da Argentina, Colômbia, Austrália, Nova Zelândia e Singapura, entre outros. Outras localidades tiveram impactos bem maiores, como a União Europeia (20%), Japão (24%), Índia (26%) e China (até 54%).

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Como as tarifas de Trump foram calculadas?

“Tarifas recíprocas” foi o nome que o governo norte-americano deu ao tarifaço anunciado no início de abril.

Teoricamente, com a reciprocidade tarifária, os EUA cobrariam das importações o mesmo percentual que cada país aplica aos produtos norte-americanos que compram. No entanto, parece não ser isso o que a atual taxação reflete.

Para definir qual seria a tarifa aplicada a cada país, o governo Trump fez a seguinte conta: dividiu o déficit comercial do parceiro com os EUA (o quanto ele importa a mais do que exporta) pelas suas exportações para o país. Depois disso, multiplicou o resultado por ½.

Segundo especialistas, o cálculo teve motivações políticas, pois usou os déficits comerciais de outros países com os EUA para justificar a taxação. Para Mike O’Rourke, estrategista-chefe de marketing da Jones Trading, as tarifas de Trump têm caráter punitivo para quem tem superávits com o país.

“A administração Trump está mirando especificamente nações com grandes superávits comerciais com os Estados Unidos em relação às suas exportações para os EUA”, disse em nota aos investidores.

Quais os países mais afetados pelo tarifaço dos EUA?

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As tarifas recaem sobre 185 países, sendo que algumas das economias mais vulneráveis do mundo e países em guerra civil estão entre os maiores percentuais.

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Encabeçam a lista São Pedro e Miquelão e Lesoto (50%), Camboja (49%), Laos (48%), Madagascar (47%), Vietnã (46%), Sri Lanka e Mianmar (44%), Síria e Ilhas Malvinas (41%), Ilhas Maurício (40%), Iraque (39%) e Guiana (38%). Mais adiante, aparecem Paquistão (29%), Cazaquistão (27%), Índia (26%), Japão (24%) e União Europeia (20%).

Entre os países que tiveram a menor tarifa (10%), estão o Brasil e a maioria das nações latino-americanas.

Efeitos esperados das tarifas de Trump para o mundo

A resposta imediata de diversos países foi a promessa de suspender investimentos nos EUA e de retribuir o tarifaço em proporções equivalentes. O mercado financeiro respondeu a essa instabilidade com nervosismo: diversas bolsas despencaram ao redor do mundo – inclusive, a do Japão registrou um circuit breaker no dia 7 de abril.

Para muitos economistas, as tarifas de Trump podem desaquecer a economia norte-americana. À medida que os produtos importados pelos EUA ficam mais caros, isso pode reduzir a demanda e impactar negativamente as margens de lucro das empresas.

Em entrevista ao InfoMoney, o economista Luís Otávio Leal, da G5 Partners, disse que ainda não se sabe qual será a nova ordem econômica mundial depois do tarifaço. Segundo ele, o mundo entrou no “hiperespaço econômico”.

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“A partir do momento em que Trump rasga todas as regras aceitas multilateralmente do comércio internacional, agora é a ‘lei de Muricy’, como diziam os antigos: é cada um por si”, disse.

O tarifaço é bom ou ruim para o Brasil?

Para alguns analistas, o fato de o Brasil ter ficado no grupo da taxação mínima pode criar algumas oportunidades para o Brasil no curto prazo. Uma das principais é o aumento das vendas do agronegócio para a China, pois o país deve reduzir as compras dos EUA em resposta ao tarifaço.

Segundo a consultoria econômica MB Associados, o Brasil também pode se beneficiar da crescente demanda chinesa por soja, milho, carne e outras commodities prevista para os próximos anos. Em relatório publicado pela BBC, a consultoria prevê que ocorra uma “tendência de aproximação do Brasil também com o Sudeste Asiático, Japão e Europa, aumentando a corrente de comércio com esses países”.

Por outro lado, alguns setores importantes para a economia brasileira sofrerão mais com o tarifaço. É o caso do alumínio e aço, que o governo Trump taxou em 25%, independentemente da origem, como ressaltou Constanza Negri, gerente de Comércio e Integração Nacional da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Em entrevista à BBC, ela observa que os derivados de ferro e aço são o segundo item de exportação para os EUA mais importante, com volume de vendas de US$ 2,8 bilhões em 2024. Só perdem para o petróleo, que totalizou US$ 5,8 bilhões em exportações para o país no ano passado.

“Eventuais ganhos podem afetar alguns setores, mas o saldo geral é preocupante para a produção brasileira”, avalia Negri.

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Roberto Azevêdo, ex-diretor geral da Organização Mundial do Comércio (OMC) e presidente de operações da Ambipar, tem a mesma opinião. Ao InfoMoney, ele manifestou preocupação com o novo contexto do comércio internacional, apesar das oportunidades pontuais que possam surgir para o Brasil

“A inflação vai subir, a economia mundial pode desacelerar, você pode ter um reordenamento dos fluxos de comércio globais, as cadeias de suprimento podem mudar. E, nesse contexto, vai ter impacto de todo jeito”, avalia.