O termo recessão remete a retrocesso, à retração de algo em relação a alguma coisa. Dessa forma, quando a expressão é aplicada a um país, isso significa uma piora duradoura na sua atividade econômica de forma geral.

Na prática, todos nós sabemos que isso é uma coisa ruim. Mas o que caracteriza de fato uma recessão? Quais os efeitos desse fenômeno e como isso pode impactar a sua vida e os seus investimentos?

Pensando na importância desse tema, o InfoMoney elaborou esse guia com tudo o que você precisa saber sobre o assunto. Continue a leitura e entenda esse ciclo da economia tão preocupante para todos os países.

O que é recessão econômica?

Antes de mais nada, é importante saber que, na economia, existem os ciclos de expansão, pico da expansão, recessão e depressão. Ou seja, a recessão é um dos ciclos econômicos que representam o contrário da prosperidade em um país. Se ela não é contida, a economia avança para a depressão, que nada mais é do que o agravamento da crise econômica.

De forma simplificada, podemos dizer que recessão é uma crise econômica na qual há redução da renda das famílias, do nível de emprego e da atividade empresarial de forma geral. Ou seja, ninguém fica imune aos efeitos financeiros de uma recessão.

Isso pode acontecer por diversos fatores, conforme veremos a seguir.

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O que pode causar uma recessão?

Na verdade, não existe uma causa única para que ocorra recessão em uma economia. Ela pode acontecer por causa de uma grave crise sanitária internacional (como foi durante a pandemia do coronavírus), por guerras ou por questões geopolíticas, por exemplo. Independentemente do motivo, o fato de que, durante uma recessão, as pessoas seguram os gastos, pois não sabem o que acontecerá no futuro.

Dessa forma, itens que não são de primeira necessidade saem do radar de consumo das famílias, que priorizam gastos com alimentação, saúde, moradia, entre outros do gênero.

No entanto, a economia funciona como uma engrenagem, pois mesmo que as pessoas cortem somente gastos supérfluos, isso acaba afetando toda a atividade empresarial. Por exemplo, se todo mundo decidir gastar menos com lazer durante as crises econômicas, as empresas de entretenimento sofrerão com a menor demanda por seus serviços. Consequentemente, precisarão cortar salários ou mesmo empregos. Ou seja, a retração do consumo acaba formando uma espiral negativa cada vez mais forte em tempos de recessão. Em última instância, isso pode levar à depressão, fase mais grave de um ciclo econômico.

Leia também: O que é deflação?

Características de uma recessão econômica

Embora os motivos de uma recessão possam ser diversos, existem características que são sempre comuns nesse tipo de fenômeno:

Queda do consumo

Normalmente, esse é o primeiro sinal de uma recessão. Ao se sentirem inseguras quanto aos rumos da economia, as pessoas retraem gastos que não são de primeira necessidade.

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Desemprego elevado

Com menos pessoas dispostas a consumir, as empresas reduzem a produção de bens e serviços, e isso faz com que a sua receita e seus lucros também caiam. Nessa situação, uma das primeiras ações para que possam controlar custos e manter a atividade é o corte de empregos.

Queda do poder aquisitivo

Com menos pessoas empregadas (ou, em muitas situações, ganhando menos), consequentemente há uma queda geral na renda.

Redução das despesas de capital

Essas despesas são aquelas que se referem à aquisição de máquinas, obras e tudo o que tiver relação com a produção. Como vimos, em tempos de recessão, a preocupação das empresas é a manutenção da sua operação. Por isso, suspendem esse tipo de gasto, até que haja uma reação da economia.

Redução da oferta de crédito

Com o desaquecimento da economia, as instituições financeiras ficam mais receosas em emprestar dinheiro, pois o risco de inadimplência acaba sendo maior. Dessa forma, o crédito bancário acaba ficando mais escasso no mercado.

Em uma recessão, os efeitos acima são percebidos de forma interligada, como em cascata. Ou seja, todas as pessoas e setores da economia sofrem com as suas consequências.

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Tipos de recessão

De forma geral, os economistas costumam diferenciar a recessão técnica da recessão de fato. A seguir, entenda o que significa cada um dos conceitos.

Recessão técnica

Dizemos que um país entra em recessão técnica quando o seu PIB (Produto Interno Bruto) recua por dois trimestres consecutivos. Na prática, o PIB funciona como um termômetro da economia. Teoricamente, se ele cresce, significa que a atividade empresarial está em alta, as pessoas estão empregadas e há poder aquisitivo no país para gastar.

Por outro lado, quando há retração do PIB em determinado período, significa que a atividade econômica do país está desaquecendo ou retraindo.

Cálculo do PIB

O PIB é o somatório de todos os produtos e serviços finais de uma economia. Isso significa que, no cálculo, são considerados somente os itens que chegam ao consumidor, para que não haja dupla contagem.

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Por exemplo, se o trigo é utilizado para fazer o pão, ele não entra no cálculo do PIB, pois esse irá considerar somente o valor do pão pago pelo consumidor.

No Brasil, quem calcula o PIB é o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Esse cálculo é realizado a cada três meses, com base em diversos outros índices produzidos pelo próprio órgão, como Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a Pesquisa Anual de Comércio (PAC) e de Serviços (PAS), e outros índices de consumo e setoriais.

O PIB pode ser calculado de duas maneiras: a partir da demanda dos consumidores e da oferta de bens e serviços.

Para calcular o PIB com base na demanda, são considerados: consumo das famílias (somente no mercado interno), investimentos e gastos do governo, investimentos das empresas e diferença entre exportações e importações do período.

Por sua vez, o cálculo com base na oferta considera toda a produção dos setores de serviço, indústria e agropecuária.

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Recessão de fato

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Já a recessão de fato considera outras variáveis, como produção industrial, nível de emprego, salários, e assim por diante. Ou seja, ela é bem mais complexa e, por isso, não se restringe a poucos meses de observação da economia.

Por isso, esse conceito é mais apropriado para medir o real momento da situação econômica de um país do que a recessão técnica. Por exemplo, um país que tenha forte dependência de um setor da economia (como o Brasil em relação ao agronegócio) pode entrar em recessão técnica se esse setor tiver um desempenho ruim em determinado período.

No entanto, isso não significa que o restante da atividade econômica esteja indo mal. Uma recessão de fato atinge toda a atividade econômica e, por isso, costuma ser mais duradoura.

Em outras palavras, um país pode entrar em uma recessão técnica sem que, necessariamente, ocorra uma recessão de fato. A recessão técnica funciona mais como um alerta, mas não é suficiente para mostrar se a contração atingiu todos os setores da economia.

Recessão rasa

Alguns economistas falam também sobre o conceito de “recessão rasa”. Esse fenômeno costuma ser mais breve, porém igualmente grave para a economia.

Um exemplo foi a recessão durante a pandemia, que durou alguns meses, mas deixou milhões de desempregados e empresas fechadas ao redor do mundo.

De acordo com reportagem publicada na Reuters, economistas e analistas recentemente sinalizaram que os EUA pode estar em direção a esse tipo de recessão. Nesse caso, há contração marginal da economia, e por um período limitado.

Recessão de crescimento

Na mesma reportagem da Reuters, alguns estudiosos abordam a noção de “recessão de crescimento”. Nesse sentido, o crescimento da economia desacelera abaixo da tendência de crescimento de longo prazo, mas não se contrai, enquanto o desemprego aumenta. Nesse caso, a observação contemplou o desempenho da economia dos Estados Unidos.

O cenário de recessão de crescimento foi mapeado por alguns formuladores de política monetária do Federal Reserve (o banco central do país) em suas últimas previsões.

O que é inversão da curva de juros

Em alguns países, como os Estados Unidos, a inversão da curva de juros costuma ser prenúncio de uma recessão.

Aqui, nosso objetivo é trazer esse conceito somente para que você entenda como ele está relacionado a períodos de recessão. Por isso, seremos bastante didáticos, e não entraremos em detalhes técnicos sobre esse fenômeno.

Como o próprio nome sugere, a curva de juros deve ter um formato normal, que é positivamente inclinada. Imagine que o eixo horizontal seja o tempo, e o vertical, a taxa de juros. Logo, quando falamos em taxa de juros positivamente inclinada, isso significa que a de curto prazo é mais baixa e, a de longo prazo, mais alta. Essa é a curva de juros padrão da economia.

Na prática, isso significa que entre um título de curto e outro de longo prazo, você terá uma remuneração mais alta nesse último. E o motivo é simples: teoricamente, quanto maior o prazo do título, mais risco ele oferece, pois ele está sujeito às oscilações da economia por mais tempo.

Em momentos normais da economia, digamos que um país emita um título público com vencimento para dois anos a uma taxa de 5% ao ano. Se ele quiser emitir um título por um prazo maior do que esse, precisará oferecer uma taxa maior para atrair investidores.

Porém, quando existem indícios de uma recessão se aproximando, essa lógica se inverte. Nesse caso, por causa da aversão ao risco, os juros de curto prazo se tornam maiores do que os de longo prazo. Por falta de confiança nas condições futuras da economia, o investidor prefere comprar um título de longo prazo com uma taxa menor. Dessa forma, consegue ao menos garantir alguma remuneração e evitar maiores perdas.

O Brasil está em recessão?

Não, o Brasil não está em recessão. Ao contrário, o PIB brasileiro tem mostrado recuperação, com crescimento de 1% no primeiro trimestre de 2022 comparado ao último trimestre de 2021.

De acordo com o IBGE, no acumulado dos quatro trimestres terminados em março de 2022, nosso PIB cresceu 4,7% em relação aos quatro trimestres imediatamente anteriores. E, segundo projeção do FMI divulgada em 27 de julho, o PIB brasileiro deverá crescer 1,7% em 2022.

Mas isso tudo não significa que a economia por aqui esteja em uma situação confortável, ou ao menos estável. Um dos motivos é justamente o fato da expectativa de recessão nos Estados Unidos. Se de fato isso acontecer por lá, uma das principais consequências será a desaceleração da atividade econômica global, o que, logicamente, atingirá também o Brasil.

Com o mundo em recessão, Brasil aparenta ser uma ilha – Opinião – InfoMoney

Como vimos, recentemente o Fed subiu a taxa de juros, e o motivo foi conter a inflação. No entanto, a alta de juros em países desenvolvidos costuma ocasionar saída de capital dos emergentes. Com juros mais altos em portos mais seguros, os investidores acabam migrando seus recursos para essas localidades. Quando isso acontece, o dólar se valoriza frente a moedas mais fracas, e bolsas de valores ao redor do mundo começam a registrar quedas.

Apesar da alta dos juros nos EUA, a inflação está bastante espalhada por diversos itens. Por isso, há o receio de que, por lá, ela dure mais do que o esperado. Além dos estímulos econômicos que o governo concedeu durante a pandemia, os reflexos da paralisação das empresas durante esse período ainda são sentidos na economia do país. Lembrando que a guerra entre Rússia e Ucrânia também impactou a distribuição de produtos, o que contribuiu para pressionar os preços para cima.

Ou seja, nossos indicadores econômicos até podem não estar tão ruins. No entanto, considerando o atual cenário econômico bastante adverso, há mais motivos para cautela e preocupação do que para comemorações.

Quais são os impactos nos investimentos?

Como vimos, uma recessão ocasiona impactos muito duros na economia como um todo. E isso se reflete também nos investimentos, pois o mercado passa a apresentar mais risco.

Em períodos de retração econômica, a volatilidade do mercado acionário costuma ser bem maior. Para se adaptarem à redução da demanda, as empresas também enxugam produção e gastos. Isso faz com que os seus resultados diminuam, o que se reflete também no preço de suas ações.

Quem permanece na bolsa, acaba preferindo ações de companhias mais sólidas, que atuam em segmentos mais tradicionais da economia. Dessa forma, reduz a procura por ações de empresas novatas, pois, embora muitas delas tenham grande potencial de crescimento, poderão ter dificuldades em concretizar o planejamento de longo prazo.

Além disso, a recessão econômica traz uma onda de negatividade entre os investidores. Com notícias ruins no mundo todo e indicadores financeiros pouco atraentes, o pessimismo acaba tomando conta do mercado. Isso faz com que as pessoas prefiram investimentos mais seguros e mais líquidos, pois pode ser, a qualquer momento, seja necessário sacar os recursos para fazer frente a alguma necessidade financeira.

Ainda em relação à segurança, a renda variável passa a ser mais atrativas em momentos de instabilidade econômica. Ainda mais se as taxas de juros estiverem em alta, pois dessa forma pode-se obter melhores retornos sem correr o risco da renda variável.

Portanto, períodos de recessão exigem uma diligência ainda maior por parte do investidor em relação a sua carteira. Para quem tem um perfil mais arrojado e decide permanecer na bolsa, é melhor dar preferência às empresas mais resilientes e com melhores fundamentos. Além disso, é ainda mais importante ter um horizonte de longo prazo, pois esses momentos podem durar mais do que o previsto.

Já quem é mais conservador, pode ser um bom momento de aumentar a participação da renda fixa na carteira. De qualquer forma, manter uma boa div