O clima previsível e as estações do ano bem definidas estão se tornando, cada vez mais, parte de um passado distante. Uma das principais causas dessa nova realidade é o aquecimento global, que atualmente afeta todas as regiões da Terra e gera mudanças preocupantes nos ecossistemas do planeta.
De acordo com a Organização Meteorológica Mundial (OMM), 2024 foi o ano mais quente já registrado, com as maiores temperaturas observadas nos últimos dez anos, desde 2015. Segundo um relatório divulgado pela entidade em janeiro de 2025, a temperatura média global em 2024 ficou mais de 1,5°C acima da média registrada entre 1850 e 1900.

As consequências do aumento da temperatura global são catastróficas, causando prejuízos significativos ao meio ambiente e à vida humana. O impacto é tão alarmante que António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, classificou o fenômeno como “ebulição global” em um discurso realizado em Nova York, em julho de 2023.
A seguir, saiba mais sobre as causas e consequências desse problema, que já afeta o mundo inteiro em diferentes graus de intensidade.
O que é?
O aquecimento global é um grave problema ambiental, caracterizado pelo aumento gradual da temperatura média da Terra ao longo dos anos. Esse fenômeno ocorre, na prática, devido ao aumento da concentração de gases poluentes na atmosfera.
Como mostrado no gráfico acima, sua intensificação começou a partir da década de 1980. No entanto, registros históricos indicam que a temperatura do planeta começou a subir mais rapidamente desde a Segunda Revolução Industrial, iniciada em meados do século XIX.
Embora o advento da indústria tenha trazido uma nova ordem econômica ao mundo, o meio ambiente começou a sentir os efeitos dos novos métodos de produção. Na época, as máquinas passaram a ser alimentadas em grande escala por carvão mineral, petróleo e eletricidade. Paralelamente, houve um aumento na circulação de automóveis nas cidades, que também dependem de combustíveis fósseis.
Cada uma dessas fontes de energia, à sua maneira, causa sérios impactos ambientais, como veremos a seguir.
Causas
Uma das principais causas do aquecimento global é a combinação do efeito estufa com o desmatamento de grandes áreas verdes do planeta. O dióxido de carbono (CO2) é um dos principais gases associados ao efeito estufa, mas outros gases também desempenham papéis importantes nesse fenômeno, como o metano (CH4), o óxido nitroso (N2O) e os clorofluorcarbonos (CFCs).
É importante destacar que o efeito estufa, por si só, não é nocivo ao meio ambiente. Pelo contrário, ele é essencial para que a Terra consiga absorver a radiação solar na intensidade adequada. Sem ele, acredita-se que os continentes seriam cobertos por densas camadas de gelo. Ou seja, os gases de efeito estufa (GEE) desempenham um papel fundamental no controle das condições climáticas e na manutenção da vida no planeta.
O problema surge quando a concentração desses gases aumenta na atmosfera, principalmente devido às atividades humanas que degradam o meio ambiente. Por exemplo, para obter carvão mineral (uma fonte de carbono), muitas árvores começaram a ser destruídas e queimadas, aumentando a quantidade de CO2 na atmosfera ao longo do tempo. Além disso, a extração de petróleo e gás natural, bem como a criação de grandes rebanhos de ruminantes (como vacas e ovelhas), libera grandes quantidades de metano no meio ambiente, contribuindo para a intensificação do efeito estufa.
Os CFCs, por sua vez, são liberados por equipamentos como geladeiras, sistemas de climatização (ar-condicionado e materiais de isolamento térmico), aerossóis, entre outros. Esses são apenas alguns exemplos de fatores que levam ao aumento dos GEE na atmosfera.
Esse efeito é agravado pelo desmatamento de grandes áreas verdes. As florestas têm uma capacidade natural de absorver CO2 e convertê-lo em oxigênio por meio da fotossíntese. No entanto, quando há excesso de CO2 no ambiente, o oxigênio produzido pelas plantas torna-se insuficiente, já que as próprias plantas possuem carbono em sua constituição. Em outras palavras, o desmatamento intensifica o efeito estufa.
Essa dinâmica também causa outro dano significativo: a destruição da camada de ozônio na estratosfera da Terra. Com menos ozônio, os raios ultravioleta emitidos pelo Sol atingem o planeta com maior intensidade, contribuindo para o aumento do aquecimento global.
Consequências
O aumento da temperatura no planeta provoca diversas transformações no ambiente e na vida da sociedade como um todo. Entre as mais graves, destacam-se:
- Derretimento das geleiras e calotas polares: Isso provoca elevações nos níveis dos oceanos e alterações climáticas em diversas regiões do mundo.
- Acidificação dos oceanos: O aquecimento das águas contribui para a alteração do pH dos oceanos, prejudicando a vida marinha.
- Extinção de espécies animais e vegetais: Muitas espécies não conseguem se adaptar às temperaturas mais altas, causando desequilíbrios ambientais.
- Alterações nos ciclos agrícolas: Chuvas e secas mais intensas e fora de época podem comprometer a produção de alimentos, levando à escassez.
- Aumento de doenças e epidemias: As mudanças climáticas favorecem o surgimento e a disseminação de doenças.
- Catástrofes climáticas: Eventos como enchentes, furacões, tornados e secas tornam-se mais frequentes e intensos, gerando refugiados climáticos em diferentes partes do mundo.
Medidas
Como vimos, o aquecimento global resulta da combinação de diversos fatores e afeta todo o planeta. Por isso, seu controle exige estratégias que vão desde ações simples e locais até iniciativas mais sofisticadas e de alto custo. Cada vez mais, empresas ao redor do mundo têm adotado práticas ESG (ambientais, sociais e de governança) para mitigar os danos ao meio ambiente.
Uma dessas iniciativas é o reflorestamento urbano, que ajuda a combater as altas temperaturas e pode evitar as chamadas “ilhas de calor”. Esse fenômeno ocorre quando há diferenças expressivas de temperatura em uma mesma cidade no mesmo dia. Um estudo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Mackenzie demonstrou isso ao comparar os bairros Morumbi e Paraisópolis, em São Paulo. Apesar de serem próximos geograficamente, eles apresentam características muito diferentes.
A pesquisa revelou que Paraisópolis tem temperaturas cerca de 8°C mais altas do que o Morumbi. Segundo o professor Renato Anelli, responsável pelo estudo, essa diferença se deve à configuração dos bairros: Paraisópolis possui menos árvores e uma maior densidade de construções, enquanto o Morumbi conta com mais áreas verdes e construções mais espaçadas e de menor porte.
Outra medida essencial seria a mudança da matriz energética mundial, priorizando fontes de energia renováveis e não poluentes em vez de combustíveis fósseis. Exemplos de energias limpas incluem a eólica, a hidráulica (gerada pela força das quedas d’água), a solar e a biomassa.
Além disso, a reciclagem e a redução da produção de lixo são ações fundamentais, que podem ser promovidas por meio de campanhas de conscientização social. Menos lixo no ambiente significa menos emissão de gás metano nos aterros sanitários das cidades, contribuindo para a redução do efeito estufa.
Acordos
Diversos países são signatários de acordos que buscam soluções para o problema do aquecimento global. A primeira reunião oficial de líderes mundiais para tratar do clima ocorreu em 1972, durante a Conferência de Estocolmo. Esse encontro resultou no estabelecimento de 26 princípios que deveriam ser seguidos pelas nações para garantir o desenvolvimento sustentável e proteger o meio ambiente.
Nos anos seguintes, os avanços em relação à preservação ambiental foram tímidos. O tema do aquecimento global começou a ganhar destaque apenas no início dos anos 1990, quando o Brasil sediou a ECO-92, no Rio de Janeiro. Um dos principais resultados desse evento foi a criação da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), que deu origem aos primeiros acordos voltados à redução da emissão de gases poluentes, levando em consideração o perfil socioeconômico dos países envolvidos.
A partir de 1995, a UNFCCC passou a realizar fóruns anuais para discutir as mudanças climáticas. Esses encontros, conhecidos como Conferência das Partes (COP), foram palco de importantes avanços. Um marco foi a criação do Protocolo de Kyoto, em 1997, que estabelecia metas para a redução das emissões de gases de efeito estufa.
Posteriormente, o Protocolo de Kyoto foi substituído pelo Acordo de Paris, assinado em 2015 por 196 países, incluindo o Brasil. Entre suas diretrizes, o Acordo de Paris determina que os países desenvolvidos invistam US$ 100 bilhões por ano em medidas para conter o aquecimento global nos países em desenvolvimento, promovendo uma abordagem mais equitativa e colaborativa no combate às mudanças climáticas.