Os melhores setores para empreender em 2022

Saúde, e-commerce e alimentação devem continuar em alta, mas é preciso tomar alguns cuidados. Confira os alertas de especialistas

Letícia Toledo

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SÃO PAULO – Inflação e juros em alta, variante do coronavírus, eleições. Como se iniciar um negócio já não fosse difícil o suficiente, o ano de 2022 promete um cenário macroeconômico com desafios extras. “Será um ano de dinheiro caro e quem quer empreender precisa fugir do capital emprestado por bancos”, afirma Roberto Kanter, consultor, mentor da Endeavor e professor da Fundação Getúlio Vargas. 

Mas, como sempre, as dificuldades podem trazer boas oportunidades para quem não tem problema em colocar a pele em risco. Pensando nisso o Do Zero ao Topo — marca de empreendedorismo do InfoMoney — levantou os setores mais oportunos para quem quer começar um negócio em 2022, seja para uma empresa pequena ou para criar algo escalável como uma startup.

Além de buscar os melhores segmentos, especialistas afirmam que o cenário atual requer cuidado redobrado com o fluxo de caixa. “Na última edição da nossa pesquisa de impacto do coronavírus, metade dos empresários disse que o aumento de custos é o que mais tem dificultado sua recuperação financeira. Em segundo lugar, vem a falta de clientes. Depois, as dívidas de empréstimos, com impostos e com fornecedores”, afirma Carlos Melles, presidente do Sebrae. Confira os principais setores indicados para empreender abaixo.

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De olho no PIB: o agronegócio

Apesar de o país ter entrado em recessão técnica (dois trimestres seguidos de retração), a previsão de economistas para 2022 é de que há segmentos que devem sustentar o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.

Um dos principais deve ser a agricultura. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) estima que o PIB do agronegócio deve ter um crescimento entre 3% a 5% em 2022. Vale, no entanto, tomar cuidado com os custos: a alta de insumos como fertilizantes e defensivos promete achatar o lucro do mercado como um todo.

Justamente olhando para os custos é que surge uma grande oportunidade: a criação de negócios que utilizam tecnologia para otimizar o campo. Nos últimos anos, surgiram e cresceram no país startups que reduzem a utilização de agrotóxicos, auxiliam no rastreamento da cadeia e trazem ganhos de produtividade.

Em seu podcast semanal o Do Zero ao Topo abordou recentemente a história de dois negócios bem-sucedidos no agronegócio. Investindo na eficiência e automatizando processos, a produtora de sementes Boa Safra multiplicou seu faturamento em 19 vezes nos últimos dez anos. Em 2021, ela estreou na bolsa brasileira levantando R$ 460 milhões. (Confira sua história completa aqui).

Já a Agrosmart é uma startup que leva inteligência ao campo e reduz custos dos agricultores. Criada em 2014, ela cresceu mais de 100% em 2021 e atualmente, atende mais de 100 mil produtores. (Confira sua história completa neste vídeo).

Saúde: da telemedicina à saúde feminina

O setor de saúde está em evidência desde o início da pandemia. Neste campo, a telemedicina é um dos destaques citados por especialistas como oportunidade para a construção de negócios. Eles destacam que, embora a realização de consultas virtuais tenha vindo para ficar, muitos médicos ainda estão se organizando para esse novo cenário.  Para pequenos e médios empreendedores, há uma oportunidade de criação de empresas que ofereçam a locação de espaços, equipamentos e plataformas digitais.

Para quem busca um negócio com crescimento exponencial, o setor também é uma ótima área. As chamadas healthtechs (startups de saúde) receberam US$ 14,2 bilhões em investimentos globalmente durante 2020. É possível investir em nichos de gênero ou idade, como a saúde da mulher e a saúde da terceira idade, ou ainda criar planos de saúde e clínicas para atender uma população específica, como microempreendedores ou a classe C.

Pets: pensamento além do varejo

Setor de atuação de grandes varejistas já consolidadas como Petz, Petlove e Cobasi, o segmento de animais de estimação ainda tem espaço para quem quer montar um negócio, afirmam especialistas. “Há muitas possibilidades para pequenas empresas de higiene e embelezamento, alojamento e treinamento de pets”, afirma Carlos Melles, presidente do Sebrae.

Serviços: aulas, marketing e bem-estar

Kanter, da FGV, afirma que o sucesso de todo negócio em seu estágio inicial passa muito mais pela linha da despesa do que pela linha da receita. Isso porque as despesas iniciais costumam ser altas e o retorno demora a aparecer. Em um ano desafiador como 2022, buscar setores com despesas menores é a saíde.

Por isso, vale a pena olhar para o setor de serviços. Neste segmento há oportunidades que permitem que o empreendedor trabalhe de casa e “venda” o conhecimento que já possui. Alguns dos nichos de grande potencial nessa área são: consultoria de marketing digital, produção de conteúdo para blogs e sites, aulas particulares para crianças e adolescentes e serviços de beleza e bem-estar.

No podcast do Do Zero ao Topo é possível encontrar inspiração e estratégias para desenvolver seu negócio de serviços com a história da Espaçolaser — atualmente a maior rede de depilação do mundo.

Alimentos: produtos saudáveis e dark kitchens

Um dos nichos mais procurados entre os micro e pequenos empreendedores, o setor de alimentação passou por importantes transformações ao longo dos últimos dois anos. Em 2022, o cenário de inflação em alta deve impactar os custos, mas especialistas acreditam que os novos hábitos de consumo no delivery e com a retomada das refeições presenciais, se a variante do Covid-19 permitir, oferecem boas oportunidades para quem quer montar um estabelecimento.

Entre as startups do setor, tem ganhado força o mercado de proteínas alternativas, produzidas principalmente a partir de plantas, alimentação saudável e também o conceito das dark kitches, cozinhas focadas 100% no delivery.

E-commerce: bens essenciais e a omnicanalidade

O boom visto no e-commerce brasileiro nos últimos dois anos deve continuar, mas, com a economia mais fraca, quem quer vender produtos deve apostar em bens essenciais, como de saúde e alimentos. Outra possibilidade para tornar o negócio menos volátil é investir em produtos com alta recorrência e oferecer a opção de assinaturas. Foi essa estratégia que fez da Wine o maior clube de vinhos do mundo.

Ao contrário do senso comum, Kanter, professor da FGV, ressalta que nem sempre investir em uma loja online é mais barato e do que em uma loja física. “Obviamente no e-commerce você não tem o custo do espaço físico e de funcionários, mas um e-commerce é como andar de balão: se não colocar ar quente o tempo todo, ele cai. É preciso investir constantemente na aquisição de clientes e construir uma estratégia consistente de relacionamento para que o cliente volte”, explica. 

Nesse sentido, mesmo as marcas de varejo nativas digitais estão apostando em espaços físicos para melhorar o relacionamento e fidelizar clientes. A estratégia da vez no varejo é unir diferentes canais de compra — site, redes sociais e lojas físicas — criando a omnicanalidade.

Para a criação de startups nesse setor, a oportunidade está no B2B (business-to-business), com a criação de serviços que auxiliem os varejistas a vender online.

Franquias: casa e saúde

Para quem quer um investir em um negócio já formatado, as franquias continuam sendo uma ótima opção. Após uma queda em 2020, o faturamento das empresas desse setor voltou a crescer em 2021. O segmento que teve a maior alta até o terceiro trimestre de 2021 foi o de turismo e hotelaria — impulsionado pela retomada e viagens. Mas especialistas alertam que o aumento de casos de Covid pode fazer o segmento sofrer novas perdas em 2022.

Na sequência, os maiores crescimentos vieram das franquias de casa e construção; saúde, beleza e bem-estar e alimentação e moda. Kanter da FGV recomenda que o empreendedor fuja de produtos cíclicos e que estejam em moda — como já aconteceu com paletas e cupcakes em anos anteriores. A saíde é escolher um segmento com o qual o empreendedor já tenha afinidade.

Além disso, a pesquisa e conversa com outros franqueados da marca em que se está interessado é um passo fundamental para a definição de investir ou não no negócio. Uma terceira dica é não utilizar todo o capital disponível para a compra da franquia. “Se você tem ao todo R$ 100 mil, precisa procurar uma franquia de R$ 30 a R$ 40 mil porque o negócio vai exigir mais capital ao longo dos meses”, ressalta Kanter.

Letícia Toledo

Repórter especial do InfoMoney, cobre grandes empresas de capital aberto e fechado. É apresentadora e roteirista do podcast Do Zero ao Topo.