Benzeno x câncer: presença de substância em marcas de skincare é analisada

Especialistas são contra alarmismo, mas defendem nova maneira para conservar produtos para acne; entenda

Maria Luiza Dourado

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A descoberta recente, feita pelo laboratório norte-americano Valisure, da presença de benzeno, uma substância química potencialmente cancerígena, em produtos à base de peróxido de benzoíla, usados para o tratamento de acne, necessita de maior validação nos Estados Unidos, dizem especialistas consultados pelo InfoMoney.

Os testes do Valisure mostraram que alguns produtos de marcas como Clinique, da Estee Lauder; Up & Up, da Target; Clearasil, da Reckitt Benckiser; e Proactiv, no PanOxyl, no sabonete contra acne da Walgreens e no creme de acne Equate Beauty, do Walmart, podem formar mais de 800 vezes a concentração limite condicionalmente restringido pela FDA (Anvisa dos Estados Unidos) para o benzeno.

O benzeno é capaz de se acumular no organismo e acaba sendo o responsável pelo desenvolvimento de diversos tipos de câncer. No Brasil, a substância é proibida para produtos de higiene, cosméticos e perfumes, e somente traços de benzeno são admitidos quando sua presença é “tecnologicamente inevitável” nos procedimentos de fabricação, informou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ao InfoMoney.

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Já o peróxido de benzoíla, que também é proibido nas mesmas categorias de produtos, é permitido em medicamentos, mas que devem “seguir as farmacopeias reconhecidas pela agência para a realização do controle de qualidade”, segundo o regulador.

“O estudo do Valisure mostrou que o peróxido de benzoíla – a principal substância que usamos para tratar acne – em temperatura elevada, ou 37º Celsius, a temperatura da nossa pele, pode ter alguma transformação para benzeno”, explica a médica dermatologista Elisete Crocco, coordenadora do departamento de cosmiatria da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD).

Crocco participou do Encontro Anual da Academia Americana de Dermatologia, que aconteceu entre 8 e 14 de março em San Diego, nos Estados Unidos, onde o estudo do Valisure foi amplamente debatido. A especialista defende que mais evidências são necessárias antes do alarde contra o peróxido de benzoíla.

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“A Academia Americana de Dermatologia posiciona-se afirmando que o uso de peróxido de benzoíla pelos pacientes não será necessariamente proibido – usamos essa substância por décadas. A nova orientação será armazenar o produto em refrigeração antes do uso”, explica Crocco.

A especialista explica ainda que o estudo não afirma que o peróxido de benzoíla sempre se transforma em benzeno. “Na verdade, é a degradação do mesmo quando exposto a temperaturas mais elevadas que pode promover essa transformação, ou seja, nem todo frasco da sustância necessariamente vai se transformar em benzeno”, pontua.

Outro argumento que justifica uma análise mais criteriosa do tema é o fato de que a descoberta foi feita por apenas um laboratório. “O FDA [Considerado a Anvisa dos Estados Unidos] posiciona-se dizendo que novas medições deverão ocorrer, ou seja, existe a necessidade de validação do estudo em outros laboratórios, para comprovar se isso [transformação de peróxido de benzoila em benzeno] realmente ocorre”, completa Crocco.

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À reportagem, a FDA (Food and Drug Administration), afirmou que atua com base em informações fornecidas por diversas fontes, como as informações enviadas pelo Valisure, mas que esses dados devem ser verificados como precisos e reproduzíveis antes de embasarem decisões regulatórias, como recomendar suspensão ou recalls de produtos.

“A FDA alertou os fabricantes de medicamentos sobre o risco de contaminação por benzeno de componentes de medicamentos e outros fatores de risco potenciais e está avaliando a causa-raiz da contaminação por benzeno em certos medicamentos”, disse o órgão que se comprometeu a comunicar novas informações relacionadas aos esforços de testagem assim que estiverem disponíveis.

Em território nacional, a Anvisa informou ao InfoMoney que ainda não foi identificada qualquer notificação de eventos adversos à saúde relacionados aos produtos mencionados pela reportagem – Clinique, da Estee Lauder, Up & Up, da Target, Clearasil, da Reckitt Benckiser, Proactiv, PanOxyl, Walgreens e Equate Beauty.

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Estudo do Valisure

A agência Reuters informou, neste mês, que altos níveis de benzeno haviam sido detectados em alguns produtos para tratamentos de acne à base de peróxido de benzoíla de marcas tradicionais

O laboratório entrou com uma petição na Administração de Alimentos e Medicamentos dos EUA (FDA, na sigla em inglês) pedindo que o órgão regulador faça um recall dos produtos, conduza uma investigação e revise orientações à indústria.

O carcinógeno já foi encontrado em vários produtos de consumo, incluindo filtros solares, desinfetantes para a mão e xampus secos, o que levou a recalls de produtos fabricados por empresas como Procter & Gamble e Johnson&Johnson. Mas a detecção de benzeno em produtos para o tratamento da acne foi “substancialmente diferente” dos outros casos, segundo o Valisure.

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“O benzeno que encontramos em filtros solares e outros produtos de consumo eram impurezas que vieram de ingredientes contaminados. No entanto, o benzeno em produtos à base de peróxido de benzoíla estão vindo do próprio peróxido de benzoíla”, disse o co-fundador e presidente do Valisure, David Light.

Maria Luiza Dourado

Repórter de Finanças do InfoMoney. É formada pela Cásper Líbero e possui especialização em Economia pela Fipe - Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas.