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Opinião: A Ford nunca ganhou tanto dinheiro no Brasil como agora

A grande lógica do mercado (qualquer mercado) é: share é vaidade... lucro é realidade
Por  Raphael Galante -
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Caros leitores, digníssimas leitoras,

Eis que, neste vil espaço, vamos tratar do renascimento da Ford no Brasil. Assim como a mítica Fênix, a marca americana está ressurgindo das cinzas em terras tupiniquins!

A história da Ford no Brasil remonta à época do “Guaraná com rolha” – lá pela década de 1950, quando a marca começou a vender os seus veículos no Brasil. Ou seja, são quase 70 anos comercializando carros no Brasil, com mais de 9 milhões de unidades (automóveis e comerciais leves) vendidas.

De fato, num passado “um tanto quanto distante” (décadas de 1970-80), a Ford era uma das marcas que mais vendia carros no país. Nestas duas décadas, 1 em cada 5 carros vendidos no mercado brasileiro era da marca do oval azul. Nesse período, ela detinha um share médio de aproximadamente 20%.

Ou seja, existe uma história (afetiva) da marca com o consumidor brasileiro.

Tanto que, no começo de 2020, quando veio aquela medida lá de Detroit no melhor estilo “top down” encerrando as operações fabris no Brasil, o choque foi grande e traumático!

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Aqui não vamos falar das besteiras que a marca fez ao longo das últimas décadas que podem ter acelerado a decisão da matriz. Não importa o fiasco que foi a Autolatina ou o câmbio PowerShift, por exemplo. Vamos tentar mostrar o renascimento da marca.

Começando a nossa epopeia:

A marca, ao longo da sua vida no mercado brasileiro, possui um share médio de 11%, com destaque ao seu desempenho nos anos 1970-80.

Na última década, porém, ela estava trabalhando com um share inferior a 10%, um megasinal de alerta para a caboclada de Detroit. Em 2019, último ano de operação full da marca, ela encerrou com um share de 8,2%.

Hoje, a marca possui share de 1 ponto percentual, sendo essa sua nova realidade. O mercado da Ford no Brasil é de um range entre 0,8% a 1,2%.

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E você, caro leitor, deve estar pensando: “O estagiário surtou… a marca tinha share médio de 11%, vai viver com 1% e está ressurgindo das cinzas?”

Calma… o melhor sempre fica para o final!

A grande lógica do mercado (qualquer mercado) é: share é vaidade… lucro é realidade.

O ponto que decretou o fechamento das fábricas da marca foi o prejuízo acumulado de US$ 5,27 bilhões de dólares no período de 2013 até 2019.

Ou seja, a operação encerrava cada ano com um prejuízo médio de US$ 750 milhões.

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Mas a reviravolta deu-se no ano passado!

A operação da Ford na América do Sul, em que o mercado brasileiro possui uma participação (média de 17 anos oscilando ente 25% a 75%) de 60%, foi a mais rentável da marca.

Mas não é só assim a mais rentável…

O que queremos dizer é que ela registrou “A” rentabilidade!

No ano santo de 2022, um carro Ford vendido em qualquer lugar do mundo gerava um lucro líquido de US$ 2.430. Na América do Norte, o quintal deles, esse mesmo veículo gerava uma lucratividade de US$ 3.940.

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Já na América do Sul, o lucro médio de um carro Ford vendido foi de US$ 4.878. Ou seja, por aqui, a lucratividade de um carro vendido é mais que o dobro da média da marca e quase 24% maior que a registrada na América do Norte.

Os quase US$ 400 milhões de lucro na América do Sul foram o melhor resultado da marca nos últimos 11 anos.

E qual foi a mágica da Ford?

Eles entenderam que share/volume é vaidade e não enche barriga! Eles nunca ganharam tanto dinheiro por carro vendido na América do Sul como agora. A receita foi reduzir drasticamente o seu volume em unidades de carros vendidos (algo do tipo 80% a menos) e se focar em carros de altíssimo valor agregado.

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Eles mataram o “Kazinho” e dá-lhe Bronco, Ranger, Maverick e Mustang!

Ou seja, abandonaram os carros pequenos do tipo Hatch Pequeno, segmento no qual a concorrência é feroz (o que afeta a rentabilidade) e se focaram no que é o “buchicho” do mercado, os SUV e as Picapes.

Passaram de uma marca de volume para uma marca de nicho!

Além disso, devemos levar em consideração que eles são americanos – ou seja, são muito “cartesianos”! E aí, operar uma produção fabril no Brasil, com toda carga trabalhista, falta de logística, imensa quantidade de impostos que o setor paga (tipo o imposto sobre o imposto – PIS/Cofins sobre o ICMS) entre outros mil problemas, não era para eles.

Tanto que hoje, 100% dos carros vendidos pela marca são importados. Bem diferente do resultado das últimas três décadas:

Agora só imagino que os “brothers” lá dos States devem ficar se questionando na reunião do conselho por que não fizeram isso muito tempo antes!

E aí, o que achou? Dúvidas, me manda um e-mail aqui.

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Raphael Galante Economista, atua no setor automotivo há mais de 20 anos e é sócio da Oikonomia Consultoria Automotiva

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