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Apesar do governo, mercado de carros eletrificados deverá ter aumento de 150% nas vendas

A previsão para este ano é que o mercado de carros eletrificados represente mais de 9% do total de carros vendidos
Por  Raphael Galante -
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Caros leitores, digníssimas leitoras,

Eis que o glorioso mercado automotivo veio com uma clássica luva de pelica para dar na cara do governo!

Há uns três meses, o glorioso (des)governo federal decidiu voltar (gradativamente) com o singelo imposto de importação – 35% – sobre os veículos híbridos/elétricos importados.

Na verdade, segundo o (des)governo, a ideia era estimular o desenvolvimento de veículos eletrificados, como se a concorrência não fosse um dos principais meios para fazer a indústria crescer.

Enfim, apesar de a medida (claramente) ser uma grande barreira de entrada para novas marcas, parece que o mercado deu de ombros para ela!

No ano passado, a participação do mercado de carros eletrificados teve um aumento de 65%. Encerramos o ano de 2023 com participação de 4,16%. No ano de 2022, esse percentual era de 2,51%.

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A previsão para este ano é que o mercado de carros eletrificados represente mais de 9% do total de carros vendidos. Já neste primeiro mês do ano, esse número chegou próximo dos 8%.

A projeção para a venda de carros elétricos/híbridos neste ano ficou em 225 mil veículos, um aumento de 148% sobre o ano de 2022, quando vendemos quase 91 mil veículos.

O grande ponto é que as marcas chinesas gigantescas dobraram a aposta. E aqui estamos falando claramente do desempenho que a BYD e a GMW apresentaram no ano passado e já estão realizando neste ano (fora as outras que estão “ciscando” para chegar).

As duas marcas combinadas já possuem 4,1% do mercado de veículos.

Hoje, a BYD já é a décima marca mais vendida no Brasil, com uma probabilidade imensa de se tornar a nona marca mais vendida – ultrapassando a Honda, ainda mais quando o carro de entrada da marca chegar no preço “arrasa quarteirão”, como eles vem anunciando.

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Mas temos que fazer uma ressalva… quando falamos de carros eletrificados (como no ano de 2023, por exemplo), mais de 80% são de veículos híbridos. O carro 100% elétrico correspondeu no ano passado por 0,8% das vendas.

O mercado de carros elétricos, na visão deste vil estagiário, ainda deve demorar mais alguns ciclos até deslanchar.

No mercado automotivo americano e europeu, existe um movimento pelos elos da cadeia (indústria-concessionária-infraestrutura) para tirar um pouco o pé do acelerador na demanda de carros 100% elétricos. Lá, eles estão debatendo se existe a necessidade de eliminar o carro com motor à combustão de vez no pequeno prazo exigido.

O conceito a que se chega (principalmente no mercado americano) é que “um bom veículo híbrido” é melhor que um 100% elétrico.

Quem acompanha as mídias sociais já deve ter visto inúmeros vídeos nos quais os consumidores fazem filas homéricas para carregar o seu veículo; brigas para acessar o terminal; geradores a diesel para gerar energia de carregamento; e algumas cidades da Europa já estão proibindo residências (prédios) mais antigos de instalarem pontos de carregamento, devido à dificuldade (segurança) de colocar a infraestrutura correta.

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Mas, voltando à nossa epopeia.

O mercado de carros eletrificados no Brasil mudou e já virou realidade. Estamos vivendo uma terceira onda/ciclo no mercado automotivo.

A primeira foi quando tivemos a chegada das “newcomers”, que entraram no mercado no início dos anos 1990. Antes, tínhamos apenas quatro marcas (VW-Fiat-Ford-GM) e, com a “abertura dos portos” pelo presidente Collor, tivemos a entrada de diversas marcas como Renault, Peugeot, Toyota (não, não consideramos a operação do Toyota Bandeirantes como válida), por exemplo.

Já em meados do ano 2000, tivemos a nossa segunda onda, com a entrada de outras marcas como, por exemplo, Hyundai e diversas importadoras que se consolidaram no mercado brasileiro.

Esta terceira onda (mesmo com o tarifaço do governo) não tem mais volta. O estrago está sendo feito nas montadoras que aqui já estavam instaladas.

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Exemplos?

Devido ao efeito BYD/GWM, diversas montadoras derrubaram o preço dos seus veículos.

O Renault Kwid elétrico foi lançado ao preço de R$ 143 mil. Hoje, está em quase R$ 100 mil. O Peugeot 2008 elétrico foi lançado em novembro de 2022 por quase R$ 260 mil – hoje, ele é vendido com desconto de R$ 100 mil sobre o preço de lançamento. E assim ocorreu com diversos modelos elétricos/híbridos.

A concorrência fez o preço ser derrubado… imagine se o governo não tivesse elevado o imposto para ajudar as montadoras daqui.

Você pode apontar para mim e dizer que as montadoras já anunciaram a intenção de investir no setor mais de R$ 40 bilhões. O que é uma quantia considerável de investimento.

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Do montante anunciado, somente BYD e GWM estão com investimentos para o surgimento de novos polos fabris (ou seja, dinheiro novo entrado no país). As demais irão adequar o seu atual parque para manter a competitividade de seus produtos e o nível de emprego (?). Elas trabalharão com recursos próprios (??) ou então socorrerão a empréstimos bancários. Ou vai rolar aquele “paitronicinio” via BNDES. Por fim, ainda temos o programa MOVER do (des)governo federal, no qual poderão se creditar de parte do IPI (pago agora e depois devolvo lá na frente).

Todo investimento é bem-vindo! Mas anunciar sem detalhar efetivamente o projeto e/ou dizer efetivamente o que vai fazer, ou anunciar usando dinheiro do governo e/ou crédito tributário… aí já é outra história.

É anúncio “para inglês ver”!

Fazendo uma analogia com o nosso esporte bretão, aqui em terras tupiniquins já tivemos: o anúncio do Drogba para jogar no Corinthians; do Anelka no Galo mineiro; o Balotelli ia parar no Flamengo; o Yayá Touré no Botafogo; e poderíamos listar mais uma meia dúzia de anúncios feitos. E vimos o que aconteceu, não vimos?

Enfim, prevejo para o setor alguns Drogbas, Anelkas e Balotellis aparecendo…

E aí, o que achou? Dúvidas, me manda um e-mail aqui.

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Raphael Galante Economista, atua no setor automotivo há mais de 20 anos e é sócio da Oikonomia Consultoria Automotiva

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