Apogeu e queda do setor de motocicletas

Afinal de contas o que está acontecendo com o segmento de duas rodas?
Por  Raphael Galante
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Antes de começar o meu post, tenho que fazer uma confissão: Eu tenho uma “admiração especial” pelo setor e, também, pelo pessoal que trabalha nele (independentemente se é: montadora, concessionária ou braço financeiro).

Dito isso, vamos voltar ao nosso conceito “rodriguiano” e mostrar: A VIDA COMO ELA É!

O que verificamos nos últimos anos, é a vasta exposição do conceito “inclusão social”. Tema amplamente difundido pelo partido que está no poder nos últimos três/quatro mandatos. E, independentemente da posição política, houve um processo de inclusão.

Fazendo uma analogia com o setor automotivo, o setor de duas rodas é o símbolo máximo do conceito de inclusão social, ou melhor: “inclusão econômica”.

O grande ponto é que (por incrível que pareça), o inicio do apogeu do setor de duas rodas não começou com o “sapo barbudo” e sim com o “dom Perignon”.

Voltando ao tempo, com o advento do plano Real em 1994, e o início do processo de estabilização da economia, acreditamos que o símbolo máximo da vitória da nova moeda foi a motocicleta. “Nunca antes na história de um país”, uma indústria se desenvolveu tão rapidamente como a de motos.

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O crescimento nas vendas de motocicletas seguia uma progressão geométrica.

Duvida? Vamos quantificar!

No ano santo de 1994, tivemos 127 mil motocicletas vendidas e, passado apenas quatro aninhos, já em 1998 (o que, em termos de indústria, não é nada) o setor registrava volume de quase 451 mil motos comercializadas ou um simplório crescimento de apenas 255%.

Tá bom?? Não! É crescimento geométrico!

Na continuidade do segundo mandato do “dom Perignon”, o setor continuou expandindo-se. Em 2002 (mais quatro anos), o setor chegou à marca de 770 mil motos vendidas, com crescimento acumulado em oito anos superior a 505%.

O setor de motocicletas, nos oito anos de FHC, quintuplicou de tamanho! O impacto que ele gerou para a economia é imensurável. O grande fator que o setor trouxe para o conceito de “inclusão social” ou “inclusão econômica” foi o desenvolvimento de uma das regiões mais isoladas do país, que é a Zona Franca de Manaus.

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Ok… a Zona Franca de Manaus existe desde o advento do videocassete da Sharp (que você, leitor mais “maduro” já teve – confessa!) mas foi somente com o setor automotivo – e é aqui que entra o pessoal de motocicletas -, que  teve o seu apogeu e, hoje vive a sua derrocada…

Lógico que todos os conceitos/modelos macroeconômicos que foram deixados, juntamente com o fato do ex-presidente (???) Lula não ter interferido na economia durante o seu primeiro e segundo mandato, ajudaram o setor a se expandir até 2011 (assim como toda a economia), onde tivemos o recorde de vendas de quase 2 milhões de motos.

Tivemos uma época dourada com quase DUAS DÉCADAS de crescimentos consecutivos (de dois dígitos) ao ano. E tudo começou a ruir em 2011. Foi quando:

“Nunca antes na história deste país” uma indústria foi desmontada tão rapidamente…

Todo um desenvolvimento feito na região norte do país, durante duas décadas de crescimento, com o surgimento de novas montadoras de motocicletas; surgimento das mais diversas fábricas de autopeças;  está indo “pras cucuias” desde 2011.  

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As vendas de motocicletas apontam isso. Estamos com queda nas vendas de 10,5%, ou vendendo volume próximo ao ano de 2006:

VENDAS DE MOTOS E MIL UNIDADES

ANO

1º Semestre

V%

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2006

598,7

2007

770,8

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28,75%

2008

951,3

23,41%

2009

765,7

-19,50%

2010

831,2

8,55%

2011

918,2

10,47%

2012

857,4

-6,62%

2013

748,3

-12,73%

2014

716,6

-4,23%

2015

641,7

-10,46%

 

Além da diminuição no volume de vendas, temos a perda em faturamento. No primeiro semestre deste ano, o setor vendeu volume próximo a R$ 5,1 bilhões, resultado 8,4% menor do que o ano de 2014 – R$ 5,56 bilhões.

É, também, o pior faturamento do setor desde 2009, quando iniciamos o monitoramento:

1º SEMESTRE

FARURAMENTO

V%

2009

R$ 5.380.497.784

2010

R$ 6.043.925.579

12,33%

2011

R$ 7.222.695.790

19,50%

2012

R$ 6.219.674.265

-13,89%

2013

R$ 5.899.492.141

-5,15%

2014

R$ 5.563.030.113

-5,70%

2015

R$ 5.095.004.468

-8,41%

 

Os últimos dados que temos, apontam para um total de fechamento de mais de 10 mil postos de trabalhos, na Zona Franca de Manaus, neste ano; além de ser a menor média de mão-de-obra empregada desde 2010.

Além disso, a Zona Franca era um polo exportador de motocicletas. Em 2013, foram mais de 105 mil motos exportadas; neste ano não vamos nem fazer a metade deste número!

E, recentemente tivemos mais notícias negativas do setor. Do ano passado, para este primeiro semestre, tivemos o encerramento de atividade de mais de 180 concessionárias de motocicletas. E existe uma boa parte das concessionárias que estão de portas abertas, devendo “horrores” para bancos ou sem mais linhas de crédito.

O setor de duas rodas, que foi para nós o símbolo máximo do plano Real ou de “inclusão econômica”, está definhando a cada ano que passa.

Sofre do descaso que é a falta de uma política industrial para o nosso país.

Raphael Galante Economista, atua no setor automotivo há mais de 20 anos e é sócio da Oikonomia Consultoria Automotiva

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