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Marcopolo: recuperação à vista

A empresa sofreu os impactos da pandemia e sua ação chegou a cair mais de 48% em relação ao preço máximo de 52 semanas. Mas os sinais de retomada já aparecem
Por  João Paulo Reis -
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Seguimos com nosso compromisso de trazer informações sobre as empresas que compõem nossa carteira e também sobre as consequências econômicas da pandemia.

O tema desta vez é a Marcopolo, empresa que completou 70 anos e é líder brasileira no setor de ônibus, além de uma das maiores fabricantes de carrocerias de ônibus do mundo.

Como aconteceu com diversas companhias do setor industrial, a Marcopolo sofreu os impactos da pandemia, com a queda drástica (-30%) na demanda pelos seus produtos.

No início deste ano, a Marcopolo vinha num ritmo forte de recuperação de receitas e margens, além da melhora de seus processos produtivos. Com a pandemia, essa melhora foi adiada momentaneamente.

Mas a boa notícia é que os períodos de julho e início de agosto apresentaram sinais relevantes do aumento do número de pedidos, e a retomada já se faz presente com a volta da produção em mais turnos e com mais colaboradores.

Olhando especificamente para cada segmento de negócios, verificamos que o volume de vendas dos ônibus urbanos vem se sobrepondo ao dos rodoviários, que ainda não se recuperaram, em função da queda das viagens turísticas.

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Um dos destaques dessa recuperação é o programa Caminhos da Escola, que costuma crescer em períodos eleitorais. E não está sendo diferente em 2020, com a contratação de 1.600 ônibus com previsão de entrega ainda neste ano.

Assim, em função do mix de vendas dos produtos, a receita do ano deverá ter uma queda, mas vale destacar uma melhora importante de margens, em decorrência de processos mais eficientes de produção.

Lembrando que a melhora das margens é resultado do trabalho que a Marcopolo realiza em seus processos desde 2016, com uma transformação radical em suas linhas de produção, cujo resultado gerou uma diminuição substancial no tempo de produção e nos custos.

A título exemplificativo, esse programa, baseado na filosofia lean, se sustenta no aumento de eficiência e melhora da ocupação do trabalho versus horas pagas, e no desenvolvimento dos colaboradores, alinhado à estratégia da empresa, com foco na excelência operacional e comercial, na inovação e na melhoria contínua.

A eficiência do processo é medida por meio da relação horas pagas/horas trabalhadas, que até 2016 ficava em torno de 55%, ou seja, de R$ 100 pagos, R$ 55 eram entregues como resultado do trabalho.

Com as melhorias nas linhas de produção, essa relação, que já havia subido para 60% antes da pandemia, hoje já está na casa dos 70% de eficiência.

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Esse processo ainda não foi concluído e deve seguir melhorando a produtividade, atingindo patamares maiores com um acompanhamento mais preciso da força de trabalho e de indicadores e metas.

Outro investimento crucial na melhora da produtividade foi a centralização da fabricação de componentes, além da reconstrução da planta de plásticos, em função de um incêndio.

Essa mudança gerou um ganho muito grande, já que todas as linhas agora precisam ser previamente planejadas antes de iniciarem seus processos, situação que não ocorria com o método quase artesanal de produção.

Além dessas iniciativas, a recente adequação de preços dos produtos no final do ano passado e novamente em junho deste ano, além do aumento de exportações, tem ajudado as margens da companhia, apesar da queda dos volumes vendidos.

Cabe o destaque para o volume exportado, que no segundo trimestre representou mais da metade da receita total e segue resiliente e com boas margens, apesar dos efeitos da pandemia. Destaque para o Chile, principal mercado a se recuperar.

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Quanto ao desenvolvimento de produtos, a geração 8 segue em stand by, já que os atuais modelos atendem bem os consumidores e estão passos à frente em relação à concorrência. Lembrando que os diferenciais da Marcopolo são a customização dos seus produtos e a alta especialização em engenharia.

Importante ressaltar que a sua principal concorrente, a Comil, está em recuperação judicial desde 2016, situação que limita sua capacidade de investir em engenharia e novos produtos.

Assim, a empresa consolidou sua liderança em todos os segmentos, inclusive de urbanos, além de uma ter solidez financeira invejável, com quase R$ 1 bilhão em caixa.

Outro ponto importante é a nova condição de saúde que exige um distanciamento social maior, situação que já aumentou os pedidos de ônibus dos municípios em junho.

Cidades que tiveram um impacto maior da pandemia aumentaram a compra de urbanos para evitar as lotações máximas, casos de Manaus, Recife e São Luís.

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Além disso, a companhia desenvolveu o protocolo Bio Safe. Hoje, 70% dos novos ônibus produzidos estão saindo de fábrica com algum item deste protocolo.

Tratam-se de ajustes adotados nas novas carrocerias para atender as exigências de bio-sanitização, que vão desde dispenser de álcool em gel e poltronas individuais separadas por cortinas até a utilização de uma nanotecnologia capaz de proteger tecidos e superfícies de até 99% de micro-organismos.

Por fim, como temos por filosofia investir focando no desenvolvimento dos negócios, e no longo prazo, mesmo cientes dos impactos que essa pandemia gerou nas atividades da empresa, entendemos que já há sinais de recuperação robusta nos pedidos feitos no terceiro trimestre, conforme demonstrado no corpo do texto.

Entendemos que esses efeitos positivos se refletirão nos trimestres subsequentes. Tudo indica que a empresa entrará no ano de 2021 produzindo no mesmo ritmo da pré-pandemia, e, assim, acreditamos que há uma grande chance de recuperação do preço da ação da Marcopolo: em relação ao preço máximo de 52 semanas (R$ 5,49), o papel chegou a cair mais de 48%.

Até mais!

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*Disclaimer: o fundo Venture Value FIA possui participação de 0,05% das ações da Marcopolo em circulação.

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João Paulo Reis É gestor do Venture Value FIA, sócio da Biguá Capital desde o seu surgimento em 2006, acumulando experiência na seleção e análise das empresas listadas na Bolsa

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