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Outra visão sobre o carro elétrico 2.0 (dois anos depois)

Brasil tem grande oportunidade no campo da mobilidade limpa, com o desenvolvimento de motores cada vez mais eficientes e movidos a biocombustíveis
Por  João Paulo Reis
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Dois anos após a publicação do post “Outra visão sobre o carro elétrico: Mahle Metal Leve opina”, neste mesmo blog Fora do Radar, voltamos a analisar a questão e acompanhar de perto como o tema se desenvolveu.

Naquela ocasião, mostramos que a tendência de redução do uso dos combustíveis fósseis e a diminuição das emissões de CO2 eram e continuam sendo o ponto principal da questão.

O tema da regionalização da solução, como comentado à época, vai se tornando cada vez mais realidade à medida que os países vão encontrando e definindo suas políticas ambientais, sem descartar os lados socioeconômicos.

Porém, tudo leva a crer que quem definirá o melhor modelo que atingirá as metas governamentais de forma mais eficiente é a indústria automobilística, junto com os seus consumidores.

A Mahle, empresa alemã de 100 anos e controladora da Mahle Metal Leve, adota uma estratégia dupla (dual strategy). Isso significa que entre seus produtos temos soluções que vão desde o carro 100% a combustão, movido por bicombustíveis, até o carro 100% elétrico, passando pela hibridização.

Por meio de grandes investimentos em pesquisa e desenvolvimento, a Mahle mundial, em parceria com suas filiais espalhadas pelo mundo, vem desenvolvendo soluções que atendam a todas as demandas regionais.

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Poucos sabem, mas a Mahle possui um centro de tecnologia no Brasil que é responsável pelo desenvolvimento de uma das soluções que provavelmente caberá aos mercados emergentes, como América Latina, África, Índia e Sudoeste da Ásia.

Estamos falando de quase metade da população mundial, hoje próxima dos 8 bilhões de habitantes.

É um mercado enorme, que não pode ser desprezado, e que tem soluções socioeconômicas diferentes da Europa, EUA e China.

Assim, escolhida qualquer uma das soluções, a Mahle estará presente, colocando diversos produtos e tecnologias à disposição da indústria e dos seus consumidores.

Em uma nova conversa com a Mahle, ficou evidente essa visão geopolítica das soluções. Também ficou mais que claro que o Brasil pode liderar, no mundo emergente, uma das soluções para a realidade desse contingente de países.

E qual seria essa solução regional?

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Pesquisas trazidas pela Mahle Brasil mostram que os motores atuais, movidos a etanol com os níveis de eficiência próximos a 40%, são uma realidade em termos de veículos de baixa emissão.

Eles também atingem níveis de emissões “poço à roda” (medida de emissão de gases do efeito estufa) de gramas de CO2 por km que só serão replicados na Europa em 2030.

Por meio do desenvolvimento de diversas tecnologias que vão chegando ao consumidor, como os motores tricilíndricos com injeção direta turbo alimentados e flex fuel, constata-se que o desenvolvimento desse tipo de tecnologia ainda deve crescer muito, podendo chegar aos 50% de eficiência.

A título ilustrativo desse potencial, um carro a combustão de combustíveis fósseis tem hoje, em média, 20% de eficiência energética. O que significa isso? Que, de R$ 100,00 de gasolina, R$ 80 são eliminados em forma de calor, sem gerar força motriz para o veículo.

É um número muito baixo e que perde feio para os veículos elétricos, que tem mais de 80% de eficiência do motor.

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Se entendermos que o etanol produz menos emissões de gases de efeito estufa, a conta de CO2 fecha quando pensamos como o etanol é produzido.

Sendo um combustível renovável, produzido a partir do plantio da cana de açúcar, chegamos à conta final quando pensamos que esse cultivo absorve carbono da atmosfera, compensando as emissões que ocorram a partir dos motores.

Esse conceito é chamado de “poço à roda”.

Ou seja, não podemos pensar em uma solução para a mobilidade sem pensar como o insumo é produzido, usado e descartado.

Assim, não basta a análise das emissões de CO2 do escapamento. É necessária a análise de toda a cadeia para a produção do veículo e da matriz energética que vai fornecer energia para esse veículo.

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Qualquer solução que não pense nesse fluxo está incompleta. É aí onde vemos uma grande oportunidade para o Brasil, com o desenvolvimento de motores cada vez mais eficientes e movidos a biocombustíveis.

E mais: é importante ressaltar que de nada adianta ter um carro elétrico com 0% de emissões se a matriz energética produzirá energia a partir de fontes sujas e poluentes.

Não queremos de forma alguma dizer que o Brasil e o mundo emergente não terão carros 100% elétricos, mas que essa será uma solução principalmente para grandes centros urbanos, onde a concentração de gases poluentes é maior e a erradicação dos mesmos nessas localidades trará um aumento da qualidade do ar e de vida dos seus habitantes.

Contudo, se a solução passar pelo etanol, e essa for mais barata e eficiente, podemos ter uma mudança de paradigma para o biocombustível desenvolvido e testado há mais de 40 anos no Brasil e que pode ser uma das grandes soluções para a mobilidade limpa do mundo.

Por fim, vamos acompanhando de perto o desenvolvimento e as tendências dos grandes atores desse mercado. Ao buscar informações, verifique quem realmente está com a “pele em jogo” e com presença mundial, e investindo pesado em pesquisa para descobrir o que o consumidor quer e no desenvolvimento de produtos que estes anseiam.

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Por isso, não deixe de analisar o que a Mahle Metal Leve diz.

João Paulo Reis É gestor do Venture Value FIA, sócio da Biguá Capital desde o seu surgimento em 2006, acumulando experiência na seleção e análise das empresas listadas na Bolsa

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