A pressa é inimiga da perfeição – e dos melhores retornos

Desempenho dos ativos em 2022 mostrou como é difícil a vida de quem busca ganhos de curto prazo e se preocupa mais com os ativos individuais do que com a composição da carteira. Um ano não é um horizonte capaz de filtrar a sorte e o acaso dos retornos de um bom portfólio
Por  Evandro Buccini -
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O desempenho dos ativos em 2022 mostrou como é difícil a vida das pessoas que buscam retornos de curto prazo e se preocupam mais com os ativos individuais da sua carteira do que com a composição dela. Um ano não é um horizonte de tempo capaz de filtrar a sorte e o acaso dos retornos obtidos por um bom processo de construção de portfólio.

Uma das fontes de volatilidade de curto prazo é a macroeconomia, sempre cheia de surpresas. No Brasil, o crescimento do PIB será maior do que o inicialmente esperado. Em janeiro de 2022, os economistas que contribuem para a pesquisa Focus previam 0,3% de variação do PIB no ano; em dezembro, projetavam mais de 3% de alta.

A reabertura da economia com a melhora da pandemia de Covid-19 e as transferências de renda mais do que compensaram a desaceleração contratada pelo aumento de juros.

Com isso, a inflação, que já vinha pressionada com os efeitos da invasão da Ucrânia pela Rússia, se espalhou para serviços e exigiu mais esforço monetário do Banco Central. A projeção de juros era de 11,5% no início de 2022 – ano que acabou com a Selic aos 13,75%.

No exterior, o principal tema também foi a inflação, que levou todos os bancos centrais dos países desenvolvidos a apertarem suas políticas, especialmente nos Estados Unidos, onde os juros de curto prazo subiram de virtualmente zero para mais de 4,25% ao ano.

No Brasil, nos acostumamos, com a Selic em apenas um dígito desde meados de 2017, mas em março de 2022 ela voltou para um patamar elevado. Nesse movimento, a maior parte dos ativos teve retorno menor do que essa que é considerada, na prática, a taxa livre de risco no Brasil. O CDI subiu mais de 12% no ano passado; o índice Ibovespa, apenas 4,7% e o Ifix, 2,22%. Como os fundos imobiliários pagam dividendos elevados, tirando os rendimentos, os preços do mercado secundário caíram no ano.

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Na renda fixa, os títulos indexados à inflação medidos pelo IMA-B renderam 5,4%, próximos do IPCA no ano, enquanto as debêntures indexadas ao CDI tiveram bom desempenho com alta de 14,3%.

No exterior, com o forte aumento de juros, o índice de ações mais conhecido – o S&P500 – caiu quase 20% e os títulos públicos interromperam sua longa tendência de valorização. A taxa de juros de dois anos passou de 0,7% para 4,3%, e a de dez anos, de 1,5% para 3,7%.

Uma regra de bolso do investidor americano para compor sua carteira de investimentos é manter 60% em ações e 40% em títulos do tesouro americano. Em 2023, esse portfolio teve um dos piores desempenhos dos últimos 100 anos. O investidor brasileiro que tem uma parcela do seu patrimônio alocada no exterior não teve o benefício da diversificação geográfica que esperava.

Perdas dessa magnitude não são evidências contra a diversificação. Um ano é um período curto e qualquer coisa pode acontecer. Os últimos anos foram extremamente positivos para os investidores nos ativos de risco globais – um ano ruim faz parte do caminho normal dos preços dos ativos. Em janelas mais longas, o S&P 500 tem um retorno superior a 7% ao ano nos últimos cinco anos. A carteira 60/40 fica com mais de 5% ao ano na mesma janela, e com menos volatilidade. É sempre importante olhar risco e retorno em conjunto.

Há outros investimentos, especialmente em fundos ditos alternativos, fora das classes tradicionais, que ofereceram bons retornos em 2022. No Brasil, os fundos multimercados tiveram um ano positivo, com menos correlação com os ativos locais e alta de 12,9%, de acordo com o indicador IHFA da Anbima. Nos Estados Unidos, os fundos sistemáticos que acompanham tendências e os que investem em fatores de risco foram destaques.

Fatores são uma forma de explicar os retornos dos ativos. A Bloomberg acompanha alguns dele para as ações americanas: o fator de valor subiu 67% em 12 meses e acabou com a queda que começou em 2017 e o momentum (comprar as ações que mais subiram e vender as que mais caíram) subiu 22%.

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No Brasil, os fatores de valor e momentum, calculados pelo Nefin, centro de estudo em finanças da USP, também tiveram bom desempenho, subindo 20% e 36% respectivamente.

Em 2023, a principal mensagem é pensar na composição da sua carteira antes de escolher o que comprar e vender. Além dos investimentos tradicionais, considerar opções de fundos alternativos cada vez mais acessíveis: fundos imobiliários, fundos de crédito em infraestrutura com benefícios tributários importantes, fundos sistemáticos.

No Brasil, a taxa de juros real deverá continuar elevada e deve haver boas oportunidades em renda fixa para todas os perfis de investidores. Os fundos de crédito privado, antigamente restritos a alternativas muito diluídas, com muito caixa, hoje já possuem opções em um amplo espectro de risco – desde crédito de baixo risco, conhecido como high grade, passando por high yield até chegar em recuperação de créditos inadimplidos ou special situations.

Em cada umas dessas classes há gestores com muita experiência para navegar o ambiente de crescimento econômico menor e juros mais alto em que o Brasil deve estar.

Evandro Buccini Sócio e diretor de gestão de crédito e multimercado da Rio Bravo

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