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Construindo uma carteira de investimentos diversificada no Brasil

O principal benefício da diversificação é a capacidade de reduzir a volatilidade para um determinado retorno esperado da carteira, ou seja, assumindo menos risco é possível obter a mesma expectativa de rentabilidade
Por  Evandro Buccini -
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

A elevada taxa de juros real no Brasil nas últimas décadas impediu a difusão da diversificação e de outras técnicas internacionalmente aceitas para a formação de carteira de investimentos no país. A ampla oferta de títulos públicos pós-fixados acostumou os investidores a altos retornos com baixo risco percebido. No entanto, a melhora institucional e fiscal no final da década de 1990 permitiu a redução das taxas de juros, abrindo espaço para o surgimento de novas classes de ativos com desempenho superior ao CDI.

Em todo o mundo, incluindo o Brasil, investidores profissionais reconhecem que a primeira e mais importante etapa do processo de gestão de investimentos, sempre de longo prazo, é a formulação da política de investimento. Essa política deve definir os objetivos de risco e retorno do investidor, levando em consideração as necessidades da instituição, juntamente com um profundo conhecimento dos ativos disponíveis e de suas correlações. A alocação dos investimentos em um portfólio decorre dessa política, geralmente aprovada em um comitê de investimentos.

Para manter o portfólio alinhado com a política de investimentos, investidores institucionais realizam ajustes periódicos nas ponderações dos ativos que o compõem. Essa estratégia de rebalanceamento também é recomendada para investidores individuais. Muitas vezes, esse processo envolve a venda de ativos em alta e a compra de ativos em baixa, sendo ideal que as regras sejam simples e mecânicas para evitar interferência emocional na alocação ótima.

Na maioria dos países, o portfólio resultante desse processo é diversificado em várias classes de ativos e geografias. No entanto, no Brasil, mesmo entre investidores institucionais, mais de 60% das alocações ainda estão concentradas em renda fixa, e praticamente 100% dos investimentos são feitos no próprio país.

O principal benefício da diversificação é a capacidade de reduzir a volatilidade para um determinado retorno esperado da carteira, ou seja, assumindo menos risco é possível obter a mesma expectativa de rentabilidade. Harry Markowitz chamou a diversificação de “o único almoço grátis em investimentos” devido a essa característica.

Nos Estados Unidos, a alocação de ativos na carteira é amplamente direcionada para a renda variável, devido ao longo histórico de preços das ações, que demonstra que, a longo prazo, o risco vale a pena. No entanto, no Brasil, a escolha entre os modelos de investimento diverge entre investidores institucionais e pessoas físicas. Os primeiros, como o CIO do endowment de Yale, David Swensen, defendem uma maior alocação em ativos de risco, investimentos ilíquidos e gestores ativos. Enquanto isso, os segundos priorizam o investimento em fundos passivos com custos extremamente baixos, seguindo a filosofia de John Bogle, fundador da Vanguard.

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Essa divisão reflete o fato de que, nos EUA, a minoria dos fundos ativos de ações supera seu benchmark, principalmente após o desconto das taxas de gestão. Os investidores institucionais, com equipes especializadas, têm mais chances de identificar os vencedores, mas isso é caro e requer um nível de sofisticação indisponível para pessoas físicas.

No Brasil, as taxas de juros extremamente elevadas desestimularam a busca por diversificação em várias classes de ativos e em outros países. Além disso, a existência de títulos pós-fixados, como as LFTs, permitiu que os investidores lucrassem com o aumento das taxas de juros. Essa combinação proporcionava altos retornos reais com pouco esforço e volatilidade, apesar da concentração no risco de crédito soberano do país.

O processo gradual de queda das taxas de juros, que ganhou força a partir de 2003, incentivou o surgimento de diversas opções de investimento comuns em outras partes do mundo, mas ainda recentes no Brasil, como títulos pré-fixados, fundos imobiliários e fundos multimercados. Esses ativos permitiram a criação de carteiras com rentabilidades superiores ao CDI desde 2005.

Mesmo com o cenário favorável da última década, os principais índices de ações tiveram desempenho inferior à renda fixa após julho de 1994. Isso se deve às elevadas taxas de juros no início do Plano Real, às crises de 2001 (racionamento de energia, default argentino e ataques terroristas nos EUA) e 2002 (eleição de Lula) e à política econômica adotada após 2009.

No entanto, os fundos ativos de ações tiveram melhor rentabilidade do que o índice Ibovespa durante o mesmo período, apesar do pequeno universo no início da amostra. Os resultados de um estudo detalhado desses fundos mostram que eles são caracterizados por alta volatilidade e mortalidade, mas no Brasil, eles superaram o desempenho do índice Ibovespa, que é o principal benchmark.

Portanto, atualmente é possível construir uma carteira de investimentos diversificada no Brasil. Apesar das diferenças de retorno entre ativos no Brasil e no exterior, é crucial alocar uma parte dos investimentos fora do país.

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Adivinhar qual ativo terá o melhor desempenho e tentar antecipar movimentos pode ser um tópico interessante para discussões entre amigos, mas isso não é investir. O investimento é uma atividade de longo prazo que começa com a formulação de uma política que define objetivos de risco e retorno. Sabendo que a maior parte dos retornos é determinada pela alocação em diferentes classes de ativos, a elaboração cuidadosa dessa política é crucial. A seleção de ativos individuais e a tentativa de antecipar movimentos de mercado contribuem apenas de forma limitada para os retornos e carregam riscos elevados.

O papel de um assessor ou planejador financeiro é ajudar o cliente a criar sua política de investimento e mantê-lo fiel a ela por meio de rebalanceamentos e revisões periódicas, embora não frequentes. Além disso, eles devem auxiliar na escolha dos melhores gestores em cada classe de ativo.

Evandro Buccini Sócio e diretor de gestão de Crédito e Multimercado da Rio Bravo

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