Abril não parecia ser um mês tão ruim, mas…

Parecia tudo certo para o Fed começar a cortar juros em breve; no Brasil, que é afetado pela decisões do BC americano (como todo o mundo), tivemos nossos próprios problemas
Por  Evandro Buccini -
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Que mês! Abril não parecia que seria um mês tão ruim para os ativos em todo o mundo. O otimismo dos primeiros meses do ano era fruto da expectativa de cortes de juros nos EUA. No Brasil, a inflação cai como em outros países e há surpresas positivas de crescimento, mas nada além disso. O otimismo no Brasil não tinha muito fundamento a não ser o cenário externo e a necessidade que nós, brasileiros, temos de achar que o futuro será melhor do que o passado.

Parecia tudo certo para o banco central dos Estados Unidos, o Fed, começar a cortar juros em breve. Apesar da economia forte, mas com pequenos sinais de desaceleração, a inflação estava caindo – um dos melhores cenários possíveis. Os dados de preços mais recentes, entretanto, mostraram que a inflação parou de cair, especialmente a parte menos volátil, a de serviços. O núcleo do PCE, medida perseguida pelo Fed, caiu rapidamente de quase 5% no começo de 2023 para 3% no final do ano e ainda está próxima desse patamar, em 2,8%. Agora, os preços dos títulos americanos indicam apenas um corte este ano, no segundo semestre. Em abril, o título de dez anos passou de 4,2% para 4,7%.

No Brasil, o governo achou que tinha ganho a confiança dos mercados, já que havia complacência com um plano fiscal pouco ambicioso, e decidiu mais uma vez rebaixar as projeções de resultado primário para 2025 e 2026 para zero e +0,25%, respectivamente. Esse resultado não inclui o pagamento de juros e é consideravelmente menor do que o necessário para a dívida pública não crescer[1]. As análises dos gastos do governo no ano passado mostram crescimento real de mais de 6%, mesmo sem considerar a elevada despesa com precatórios. Com o mercado já nervoso e os juros no exterior subindo, o impacto foi mais forte.

Os ativos brasileiros sofreram mais do que os pares em abril. O real foi a moeda que mais sofreu entre 23 países emergentes, caindo 3,45%. Olhando para o Ibovespa, parece que a bolsa não foi tão ruim, já que caiu 1,7%, enquanto o S&P500 caiu mais de 4%. Mas as ações da Petrobras subiram mais de 12% com a notícia que a empresa pagaria dividendos extraordinários (uma pequena crise completamente evitável).

O índice de small caps caiu 7,8% e reflete melhor o que houve com as empresas no mês. Os juros futuros americanos para 10 anos subiram quase 0,5 ponto percentual e passaram de 4,6%, e com isso os juros no Brasil também subiram: as NTN-Bs passaram de 6% com o IMA-B (índice que reflete o desempenho desses papéis) caindo 1,6%. Em meses assim, tudo cai, mas os multimercados não ofereceram nenhuma proteção, em média. O IHFA, índice que mede o desempenho de uma grande cesta desses fundos, caiu 1,42% no mês até 25 de abril, e agora cai também no ano.

Diante de tanta volatilidade e notícias ruins, o Banco Central do Brasil mudou o discurso e passou a indicar maior cuidado nas próximas decisões. A reunião do Copom de 8 de maio parecia definida, com um corte de 50bps, mas cortou apenas 25bps, em uma decisão não unânime que afetou os mercados ontem. Atualmente, os preços indicam no máximo mais uma redução da mesma magnitude, o que manteria a Selic acima de 10%.

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O que tudo isso significa para seus investimentos no futuro?

É esperado que em meses de grandes mudanças uma carteira diversificada não mantenha a correlação entre seus ativos conforme a média. Não adianta usar apenas um mês para dizer que diversificação não funciona. Pelo lado positivo, as alocações em crédito tiveram um bom desempenho em abril e devem continuar assim, multimercados de outras subclasses que não a macro não foram tão mal e a desvalorização do real ajuda a proteger os investimentos no exterior. Investir em títulos indexados em inflação no atual patamar tem sido uma boa alternativa, historicamente.

Nada é mais importante para a economia e os mercados do Brasil e do mundo do que os próximos acontecimentos nos EUA. Se a inflação americana não cair e os juros americanos se mantiverem altos — ou quem sabe subirem —, os ativos de risco no mundo sofrerão. No Brasil, não há muito a fazer para escapar dos movimentos da maré, mas uma política fiscal que, no mínimo, obedeça ao arcabouço e as metas aprovadas no início deste governo pode evitar que fiquemos, mais uma vez, no final da fila.

[1] Há muitos artigos sobre o assunto. Um deles, talvez um pouco técnico, é do IBRE da FGV: A mudança das metas e o desafio da sustentabilidade fiscal brasileira

Evandro Buccini Sócio e diretor de gestão de crédito e multimercado da Rio Bravo

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