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O “alto” preço dos carros e o jeitinho brasileiro!

O preço do carro brasileiro é caro? Agradeça ao "tributo nosso de cada dia". Mas apesar de tudo, a gente consegue sempre dar o nosso jeitinho.
Por  Raphael Galante
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Caro leitor; digníssima leitora: antes de colocar o dedo na ferida, devemos celebrar o renascimento das vendas de veículos! Neste primeiro quadrimestre do ano, vendemos mais de 800 mil carros, crescimento de quase 9% sobre o mesmo período do ano passado; quando tivemos 737 mil carros vendidos.

O mês de abril, por si só, foi fenomenal. Tivemos mais de 221 mil carros vendidos – aquela máxima de que o Brasil só começa depois do carnaval, foi verdadeira para o setor. Nos outros três meses (janeiro a março) o volume médio de vendas havia sido de 193 mil carros.

Mas o ponto que a gente vai abordar aqui é: quem está ditando esse crescimento, e por quê?

Uma afirmação que é mais que referendada por todos, é que os carros brasileiros são caros…  absurdamente caros! Mas isso é dito desde da época que o Collor tachou os nossos carros de carroças e abriu o mercado para a importação de veículos (OK, a primeira leva de carros importados foram de LADA, mas, aí, isso é outra história!).

E aí entra o famoso “jeitinho brasileiro” – ou a nossa clássica Lei de Gerson.

E a nossa pergunta de um milhão de dólares é: quem é o comprador de carros novos? O mercado apresenta crescimento de quase 9% mas, sabe aquelas vendas que a montadora faz diretamente ao cliente (as chamadas venda diretas)? Esse nicho registrou crescimento de 25% neste ano, contra uma retração de 1% nas vendas que você compra do estoque do concessionário.

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E quem são esses compradores? Já tratamos do assunto aqui. Boa parte são locadoras de veículos lá da “república de Belo Horizonte” (veja aqui). E o outro nicho é do povo “beneficiado” que compra os carros PCD ou PNE que, nos últimos três anos, virou uma indústria (veja aqui)!

O que estes dois nichos têm em comum? Em ambos eles estão usando as benesses tributárias existentes para comprar veículos com menor custo.

E aqui chegamos ao cerne do nosso problema!

A TRIBUTAÇÃO!

O complexo e o malfadado sistema tributário tira toda a competitividade e atratividade dos carros brasileiros. Sim… Lá em 1990, Collor já tinha razão! Os nossos carros são uma carroça!

Um dos trabalhos que o pessoal de montadora faz é “depenar” os seus carros de “plataforma global”, para se adequar à realidade do bolso brasileiro. Por exemplo, um Renault Captur PCD é muito diferente do Renault Captur lá das “zoropa”!

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A indústria de PCD cresceu de tal forma que você pode comprar um carro com quase 25% de desconto sobre o PPS; e esse mercado virou o “santo graal” para muitas montadoras.

E eles (os “beneficiados”) não fazem nada de errado! Só trabalham com aquilo que o estado diz: “Como eu sou incompetente o suficiente para prestar um serviço de locomoção para você – cidadão com necessidades especiais – eu te autorizo a comprar um carro com isenções”!

O pessoal da República de Belo Horizonte (Localiza; Movida e outras), idem. Se eu estou incorporando um ativo ao meu ramo de atividade, posso ter uma tributação diferente.

Para você entender melhor, caro leitor, da próxima vez que você for pegar o seu UBER ou 99, verifique a placa do carro. Se for de Belo Horizonte, o seu motorista aluga o carro (provavelmente) de uma das duas empresas. E por que o carro é emplacado em Belo Horizonte? Porque pessoas bobas como nós pagamos 4% de IPVA; as locadoras lá de Belzonte, só 1%.

E por quê raios o estagiário tá enchendo os pacovas com isso?

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Simples!

Em março, 47% de todos os carros vendidos foram através de faturamento direto realizado pela montadora. Seja ele para locadoras; PCD; taxistas; produtor rural entre outras.

Isso que dizer que 47% dos carros vendidos tiveram isenção tributária total ou parcialmente. Foram 102 mil carros vendidos através desta sistemática. 102 mil carros que não geraram quase nenhum ganho tributário (ICMS-IPI-IPVA) aos governos.

O conceito é: se eu tenho uma sistemática tributária onde eu renuncio a esses tributos para mais de 47% dos carros que vendo, ALGO TÁ MUITO ERRADO!

MAS MUITO ERRADO MESMO!!

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OBSERVAÇÃO: Se tiver alguém que é do governo lendo isso, POR FAVOR, não faça a saída lógica e clássica que vocês sempre fazem como: VAMOS REVOGAR TODOS OS BENEFÍCIOS!

Esta não é a saída!

O problema é que a carga tributária é tão asfixiante que gera esses disparates!

Vamos deixar aqueles cadeirantes – mais especificamente, aqueles que possuem um pouco mais de recursos – comprarem o seu veículo com isenção; afinal de contas eles (como qualquer ser vivo) não merecem encarar um metrô Sé no horário de pico…

Voltando ao foco central.

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A carga tributária do carro produzido no Brasil pode passar dos 30% (fácil), dependendo do modelo. Você ter um carro e saber que 30% do que você colocou lá na garagem foi para o governo, é de cortar os pulsos…

E aí, como somos brasileiros, demos o nosso jeitinho. O mercado de PCD virou uma indústria; o mercado de locação de veículos (graças ao UBER) idem e juntos representam quase 50% das vendas.

São 50% que compram carro com benefício fiscal. E os outros 50%?

Elementar, meu caro Watson!

Eles têm que pagar o imposto dele, e o dos outros. Afinal de contas, o apetite do Estado é insaciável!

O melhor de tudo foi que o governo conseguiu realizar um experimento cientifico perfeito para comprovar a nossa tese. Ele separou o mercado em dois grupos. No primeiro; onerou até a alma e, no segundo, desonerou.

O que tivemos no pessoal que compra o carro diretamente (seja quem for)? Vimos esse mercado crescer 25%. Já a outra leva (do pessoal normal) tivemos retração de 1%. Quanto mais desburocratizado; e livre, o mercado se adequará rapidamente à demanda.

E aqui estamos apenas apontando o problema no fim da cadeia. Se pegarmos toda ela, você consegue gerar uma eficiência absurda.

Soma-se a isso que parece que a ficha não caiu para eles (governo). Afinal de contas, eles praticam alguma renuncia fiscal para quase 50% dos carros que foram vendidos no ano!  

Uma adequação tributária para o setor é tão básica que uma possível perda (?????) pela redução dos tributos seria compensada facilmente pelo aumento da demanda. Afinal de contas, a indústria automotiva, que possui uma ociosidade de 40%, deve gastar um montão para manter esses elefantes branco.

Um aumento (qualquer que seja) na produção gerará um efeito cascata violento. Sabe, coisa básica, como aumento da produção e de EMPREGOS, já que temos uns 13 milhões por aí que já devem ter colocado todas as suas séries em dia…

E aí, o que achou? Dúvidas, me manda um e-mail aqui!

Ou me segue lá no Facebook, aqui!

=)

Raphael Galante Economista, atua no setor automotivo há mais de 20 anos e é sócio da Oikonomia Consultoria Automotiva

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