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A GRAMA DO VIZINHO NÃO É TÃO VERDE ASSIM…

Breve análise do desempenho das vendas de veículos no eixo Brasil/Argentina.
Por  Raphael Galante
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Além de estarmos sempre atentos para o que acontece no mercado automotivo brasileiro, monitoramos, também, o mercado de nossos “hermanos argentinos”.

Afinal de contas, para grande parte dos que vivem acima da linha do equador, Buenos Aires continua sendo (infelizmente) a capital do Brasil!

E aqui a gente começa a entender um pouco melhor a indústria automotiva. Para todas as OEM, quando há algum projeto de expansão fabril e/ou instalação de novas plantas, sempre consideram esses dois mercados, já que hoje o mercado Argentino é quase 1/3 do mercado brasileiro.

Encerrados  os primeiros nove meses do ano, temos um mercado em queda no Brasil, com perdas de 1,1%. Já no mercado dos nossos vizinhos, onde a grama é bem mais verde, registram crescimento nas vendas de 11,6%. E ao que tudo indica, o mercado Argentino baterá recorde histórico de vendas em 2013.

Até aqui, tudo bem… mas o que isso representa para as marcas instaladas? Muita coisa, onde podemos tirar grandes lições. Por exemplo, no mercado interno, as marcas francesas estão indo de mal a pior neste ano…

Renault (-6,7%), Citroën (-12,4%) e Peugeot (-21,7%) estão dentre as que tiveram maiores perdas. Em contrapartida, no mercado Argentino, as mesmas estão com crescimento de 10,4%, 41,1% e 23%, respectivamente. Ou seja, somando os dois mercados, todas as três marcas diminuíram os seus prejuízos. No somatório dos dois, ficamos assim: Renault (-0,7%), Citroën (+3,7%) e Peugeot (+2,4%), num mercado total com crescimento de 1,4%.

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Sendo assim, marcas como Peugeot e Citroën que estão com queda acentuada no Brasil, deverão encerrar este ano com crescimento total nas vendas impulsionadas pelo mercado argentino. Crescendo praticamente o dobro do mercado, e assim, as matrizes continuarão com seus sorrisos de orelha a orelha!

Até as marcas mais tradicionais estão com ganhos significativos. A Ford, por exemplo, com crescimento de 3,6% no mercado brasileiro está com índice de 17,6% no mercado Argentino e, no somatório dos dois, com superávit de 7%.

Até a marca chinesa Chery, que foi bem até meados de 2012, e hoje amarga perdas de -62% no mercado brasileiro está com crescimento de quase 31% no mercado Argentino.

Outro ponto interessante é que ainda existem algumas marcas que ainda não exploram o mercado argentino. Como dissemos, este mercado corresponde por quase 1/3 (28%) do mercado brasileiro. Só que para algumas marcas, este mercado é ainda virgem…

Para a Nissan e Kia, a Argentina corresponde a apenas 7% do mercado total. Para a Hyundai,  2,5% e, no caso da Mitsubishi, um pouquinho mais  que 1%.  Sinalizando assim que,  num momento de “entressafra brasileira”, essas marcas podem migrar para a casa ao lado e manter seus planos e rentabilidade.

A tabela abaixo mostra como anda o mercado Brasil/Argentina:

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MARCAS

VENDAS

VARIAÇÃO PERCENTUAL

JAN/SET-13

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JAN/SET-12

AR + BR

BRASIL

ARGENTINA

Fiat

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661.551

678.158

-2,45%

-5,76%

27,98%

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VW

621.761

696.414

-10,72%

-12,26%

-4,06%

GM

584.683

580.962

0,64%

0,58%

0,91%

Ford

339.352

317.026

7,04%

3,59%

17,58%

Renault

275.319

277.333

-0,73%

-6,73%

10,41%

Toyota

168.753

109.630

53,93%

72,79%

14,92%

Hyundai

155.749

69.621

123,71%

128,33%

25,35%

Peugeot

122.183

119.330

2,39%

-21,74%

23,04%

Honda

108.847

111.491

-2,37%

0,42%

-23,74%

Citroën

80.824

77.966

3,67%

-12,41%

41,13%

Nissan

63.107

88.059

-28,34%

-30,48%

22,41%

Mitsubishi

42.797

44.726

-4,31%

-4,48%

10,83%

Kia

23.599

33.894

-30,37%

-32,92%

33,13%

Chery

10.914

17.133

-36,30%

-62,08%

30,74%

Outros

101.445

92.087

10,16%

3,16%

37,45%

TOTAL

3.360.884

3.313.830

1,42%

-1,07%

11,62%

 

Mas, apesar de tudo, as coisas não são tão boas quanto parecem. A grama do vizinho não é exatamente mais verde que a nossa:  na verdade, eles estão pintando a grama de verde!

O crescimento nas vendas de veículos na Argentina não é motivado por “crescimento da atividade econômica” ou “melhora nos fundamentos macroeconômicas” ou “uma base solidificada na oferta de créditos” ou qualquer outro chavão que os economistas (e eu me incluo) gostam de usar.

De fato, o que gerou este crescimento nas vendas de quase 12% foi o fator CK1.

E, não estamos falando do perfume Calvin Klein, mas, sim de Cristina Kirchner, a primeira!

As vendas de veículos na argentina estão em descompasso devido aos “desequilíbrios dos fundamentos macroeconômicos”. Traduzindo: Oficialmente, o mercado argentino tem uma inflação na ordem de 10%. Já a inflação oficiosa está na casa dos 35%. Como os bancos pagam as aplicações baseando-se em taxas oficiais, não vale a pena manter dinheiro aplicado no banco. Além disso, sempre existiu o hábito do argentino de guardar dólares em casa e, aí,  a diferença do câmbio oficial para o paralelo é de quase 80%. Por fim, ainda existem os bancos com taxas de financiamento bem menores da taxa de inflação “oficiosa”.

Ou seja, existe uma série de muitos fatores que explicam esse crescimento nas vendas de veículos. Uma delas é, para proteger seu patrimônio, está adquirindo veículos, pois não acredita na estrutura política/econômica de seu país.

Em resumo, estão vivenciando  uma situação que nos acometeu ha quase 30 anos atrás…

Raphael Galante Economista, atua no setor automotivo há mais de 20 anos e é sócio da Oikonomia Consultoria Automotiva

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