Fundos com gestão ativa não batem ETFs, mostra professor de Harvard

Futurólogo das finanças prevê que os fundos de investimento passivos e os “robos-advisors” continuem a ganhar mercado nos EUA

João Sandrini

Publicidade

(SÃO PAULO) – Os fundos de investimento com gestão ativa são caros, não conseguem ser mais rentáveis que os principais indicadores de mercado e tendem a continuar perdendo espaço para produtos mais simples e baratos como os ETFs (fundos com cotas negociados em Bolsa e que seguem passivamente algum “benchmark” como o Ibovespa, por exemplo). Essa é a opinião do professor Andrei Shleifer, da Harvard University, que fez a palestra “Finanças no Século 21”, no Congresso da BM&FBovespa que aconteceu em Campos do Jordão (SP) no último sábado.

Tido como um dos maiores especialistas em sistema financeiro do mundo, Shleifer mostrou, durante sua apresentação, que os fundos com gestão ativa – ou seja, aqueles em que o gestor tem liberdade para escolher os papéis que julga serem os mais interessantes do mercado – não conseguem apresentar em longos períodos uma performance superior à dos fundos passivos – aqueles em que o gestor simplesmente segue um indicador de referência. Isso ao menos nos Estados Unidos.

Enquanto os fundos ativos que investem em grandes empresas americanas renderam 7,18% ao ano num período de 20 anos até 2011, o S&P 500, principal indicador de desempenho do mercado de ações americano, subiu 7,81% ao ano. Já os fundos americanos que investem em empresas com baixo valor de mercado registraram valorização média de 5,5% ao ano no mesmo período enquanto o MSCI Small Cap teve ganho de 6,98%. Por fim, os fundos de renda fixa também perderam para a média do mercado, com retorno médio de 5,69% ao ano, contra um rendimento anual de 6,50% do Barclays US Aggregate Bond Index.

Oferta Exclusiva para Novos Clientes

CDB 230% do CDI

Destrave o seu acesso ao investimento que rende mais que o dobro da poupança e ganhe um presente exclusivo do InfoMoney

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

Quando confrontados com esses dados, os gestores de fundos, segundo o professor de Harvard, geralmente se defendem dizendo que os clientes estão comprando não apenas performance como também confiança quando escolhem um gestor profissional para gerir o dinheiro. O fato, no entanto, é que há cada vez menos gente disposta a pagar mais por um gestão que, na média, apresenta resultados piores que os fundos passivos. Segundo Shleifer, entre 1960 e 2010 o percentual de fundos ativos em relação ao total da indústria de fundos americana caiu de 99,7% para 70,9%. O professor de Harvard acredita que os fundos passivos como ETFs devem continuar a ganhar mercado nos próximos anos porque são mais baratos e competitivos.

Independente da queda da participação de mercado, ele não acredita que a indústria de gestão de recursos possa desaparecer. Pelo contrário. Segundo Shleifer, a gestão de fundos representava só 0,99% do PIB americano em 1997 e já havia saltado para 2,43% do PIB em 2007. Ao mesmo tempo ele acredita que a tendência é que cada vez mais poupadores passem a buscar produtos de investimentos mais baratos para concentrar seus recursos.

Empresas de distribuição de investimentos caras também tendem a sofrer cada vez mais com o avanço de novas tecnologias, segundo o professor. Tradicionais corretoras americanas como a Charles Schwab já vem perdendo mercado para instituições que fazem a aconselhamento dos clientes em relação a seus investimentos por meio de algoritmos – os chamados “robos-advisors”. A explicação é que o serviço oferecido por empresas como a Wealthfront e a FutureAdvisor é mais barato, permite aplicações iniciais mínimas inferiores e usa melhor a tecnologia para reduzir os custos da operação – o que pode ser repassado aos clientes, com ganhos para todos.

Continua depois da publicidade

Crédito

Nos bancos, o professor de Harvard observa o mesmo fenômeno. Segundo ele, é muito caro administrar um banco nos EUA: geralmente as despesas operacionais somam o equivalente a 3% dos ativos da instituição ao ano. E os bancos não têm muitos ganhos de produtividade para aproveitar – tanto que esse percentual de 3% tem permanecido praticamente constante ao longo das últimas décadas. Isso abre espaço para pequenas empresas da Califórnia façam a intermediação de crédito entre consumidores – no modelo “peer to peer” (P2P). A Lending Club é a maior empresa desse ramo nos EUA e já vale US$ 5,4 bilhão na Bolsa – apesar de ter tido um prejuízo de US$ 33 milhões em 2014. “Tem muita gente achando que o crédito P2P vai ter um extraordinário crescimento nos próximos anos”, diz Shleifer.

Também nesse caso o professor não acha que será o fim dos bancos nos modelos atuais. O crescimento será liderado por empresas com custos operacionais menores, mas os líderes de mercado também terão muito espaço para continuar a se exandir. “As novas tecnologias não vão tomar o poder. Assim como as pessoas podem digitar quais sintomas têm no Google e ver quais remédios precisam tomar e ainda assim continuam indo ao médico, também as pessoas que precisam de crédito continuarão indo ao banco”, afirmou.

Continua depois da publicidade

Deixe seu e-mail abaixo e receba todas as atualizações deste blog

Leia também nesse blog:

Entre as aplicações de baixo risco, qual é a mais rentável?

Publicidade

Imóvel é sempre bom negócio? Faça o teste e veja que alugar deve ser melhor

O jeito mais prático de ganhar com a alta do dólar e das Bolsas dos EUA

Qual é a melhor forma de comprar dólar para viajar?

Continua depois da publicidade

Seu carro facilmente lhe custa R$ 2.500 mensais. Duvida?

Levy segue desinflando a bolha dos imóveis; e você acha que o preço vai subir?